segunda-feira, 9 de julho de 2007

Galinha não come alpiste

Amiga, você não vai acreditar, porém (esse negócio de não ficar repetindo palavra...) acordei no meio da madrugada pensando no que você me disse. Achei que era uma “expressão idiomática”. Já tinha pensado antes e várias vezes em perguntar a você com toda simplicidade e humildade: o que é surrealismo?

Mas até o momento não ocorreu de concretizar o ato então essa frase ficou como aquela que só entendemos pelo contexto e que tem uma origem cultural que surgiu contextualmente e que passa a fazer sentido só porque todo mundo entende e só quem tá por fora é que fica boiando na minha antropologia lingüística barata. Tipo “it’s a piece of cake” em inglês ou “mamão com açúcar” em português como já tinha comentado com você sobre “pé d’água” significar chuva de molhar os ossos e não ter sentido já que água não tem pé. Vai ver a causa é mineiro detestar molhar os pés na chuva.

É por isso que eu acho que a Amaranta não se casou com Pietro Crespi por puro orgulho, no mínimo ou por vingança no máximo. Não se casou com Gerineldo Márquez porque não o amava para isso e não transou com Aureliano José devido a muita dignidade e honestidade de tia. Gosto mais e prefiro ela a Fernanda Del Carpio que com sua camisola (dotada de graciosa fenda intermediando lá) enorme, maior que o pecado original, não abriu mão de sua suposta fidelidade religiosa em favor do marido. Penso que se o amasse verdadeiramente (no meu padrão de amar) teria pecado pelo marido, rivalizando Pietra Cotera na cama para disputar com ela o amor de Aureliano José. Mostrando assim que, ainda na batalha perdida, podia ser tão mulher quanto ela. Acrescente-se o fato de não ter filhos a amante, mas gerar uma fertilidade absurda (surreal?) nos animais que tocava ou se aproximava. Enfim, aprecio mais Amaranta principalmente por tê-la em conta da mais alta sinceridade. Mas Fernanda, como disse o García, estava perdida para o mundo desde a infância. Educada na ilusão da riqueza então, a ela faltava quase por completo um milésimo do senso prático de Úrsula Buendía. Ou vivia no limite do desvario –adequada como um pombo e absoluta como o espírito-já que Remedios, a bela, cristamente, tinha a candura intocável dada por Deus e a beleza ardente ofertada pelo diabo. Ou “perdida para o mundo” (Fernanda) na cabeça do autor é sinônimo de “não era deste mundo” (Remedios, a bela)? Enfim, não há porque condenar uma ou outra visto que minha atitude, neste momento é pura interpretação (cientistas sociais não me matem, filósofos não me adorem). É assim, só para mostrar que há momentos nos quais “interpretação” se define pelo: não consigo evitar por mania de pensar. Com o motivo de que a moça desprovida de minha simpatia atende pela alcunha de –Fernanda. Tô aprendendo demais com cê minina (mulher), mulher (minina)...

Sei que o que, se Gabriel García Márquez é surrealismo e você é surreal, estou fazendo é mais uma das minhas (dupla) loucurinhas inofensivas contra você e o representante do surrealismo, mas é que “galinha não come alpiste”. Se a mulher que quer dar não encontra em seu caminho homem que receba e imaginou a cena mais de cem vezes com mais de dez homens (e este é seu modo de masturbação imaginária com efeitos físicos nada mediúnicos) –e permanece a indecência de não lhe aparecer homem apesar de ser bonita, inteligente, interessante e sensual (ouvi dizer que “amor não exige currículo”, que asneira!):

  • A questão é que se no surrealismo só “soldado é que faz sentido”, não faz sentido que só a mulher que literalmente dormiu (francamente, bem acordada) com muitos homens seja galinha, existindo aquela que na imaginação, já dormiu com todos. É galinha, mas não come alpiste!

Jean Bizzy a seu dispor,

minha amiga é de Sete Lagoas e atende por Michele Edwirges

E ela me falou o ditado errado, na verdade é “vaca não come alpiste”.

Fui informada também de que Gabriel García Marquez não é surrealismo, é realismo fantástico...

29/03/05

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