segunda-feira, 9 de julho de 2007

2) Exemplifique

Nasce Aruak José Raimundo cujo nome a mãe viu numa reportagem de índio que pegou por acidente enquanto tentava descobrir o canal em que passava a novela predileta. Aruak é de família paupérrima do bairro Xuxulândia cujo nome não homenageia ninguém.
O país de Aruak é a “Pedra no caminho que ninguém nota”. Seu contexto socioeconômico e cultural é basicamente igualzinho ao Brasil... A cidade de Aruak é “Infelizmente todos aqui”.
A educação de Aruak o colocou em seu lugar de maioria que pode nada. Então ele cresceu aprendendo o ofício de pedreiro que o pai dizia já ser grande privilégio. Fez o primário, mas com esse negócio de “escola burral” a mãe incentivou o menino a voltar pra sala de aula querendo ver na mão dele um diploma: “- Imagini sô, meu minino, cum diploma di primeiro grau completo! o pessoar aqui do Xuxu vai ficá cum inveja...” Então Aruak, exceção a regra, continuou os estudos apadrinhado pelo dono da mercearia em que trabalhava de entregador. Seu habitus caracterizava-se assim por uma posição no espaço social que o coagiu a trabalhar desde cedo. Foi educado na religião dos pais, para a honestidade do trabalho e o prazer do descanso. Jogar pelada com os garotos da rua, bolinha de gude, desenho animado e (quando ganhava), ler um gibi. Arroz com feijão e macarrão no almoço, caldo de osso com batata na janta e pão com manteiga e café da manhã. Carne e leite só no fim de semana. “- Pudia sê pió”, dizia a mãe sempre resignada, quando o irmão caçula reclamava. Irmãos. Seis irmãos. Ele o mais velho. Paul Pereira queria ser jogador de futebol: pra casar com a Brookyceira, uma ruiva fenomenal. Na artilharia uma máquina, no gol um frango...
Mas um dia, Aruak e Paul (o segundo mano) ao invés de gibi, ganharam do padeiro bonachão uma revista, “Preste atenção”. O velho trocou as sacolas e os rapazes (pois cresceram) nem notaram. Preste atenção, tinha uma reportagem que falava da reforma atribulada e do neolibertinismo. Paul Pereira e Aruak José Raimundo ficaram, sem saber, indignados. E passaram a se interessar por aquele passatempo diferente de tudo que fizeram na vida. Enjoados da turma da rua gastavam o dinheiro das chuteiras com as revistas, quando este não ia para um sorvete aqui e acolá. Não queriam mais gibis, davam aula particular. Conseguiram bolsa de estudos integral no colégio “Cagaldo”. Começaram a concorrer com os “muichatinhos” na preferência dos professores. Seu capital simbólico acumulado nestes esforços atípicos seria testado no “rito de passagem”. Morar no Xuxulândia? Nem pensar! Assim que conseguissem emprego iriam alugar um apertamento. Mas antes, conseguir passar no rito de passagem. E conseguiram...
Com o capital novamente acumulado do diploma Aruak e Paul envolviam-se em lutas simbólicas subseqüentes por posições de status e prestígio no mundo social a que pertenciam.
Até que cansados de tanta “luta” tiraram férias e foram para o “país do sol onde chove semanas a fio” (Pode?). No País do sol entraram em profunda meditação e inspirados pelo “boivana” construíram um novo sistema político para o “Pedra no caminho que ninguém nota”. Cooptariam seus adeptos entre os alunos do “curtinho” e os professores da “unieudei”.
Anos a fio o partido sóchuvs (Partido do sol acentuado com humildes veteranos sarados) lutou para adquirir reconhecimento na Unieudei e na cidade, “Infelizmente”. O campo estava cheio de práticas divergentes: os membros do partido usavam shorts no inverno e touca no verão. A assembléia todos assistiam fazendo o exercício físico predileto. Em tese, pois quando o caixa do sóchuvs estava em baixa, a “semblemia” não podia ser renovada e todos tinham que se contentar com as bicicletas ergométricas que são mais “barapinas” mesmo. No ano de 4mil banguela e alguma coisa, o país “Pedra no caminho que ninguém nota” deixou de ser pedra e passou a cascalho em erosão rítmica. A coleira apertada de Encavalado, o monstrinho da economia, foi a gota d’ água para sua queda. Rochadinho, Bachado e Chocato uma seqüência traumática para uma terra arrasada. O people vai às ruas põe fogo no chafariz e consegue as “direitas já” cansados da desculpa de que o tempo do monstrinho e sua sela não tinha acabado... Aruak e Paul lideram o levante das canelas.
Nas eleições o país se curva ao sóchuvs e Aruak é “prescemdente”. Seu primeiro ato, ao tomar o poder com seu vice (P.P, claro...), é mudar o nome da nação para “Pedra no sapato do Bushaden”.

Jean Bizzy*

Baseado em fatos reais...
12/03/2002

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