sábado, 10 de fevereiro de 2018

Não é "A Questão"


Penso que nos deparamos com uma contradição fundamental entre a radicalidade revolucionária e o chamado “reformismo”, entre as grandes mudanças/ações e as pequenas mudanças/ações. Para se opor ao conúbio com o Capital que o reformismo representa e representou, há uma recusa a qualquer coisa que se pareça ou se aproxime da lógica do “vamos mudando aos poucos”. Contudo, a história, as mudanças políticas e sociais têm sido feitas há milênios com pequenas e grandes ações. Ou seja, e possível atuar pela mudança política com pequenas ações sem renunciar a radicalidade revolucionária das grandes ações. Uma coisa não exclui a outra do ponto de vista lógico, ainda que exista uma oposição política histórica dentro da esquerda a esse respeito - sobre os meios de se alcançar o socialismo e depois chegar ao utópico comunismo (sim, hoje, na época do “Capetalismo” Selvagem, e o que penso do Comunismo).

No entanto, e preciso dizer, antes que o Estado seja socialista, e preciso que a sociedade seja. Foi essa uma das conclusões de Tocqueville sobre a democracia. E não há como alcançar uma mudança ideológica radical sem conquistas gradativas, sem fazer com que as pessoas abandonem o individualismo egoista convictas de que isso trará um mundo melhor. E solidariedade, percepção de que o bem-estar coletivo está inextricavelmente ligado ao individual, não vem de doutrinação política ou religiosa forçada na fila da sopa (ou da cesta básica), vem da pratica verdadeira da Fraternidade em ações fraternas com quem deseja ouvir, dar e receber. Vem de mudar a vida de quem tem nada ou muito pouco e de saber que a diferença nesta vida humana tem tanto valor quanto a revolução política. E, assim, compreender que a revolução de uma alma faz diferença, pois é um ponto de Luz na trama revolucionária do Todo. Pra mim, cada pessoa que deixa de girar em torno do próprio umbigo e um passo para o socialismo, ou um passo para o almejado equilíbrio entre indivíduo e sociedade, ou entre o Eu e o Outro.

E um dos problemas da esquerda e este: mania de grandeza ou mediocridade, sem tons de cinza. Uma perspectiva limitada ao contexto, ao diálogo longo demais entre iguais ou a briga longa demais entre quem não se entende sobre pequenas coisas para se autoproclamar dono da “Verdade”. Só porque, o EGO, quer ter sempre razão. Eu não sei afinal como a Esquerda pretende alcançar a revolução. Do jeito acima não vai ser! Grandes mudanças são resultado de pequenas mudanças, fruto de um dia após o outro. Das longas horas tentando e chafurdando na lama da ignorância, atolado no pântano, onde finalmente nasce o Lótus.

E afinal, ser contra a cumplicidade com o Capital, ser contra o reformismo, termina por nos fazer inertes no presente quanto a quem tem fome e outras necessidades, porque ajudar e “cumplicidade com o Capital”, caridade humilhante, “assistencialismo”, algo para satisfazer a consciência individual, sem repercussão política para o partido... ???? Ora, a pobreza, a miséria, a fome, a falta de casa, educação, saúde e oportunidades são produtos do Capital. Cumplicidade e não fazer nada! Cumplicidade e abdicar da revolução para satisfazer a burguesia.

Abdicar da revolução não é só ser reformista, e deixar de agir pela revolução diária.