segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Porta do Inferno dá intervalo para o Inverno


E ao ler Capitães da Areia vem aquela parte em que emerge, tal qual flor delicada, o amor juvenil de Dora e Pedro Bala. E lembro dos meus 13 anos. Aquela mesma sensação boa o coração disparando ao olhar para um rapaz, sem saber direito o que estava acontecendo. Tenho um amor de menina sonhadora que não cresce e não vai crescer nunca, nem que eu viva cem anos. E a menina está lá presa, o risco das unhas na parede, o sangue pintando o chão. No fundo de um calabouço onde jaz unicamente ela e seu grito nas galerias. Um calabouço frio, sombrio e pantanoso. Sequer uma janela pra ver a lua, ou a esperança.

Seus trajes são farrapos da luta pela liberdade e de tanto querer sair, agora senta-se conformada, num canto escuro. Às vezes vinha uma vela, uma claridade que ela sentia, caminharia para ela e tiraria do cativeiro o pássaro sem asas, desamarrando as correntes do seu bem-querer. E partindo ela esperneava, batia o caneco de esmola pra que não fosse. E apareciam também umas tochas primitivas ao lado, uns avisos que ela não costumava ler.

Quando o olhar cansou da mesma direção começou a vê-las, admira-las, mas não conseguiu ir até elas, tomada pelo desânimo de não saber o que fazer. Onde o combustível daquelas tochas?

Tomada pela ira dos últimos instantes lutou mais um pouco, porém, desesperadamente e com a força dos desesperados. E roupa que era branca, sujou-se. E as pernas que eram frágeis, rasgaram-se. Os pés eram quase totalmente espinhos, no entanto, não doíam mais.

E as velas não apareciam e as tochas desapareceram. No fundo do calabouço sem janela para a lua ou a esperança, onde nem mesmo o eco passa mais pra fazer uma visita, está o amor de menina sonhadora que não vai crescer e também, nunca morrerá. Sentada cansada num canto escuro do calabouço frio, sombrio e pantanoso.

Fernanda Ninguém Qualquer

18/12/2005

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