segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Meu destino é ser medíocre

Você é daquele tipo de pessoa que nas ocasiões fundamentais para a definição de um momento ou de sua trajetória faz ou diz sempre a última coisa aceitável ao contexto?
Você é do tipo que sabe o que quer da porta da sua casa pra dentro?
E de repente, vamos ver no que vai dar?
Você tem uma espécie de monstrinho interior que não te deixa parar na mesma coisa por mais de 2 minutos?
Seu pai já te disse que você não é nada e você concordou?
Você é daqueles que sempre acha que tudo vai dar certo e que se você não é boa (om) hoje, será um dia?

Se a resposta é sim para todas as questões, CUIDADO. Seu destino é ser medíocre. Porque estes são sintomas do evidentemente imprestável. O evidentemente imprestável é aquele que vive se enganando por uma fé incondicional e exatamente inabalável não em si mesmo, mas na própria capacidade humana.
E é evidentemente imprestável o resultado esperado mediante diversos testes estatísticos de ensaio e erro: minha vida é uma comédia de erros propositais e acertos acidentais. Eis o meu achado de hoje. Mas o prêmio, ah! Essa a melhor parte em coroação do orgulho: o mamão. Abandonado e em fuga desde quarta-feira quando pensei pela primeira vez em comê-lo.
Meu pai disse: “Você não é nada minha filha, você – não – é – ninguém”. Cinco anos depois... Saio do XII Congresso brasileiro de Sociologia, feliz e contente da vida. “Nossa, quanta coisa aprendi, esse negócio de grupo focal dá muito trabalho mas o que eu vi até agora já ajuda bastante. Vou mandar um e-mail pra Paula pedindo o material. Pôxa, que pena que eu não achei o livro...” Mentira, não é nada disso que eu tava pensando. Contudo enfim, chego no ponto de ônibus e vejo dois colegas de curso. Quis logo me aproximar para estabelecer conversa amistosa. Achei inadequado, pois não tenho muito contato com eles. No entanto, o rapaz me viu, me cumprimentou, aí aproveitei para chegar. “Deixa eu contar a má-nota que eu dei na apresentação do cartaz... O avaliador me perguntou o que eu esperava deste trabalho para o futuro e eu respondi: ‘Eu espero acabar!’. E olha eu tava indo tão bem, na última pergunta eu dou uma dessas.” Então este mesmo rapaz diz: “O seu não ganhou não.” eu respondi “Com certeza que não!” “Ganhou o da Luciana né?” Virando para a moça, “É o da Luciana ganhou para publicação, o da Kelly ganhou terceiro lugar”. “O da Luciana Colega?”, perguntei, “É, o da Luciana”.
Eu nem fui na premiação. Aliás, só fiquei sabendo dela um dia depois após ter colocado o cartaz para exposição e já estava com o avaliador quase ali. Eu já sabia que não ia ganhar nada, eu já sabia que não merecia ganhar nada. Com tantos trabalhos sensacionais quem é que ia ser louco de achar importante uma “coisa” que ta lá mas só eu e às vezes nem eu entendo?! Simplesmente a verdade jogada em rosto dói mais que a verdade sabida. Porque o fracasso é público. Muito parecida com a história da fã que se destaca da multidão e dá com a cara do seu ídolo. Não é em foto, é ao vivo. Assim é o prêmio. Luzes, câmeras e ação que já foi feita estampada num objeto qualquer o tal do mérito. Ganha quem tem talento. Ué, nem sempre. Não importa, o mérito pertence a quem uma parte da sociedade elege naquele momento e outra legitima. O resto é inveja, papo de perdedor despeitado.

Tem aquela tendência de intuição lógica máxima e objetividade zero? Uma que por acaso te faz quanto mais pensar mais avacalhar ou acertar de primeira sem conseguir dizer mais nada? Pois bem, vamos ao óbvio. Isso é absolutamente normal e evidentemente imprestável.
Você quer ser alguma coisa (BOA)? Pois é, eu tamém.
Eu não sirvo pra isso. Isso depois de cinco anos, igual àquela mulher da novela. Oito anos achando que ia se casar com um homem. Oito anos que ela gastou com um homem que gastou oito anos enrolando-a. A temática não é idêntica, porém o escopo... Eu não sirvo pra isso. Repito. Repito muito mais e diante do espelho: “Continuo me enganando”.

Meus amigos, minhas amigas, declaro-vos: Meu destino é ser medíocre. E salve a obscuridade!

Agora vou comer o mamão abandonado, em fuga e premiado.

Fernanda Ninguém Qualquer
03/06/05

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