segunda-feira, 9 de julho de 2007

Número 1 Sociologando

Voluntário e ideologia

A primeira noção que a experiência me chama a discutir aqui é a de trabalho voluntário. A ela darei as dimensões da experiência pessoal, partindo de uma definição básica: trabalho feito sem remuneração.

O problema fundamental é que sem remuneração não significa sem responsabilidade. E o fundo desse desvio é talvez a falta de um ideal compatível ou de crença naquilo que fazemos. Ou então a idéia de que não é preciso esforçar-se. Haverá sempre quem faça isso no meu lugar. De modo que faço o trabalho por mim, não pelos outros, posso fazer a hora que “puder”. Muitas vezes chamamos de posso simplesmente o momento em que queremos. Velha frase: a vida é feita de prioridades. Ser voluntário pode ser um apêndice mas que ao aceitá-lo estejamos realmente dispostos a ele. Quem faz as coisas pela metade acaba sendo uma metade humana...

Convenhamos, nenhuma causa vai para frente desse jeito. Ideologia não é fazer algo para mostrar aos outros que somos bonzinhos. Ideologia é ter convicção de que podemos mudar para um pouquinho melhor o mundo com aquilo que fazemos, dentro do que acreditamos ser realmente bom para este mundo. Como adotar um ideal ao abraçar uma tarefa se nem sabemos qual é? Seria preciso antes estabelecer qual é a importância e o propósito de uma organização e fazer com que todos os envolvidos ou dispostos ao envolvimento estejam cientes desse propósito.

“À vida não basta ser vivida, para ser intensa, tem que ser sonhada”. Já disse Mário Quintana.

Em sociologia vivemos discutindo a ideologia. Como um PROBLEMA. O envolvimento é colocado por muito como um grande fantasma das ciências humanas. Contudo ele é necessário e inevitável em alguns momentos do trabalho. Na escolha de um tema e de um objeto de pesquisa por exemplo. Nas perguntas que fazemos através das teorias, há muito de nossa vivência pessoal. No momento de “ir à campo” ou melhor, de verificar se as coisas são como pensamos (hipóteses) precisamos estar atentos para registrar o máximos de detalhes. Abertos e humildes diante do fato de que podemos estar enganados. No fim, estar enganado em maior o menor grau ou ver que o fenômeno é mais complexo do que esperávamos é mais prazeroso do que a arrogante frase: “Viu, não disse?” Pelo menos no conceito que possuo de cientista é este o lugar da descoberta. Não adianta dizer para a verdade “eu já sabia”, ela existe independente de você.

Ao contrário do campo acadêmico a ideologia na religião é a princípio boa. Porém, assim como na ciência chegam sempre os momentos em que nossa ideologia será testada em suas compatibilidades com o meio social. Como o socialismo real. De vez em quando após percorrermos um caminho em determinado tempo “reajustar a visão e procurar o rumo certo”. Avaliar, questionar o ideal. Ele é a base mas não precisa ser o mesmo para sempre. As coisas mudam.

Assim como na ciência e no caráter científico do espiritismo o distanciamento é um instância reguladora de nossas ações. Na qual a imparcialidade é o instrumento para responder a seguinte pergunta: onde estamos indo? Afinal, onde queremos chegar com isso tudo? Não podemos nos esquecer da base, são as peças fundamentais do jogo. De seu movimento, depende o progresso.

Fernanda Flávia

19/10/2003

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