segunda-feira, 9 de julho de 2007

Valor

Reflexão

“Mas os cuidados deste mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, entrando, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera.” Marcos 4.19

Valor

Os problemas e as situações dos outros podemos analisar. Dizer o que está certo, o que está errado. Selecionar quem merece ou não nosso respeito e consideração. Preocuparmo-nos, porque amamos a quem vemos sofrer.

Mas, o que sabemos realmente a respeito? Problemas dos outros, são sempre dos outros. Não quero incentivar o egoísmo, pelo contrário. Apenas afirmar uma coisa muito simples: não estamos no lugar do outro. Não lhes conhecemos os pensamentos, os sentimentos, as causas profundas e quem sabe pretéritas. Então qual a extensão do mal?

Vejamos André Luíz. Em um de seus livros, perguntou a seu instrutor porque não desfaziam logo o laço obsessivo que prendia duas criaturas: “Não podemos separar os dois irmãos sem seu mútuo consentimento. O passado que os prende não pode ser superado com violência”. Sexo e Destino por exemplo, é todo dedicado a solução de um desses problemas da alma. O livro inteiro para resolver o problema de uma moribunda que morre muito antes da última página? Não. Páginas e mais páginas para desatar eficazmente os equívocos de vários personagens ligados a ela. No plano espiritual, estes nossos amigos podem enxergar quem realmente somos, conhecer o teor de nossas ligações e a elevação de nossos sentimentos. Assim lamentam cada vez que nos afastamos deles a maior parte das vezes por nosso egoísmo e por nossa vaidade.

Problemas dos outros são sempre dos outros. Podemos nos colocar no lugar de alguém, contudo, nunca será a mesma coisa, embora consista em nobre exercício de compreensão. Aqui, onde estamos, não sabemos o que é ser um hebreu 5.000 anos antes de Cristo. O que é fazer parte de um povo escravizado. Não sabemos o que é esperar o príncipe dos exércitos para salvar seu povo e ter que aceitar que o salvador é um carpinteiro, em pleno domínio romano. Não sabemos o que é ser um suserano criado para julgar-se superior aos servos. Nem o que é ser burguês condenado pela Igreja por lucrar excessivamente. Quem sabe ter uma fogueira à sua espera porque descobriu a órbita terrestre em torno do sol? Ser sacerdote no séc.XVI, constantemente “convidado” a ceder a arrastamentos inferiores ou resistir e seguir os ensinamentos do Cristo.

Orgulho, egoísmo, vaidade, crueldade são defeitos, não valores. Valores são mais parecidos com prioridades. Não são sinônimos, contudo. O valor está ligado aos objetivos que nos regem a vida e a ação. É mais estável que a prioridade, que costumamos mudar periodicamente. A vida é feita de prioridades, dizemos. Pois os valores são a chave dessas prioridades. O valor é pessoal, social, histórico. Na maioria das vezes os valores estão ocultos pelo pouco conhecimento que temos de nossas próprias motivações. Pensando bem, se uma de nossas metas é o autoconhecimeto: O que valorizamos?

O valor é uma espécie de explicação que diz porque algo é nosso tesouro. Tesouro: algo muito importante para nós. Uma coisa pela qual somos capazes de sacrificar outra ou muitas outras. É uma questão de intensidade. Talvez por essa sutileza o valor esteja mais implícito do que explícito. Por trás dele pode estar a virtude ou o equívoco. Valores são combinações dos fatores fundamentais da dor ou da felicidade humana. O valor é um julgamento. E julgar o outro é dizer que os seus valores estão errados, os meus certos.

Logo, identificar o valor não se trata de fazer um juízo, dizendo que uma coisa é negativa porque não é a que julgamos positiva. Desculpem, pimenta nos olhos dos outros, é refresco, e muitas vezes, também é preconceito. A análise do valor não está aí, está na ordem do significado, entre a causa e o efeito.

Quem valoriza o eu crê que querer para si acima dos outros é a melhor forma de satisfazer seus desejos. Alguém que valoriza a ordem crê que a submissão é a melhor forma de mantê-la. Quem valoriza o paraíso crê que o sofrimento e a morte são os melhores meios de alcançá-lo. Quem valoriza meios e fins crê que conciliar o como e o porque é a melhor forma de cumpri-los. Quem valoriza a vida, quer preservá-la. E o mesmo valor muda conforme o tempo, o lugar e valores surgem conforme as épocas.

“Os valores são(...)representações mentais, representações do que é bom, desejável, ideal, de como as coisas deveriam ser ou procurar ser; são preferências, inclinações, disposições para um estado considerado desejável.

São nossos valores, mais que nossos conhecimentos, que fazem de nós o que somos. Pois nossos conhecimentos, quer sejam fatuais, conceituais ou teóricos, ganham seu sentido através de nossos valores(...).”1

Valores têm conseqüências morais. [1]

Fernanda Flávia Martins Ferreira

Grupo Espírita Irmã Ló,

11 de Abril de 2003.

Palestra Leis Morais

Progresso, Sociedade, Destruição e Conservação



1- LAVILLE, Christian & DIONNE, Jean. A Construção do Saber. Editora UFMG e ArTmed. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Adaptação de Lana Mara Siman. Belo Horizonte- MG, 1999.

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