segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Lei de Sociedade

Definição de Sociedade:
Comunidades humanas cujas conquistas se sobressaem às do mundo exclusivamente natural e se expressam por pensamentos, palavras e ações resultantes da percepção que o indivíduo constrói de si mesmo através do outro. As aquisições, méritos ou deméritos sociais podem ser observados pela história, constituída por contingências imprevistas para os atores, mas que resulta da interação dos livres-arbítrios individuais. A história, em conseqüência da própria Lei de Progresso, contém Presente, passado e futuro. Por isso, quando analisamos uma sociedade, somos capazes de perceber nela estruturas e instituições, sejam religiosas, políticas, científicas, etc., que são herança de seu passado e que, portanto, influenciam de modo decisivo, porém, não determinante, aqueles que nascem e crescem num dado momento. No passado, residem as causas, o irrevogável, no presente, as mudanças, o potencial, no futuro, as conseqüências, o progresso.

O homem como ser social- Indivíduo e sociedade
+ Necessidade da vida social

Indivíduo e Sociedade:
Norbert Elias, um sociólogo histórico, em seu livro O Processo Civilizador demonstrou que a divisão indivíduo / sociedade decorreu de um processo histórico, localizado no tempo. E foi justamente esta divisão que permitiu o aparecimento da sociologia como disciplina científica.
A explicação que fortalece seu argumento pode ser buscada em Max Weber, em seu livro Economia e Sociedade, quando este descreve a gênese das cidades européias desde a Idade Média, distinguindo seus aspectos políticos de modo decisivo para a história do Ocidente. Isto porque, foram nas cidades européias que surgiu o indivíduo moderno, um ser autônomo, livre, senhor de seu próprio destino, um ser humano igual a qualquer outro. Isto porque, antes, éramos somente pessoas, identificadas pela origem e trajetória de seus respectivos grupos sociais, cada um estava em seu devido lugar e todos como gotas nos moinhos de Deus. Não que inexistissem conflitos ou mobilidade social mas sim que, as cidades lutaram por sua independência política, começando pela liberação de seus moradores das obrigações feudais que os prendiam aos seus senhores. E, esta liberação dos servos, usurpando os direitos dos senhores feudais dos quais eram vassalos, não se deu de maneira tranqüila, se deu através de várias lutas e revoltas.
A gênese do cidadão culminou na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, durante a Revolução Francesa; o que marcou o ideal de tratamento da lei em relação não mais a estamentos ou classes, mas em relação a indivíduos, pela “igualdade de todos perante a lei, o direito à propriedade privada e de resistência à opressão”.
Este processo de formação das cidades foi revolucionários justamente por contestar a ordem feudal estabelecida e tem suas raízes na doutrina cristã que nos coloca a todos como irmãos perante Deus, ou seja, iguais, sem qualquer privilégio concernente às desigualdades sociais de status e riqueza. Percebemos aí o quanto foi profundo o impacto da vinda de Jesus a Terra, que motivou não só violências descabidas, mas também serviu como argumento para tornar-nos mais independentes e poderosos em capacidade de decisão sobre como conduzirmos nossas próprias vidas em um movimento social que aos poucos alcançou preponderância no Renascimento e na Revolução Industrial.
A liberdade também é uma conquista cujo patrimônio cabe-nos aumentar. Somente hoje, tantos anos depois, reconhecemos a necessidade de vinculação dos direitos sociais aos direitos políticos e civis, para que estes últimos possam ser plenamente exercidos.
Concluindo:
Pessoa- suporte concreto das relações sociais.
Indivíduo- uma invenção da modernidade, um ser distinto de todos os demais, porém, tão humano quanto os outros, e, por isso, igual a eles perante a lei, com liberdade de ir e vir, sobre seu corpo e sobre suas opções de trabalho, um cidadão com direitos e deveres, independente da classe social ou grupo religioso ao qual pertence, pois, tem liberdade de culto e de opinião.
Obrigados a obedecer as regras do grupo social em que nascemos com um destino tradicionalmente determinado que se sobrepõe a nossa vontade, somos unicamente pessoas. Hoje, somos pessoas e indivíduos, pois, além de sermos considerados únicos, ímpares, alcançamos maior flexibilidade no que diz respeito a muitas tradições do passado.
Indivíduo e sociedade não se opõe no sentido em que um violará sempre os interesses do outro. Ambos relacionam-se de modo interdependente visto que nenhum de nós é auto-suficiente como um ser autótrofo. Um grande exemplo de como isto se dá, tanto no plano material quanto extrafísico é a Divisão Social do Trabalho, em que cada um contribui para a produção de bens específicos e se apropria, através dos ganhos que obteve, de parte dos bens produzidos pelos outros. Ou seja, nossas necessidade não são satisfeitas apenas com aquilo que produzimos.

Necessidade da vida social:
Deduz a partir deste princípio de interdependência enunciado anteriormente. No entanto, uma metáfora, primeiramente elaborada por Aristóteles e citada por Norbert Elias em seu livro A Sociedade dos Indivíduos, ajuda-nos a entender porque a Lei de Sociedade está intimamente ligada com a Lei de Progresso(história de Robinson Crusoé). Somente a sociedade é capaz de produzir, conservar, perpetuar e desenvolver bens materiais e espirituais.
Assim, o todo social não é a soma de suas partes, os indivíduos, pelo menos não no momento presente(considerando a reencanação).
“(...) Aristóteles certa vez apontou um exemplo singelo: a relação nos proporciona um modelo simples para mostrar como a junção de muitos elementos individuais forma uma unidade cuja estrutura não pode ser inferida de seus componentes isolados.”1
Se a sociedade fosse a soma dos indivíduos que a compõe, seria um amontoado de pedras, porém, é como uma casa em que os indivíduos são as pedras, o cimento as relações sociais, o teto as instituições, as leis, o Estado, portas e janelas, relações externas e horizontes de progresso, os cômodos, as classes, levando bem longe o caráter desta comparação. A sociedade se sobrepões aos limites estreitos da vida corporal humana e as estruturas sociais sob as quais reencarnamos, são a medida de nosso progresso coletivo.

As estruturas sociais são coercitivas e facilitadoras. Facilitadoras porque, através da socialização, fornece-nos soluções para problemas já conhecidos e corriqueiros, auxiliando e deixando-nos energia para que encontremos caminhos para novos desafios.* Coercitiva porque as soluções já existentes não são as únicas possíveis, posto que há diferentes sociedade, limitando assim, nosso campo de percepções mentais e nossa gama de opções para agir- as estruturas, por sua durabilidade, condicionam o pensamento e oferecem resistência a mudança- assim são as estruturas coletivas, e deva-se acrescentar, as do indivíduo, que fixa para sempre as estruturas da moral e da sabedoria que adquire, ou seja, não retrograda, mas pode remover, ainda que com dificuldade, as estruturas mentais engendradas pelas imperfeições arraigadas no íntimo.
A partir daí podemos introduzir a idéia de ciclo de reprodução. A coerção da estrutura social não é capaz de prever todas as nossas ações e pensamentos, por isso, ao mesmo tempo em que limita nossa liberdade, permite-nos exercê-la. Enquanto afirmamos em certo grau as regras sociais, “repetindo-as” com nossos atos, percebemos suas deficiências e estabelecemos objetivos de mudança. Nem mesmo a repetição se dá de maneira igual, por isso chamamô-la reprodução, pois nos diferenciamos pela faculdade do livre-arbítrio.** Por isso o ciclo de reprodução jamais se repete e amplia-se porque não perde suas aquisições anteriores, temos aí o progresso social, que evidencia em termos planetários o progresso da humanidade.
Claude Lévi-Strauss descreve o Princípio da Reciprocidade como um dos principais atributos constitutivos do Homem e de seu ser social. A cultura preenche os espaços “vazios” deixados pela natureza, ou seja, a cultura determina os comportamentos indeterminados pela natureza. O Homem é o único animal que elaborou a própria defesa através de ferramentas que são extensões de suas mãos. Não possui garras, presas, vôo, velocidade ou mimetismo. Este autor avalia os limites entre natureza e cultura e enuncia em sua primeiras considerações ao comparar o Homem com os macacos antropóides:
“Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no Homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade. E que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular.”2
Este conceito é bastante compatível com a Doutrina Espírita, principalmente no que concerne às Leis Morais inscritas na consciência de cada um de nós, e, a própria alteridade(diferença) da qual trata a antropologia, através da diversidade cultural, é conseqüência destas leis, especialmente o livre-arbítrio, o progresso e a sociedade. Entretanto, isso não basta para a compreensão da descoberta de Lévi-Strauss, que foi a seguinte:
“(...)a proibição do incesto apresenta, sem o menor equívoco e indissoluvelmente reunidos, os dois caracteres nos quais reconhecemos os atributos contraditórios de duas ordens exclusivas, isto é, constituem uma regra, mas uma regra que, única entre todas as regras sociais, possui ao mesmo tempo caráter de universalidade.”3

O Tabu do Incesto é, pois, a junção entre cultura e natureza, espírito e matéria, ação e Lei Divina. É o que faz com que o homem saia de si mesmo, de seu grupo, para que haja uma troca e um benefício mútuo. O Parentesco analisado através de um enfoque horizontal, de aliança, não de descendência, genealogia. Daí o a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e façais aos outros o que gostaríeis que fizessem contigo. Pois, do Tabu do Incesto chegamos ao Princípio da Reciprocidade. Este é, desde os primórdios até os dias atuais, o que rege as relações sociais em suas mais variadas formas. Por isso que, em muitas sociedade a mulher foi e é como uma moeda de troca, por ser o casamento um grande meio de aliança. Tal concepção pode ser em parte explicada pelo que representa a mulher enquanto símbolo da sobrevivência e continuidade da espécie, sobre a qual se definem exogamia e endogamia4, e, sem continuidade ou perpetuação, nenhuma relação social faria sentido, o que, por outro lado, confirma os argumentos do evangelho em prol da reencarnação.
“O Princípio da Reciprocidade trata de um modelo cultural universal, mesmo quando não igualmente desenvolvido em toda parte.”* E refere-se não só às coisas materiais e sua importância econômica, refere-se a dons, a sentimentos e valores. Em muitos casos a troca possui a finalidade moral de produzir simpatia entre as partes.
“Os bens não são somente comodidades econômicas, mas veículos e instrumentos de realidades de outra ordem, potência, poder, simpatia, posição, emoção.”5
Em nossa sociedade isto se manifesta através dos presentes, dos convites e festas, coisas que se retribuem e colocam-nos em pleno domínio da reciprocidade. Outro exemplo interessante nos leva ao ambiente de um restaurante francês em que pessoas desconhecidas sentam-se juntas compartilhando suas mesas, recebendo idênticos jarros de vinho. Apesar disto, oferecem o vinho contido em seu jarro ao outro, recusam-se em apropriar-se do que lhes pertence individualmente.
“Cada conviva come, se é possível dizer, para si, e a observação de um dano mínimo na maneira pela qual foi servido desperta a amargura com relação aos mais favorecidos e uma ciosa queixa ao dono do restaurante. Mas com o vinho dá-se coisa inteiramente diferente. Se uma garrafa for insuficientemente cheia o possuidor dela apela com bom humor para o julgamento de um vizinho. E o dono da casa terá de enfrentar não a reivindicação de um vítima individual mas a repreensão comunitária. Isto acontece porque, com efeito, o vinho, diferentemente do ‘prato do dia’, bem pessoal, é um bem social.”6
Isso demonstra que “o ritual das trocas não está somente presente nas refeições de cerimônia. A polidez exige que se ofereça o sal, a manteiga, o pão, e que se apresente o prato ao vizinho antes da pessoa servir-se.”7
Para encerrar este tópico:
“(...) entre a proibição do incesto e o Dom recíproco só existe um único caráter comum, a repulsa individual e a reprovação social dirigidas contra o consumo unilateral de certos bens.”8
A natureza da sociedade é portanto, a mesma do homem: potencialmente boa e perfeita. Contrária ao egoísmo, possui os germes da fraternidade. A sociedade é a relação do eu com o outro, exatamente onde o homem precisa melhorar-se. Não sem antes, melhorar a relação que tem consigo mesmo e com a própria essência divina.

Expiações Coletivas:
Decorrem da vida e da imperfeição social. O convívio, como foi explicado anteriormente, produz e reproduz ordenações de valores específicos que indicam nossas tendências para agirmos de determinados modos individual e coletivamente. Daí o caráter das profecias que enxergam no futuro, os efeitos dos atos e pensamentos humanos do presente.
Há coisas que fazemos em grupo que jamais faríamos individualmente , seja para o bem, seja para o mal. No caso das expiações vigora este último no sentido de que expiar é sofrer a colheita de nossos equívocos.
Admitindo a sociedade como um núcleo comum em que estamos submetidos às mesmas influências(logo, tendências), deduzimos que a vida em sociedade pode nos proporcionar a queda conjunta em certos equívocos.
A exemplo disto temos A Guerra do Paraguai e a escravidão, que talvez sejam duas das maiores causas das dificuldades de nosso país no presente.
As catástrofes naturais que ceifam por vezes, milhares de vidas, além de re-acomodarem os elementos físicos do globo. Herculanum e Pompéia foram pulverizadas pela erupção vulcânica do Vesúvio, na Itália, no ano 70 D.C. Ambas eram dominadas pela corrupção, luxúria, vício e crueldade de seus habitantes, cujas mazelas mal se escondiam sob o verniz das aparências de polidez da riqueza.
A expiações coletivas ocorrem porque ao contrário do conceito físico, os afins(pólos iguais) se atraem, pois encontram prazer e procuram felicidade nas mesmas coisas. Os iguais se atraíram para o mesmo local no espaço e a misericórdia divina, para impedir que se endividassem ainda mais com a Lei, aproveita o ensejo de sua reunião para propiciar-lhes uma eficaz oportunidade de regeneração, em que a solidariedade proporcionada por suas semelhanças será agente facilitador de resgate no plano espiritual. A observação de que o teor de meus atos gera dor não só em mim, mas nos outros; e de que as conseqüências são funestas para todos é contundente remédio de justiça e repulsão aos sentimentos mesquinhos que até então moviam minha vontade. É este o propósito da experiência de dor coletiva, o mais rápido reconhecimento da própria culpa.
O mesmo processo se repete nos acidentes de avião, nos ataques terroristas, nos terremotos. Deus não move suas forças para punir seus filhos, utiliza-se da perfeição da própria lei, nos campos da afinidade e do livre-arbítrio, para que o bem se faça em contraposição ao mal, contribuindo para o avanço espiritual em massa. Ou seja, se a dor é por atacado, o progresso também.
Outros exemplos de expiação coletiva:
Ø Hebreus X Palestinos: hebreus- povo comprometido pelo orgulho racial e religioso e pela morte de Jesus. Palestinos- comprometidos pela dominação do Império Turco-Otomano que teve os benefícios de propagação do saber árabe mas os deméritos da violência, também credores de orgulho racial e religioso provenientes da xenofobia e do sectarismo. Na verdade, o que fazem não é apenas um resgate, é a contração de mais débitos perante a Lei Divina, enquanto torturam-se mutuamente por um passado de desavenças que se renovam no presente através do ciclo vicioso da rivalidade e da vingança.
Ø Primeira e Segunda Guerra Mundial: Penalizaram todos os envolvidos e foram o auge, o acirramento das disputas imperialistas em que cada país queria as riquezas do mundo para si, deixando no abismo moral e no caos econômico principalmente a Alemanha que levou muito longe seu nacionalismo através da antiga herança de sua descendência belicista, da suposta superioridade da raça, ideologias com as quais justificavam o genocídio.


Civilização e Progresso Social:
O progresso ou evolução não é uma linha reta inclinada do ponto de partida ao infinito. Ascensão contínua não significa intensidade contínua e uniforme do esforço em progredir nesta ou aquela área. O destino da sociedade, como o de cada um de nós, é a felicidade mas os caminhos que percorre são em alguns casos mais tortuosos que imaginamos.
O mito do progresso linear é derivado do valor dado a tecnologia pelo etnocentrismo do homem moderno. Uma civilização pode e precisa se desenvolver em muitos outros aspectos além deste. O mérito da civilização Ocidental foi o de conseguir o maior grau de acumulação(continuidade, concentração, síntese) tecnológica já alcançado pela humanidade, mas isso não faz dela superior a todas as outras, pois, sabemos o quanto somos precários em termos morais de respeito ao próximo. A Revolução Neolítica e a Revolução Industrial, são neste sentido, as maiores revoluções tecnológicas pelas quais passamos. Para desenvolver este tópico utilizamos as noções de um livro da obra de Claude Lévi-Strauss Raça e História, em que ele discute uma gama de preconceitos evolucionistas que dizem, resumidamente, que a sociedade ocidental, especialmente a européia, estaria no topo da escala evolutiva e das demais sociedades representam estágios anteriores e mais primitivos da humanidade, cujos resquícios sobreviveram ao tempo. Este é o princípio básico deste tipo de evolucionismo, o social, cujos argumentos surgiram antes da teoria darwinista, no séc.XVIII, com Spencer, Comte e Tylor e teve seu maior expoente em Morgan, no séc.XIX.
O evolucionismo biológico, no entanto, fortaleceu o evolucionismo social. Deixando de lado por enquanto, suas conseqüências funestas, devemos notar que esta doutrina contribuiu fortemente para a organização da ciência, configurando suas primeiras bases metodológicas. Ela passou a constituir um corpo definido de estudos continuados e destinados a fins específicos. Isto porque o evolucionismo forneceu um modelo, uma estrutura de superação racional dos limites do conhecimento, o que foi decisivo para a grande explosão intelectual dos séculos XVIII e XIX.
Das conseqüências funestas podemos adentrar o fato de que o evolucionismo social, transposto para o biológico, gerou teses racistas que legitimaram as disputas imperialistas pelo partilha do mundo, em que cada país envolvido considerava-se superior aos demais cultural e fisicamente. O mundo virou uma panela de pressão prestes a explodir nas duas grandes guerras que marcaram o início do século XX.
Fica a lição de que não podemos confundir diferenças biológicas que não conferem a nenhuma raça aptidões anatômicas ou fisiológicas de uma em relação às outras.
Sobre a diversidade das culturas: podemos dizer que essas diferenças se dão pelo nosso livre-arbítrio, pelos aspectos de adaptação ao meio e a inteligência humana, cuja criatividade possui inventividade capaz de vencer diversos obstáculos. O fato é que a diversidade existente é fruto de um relação dinâmica entre as cultural, não de um processo estático em que cada núcleo social isola-se ou encontra-se isolado dos demais em sistemas fechados.
“Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forças que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.”9
O afastamento geográfico, as particularidades do meio e a ignorância de outras culturas humanas são fatores incontestáveis mas não determinantes da diversidade: “As sociedades humanas nunca se encontram isoladas; quando parecem mais separadas, á ainda sob a forma de grupos ou feixes”10

“A diversidade das culturas é de fato no presente e também de direito no passado, muito maior e mais rica que tudo o que estamos destinados a dela conhecer.”11
Lévi-Strauss observa que culturas provenientes de um tronco comum não diferem da mesma forma que aquelas, que, em algum momento, mantiveram estreitos contatos. Um forte exemplo desta ocorrência pode ser encontrado nos estudos lingüísticos em que o russo, o francês e o inglês possuem a mesma origem, mas o russo apresenta-se hoje, em vários termos, mais próximo dos traços fonéticos das línguas ugro-finlandesas faladas nos territórios contíguos a Rússia.
Etnocentrismo:
Sabendo então, que as diferenças saltam aos olhos de quem vê ou estuda, precisamos, ao comparar, ter consciência dos fatores que constituem a nossa visão do Outro. O contato com a diversidade cultural é um choque que nos leva a crer que tudo que consideramos óbvio podia ser feito diferente, desde o ato de comer ao modo de pensar, observar e classificar as coisas no mundo. Este choque nos leva mais a negar a diferença do que a aceitá-la, voltando a considerar os nossos princípios por única verdade que merece ser seguida. De várias formas repudiamos maneiras de pensar que nos são estranhas chamando-as de bárbaras como os gregos antigos, ou de selvagens, como a civilização Ocidental mais tarde cunhou os índios, com o mesmo sentido. O Etnocentrismo é a recusa em admitir a diversidade cultural. É muito mais fácil negar e destruir, que compreender e conviver pacificamente. Entretanto, o etnocentrismo dos nativos americanos se deu sob outra cosmologia, que elevava animais ao patamar de humanos, que comia o inimigo para absorver suas qualidades de guerreiro e contar sua história, incorporando assim, a diferença. Mais que isso, os americanos tinham em suas previsões religiosas a vinda de deuses descritos com as características dos europeus. Ou seja, eles aceitaram e receberam os portugueses e espanhóis, mas, se quisessem, poderiam tê-los massacrado pois estavam em muito maior número, conheciam o território e eram hábeis guerreiros. Quando perceberam os intuitos exploratórios, reagiram muitas vezes, isoladamente, eclipsados já pelo grande número de colonizadores, pelas disputas entre si, pela opressão da escravidão, das armas de fogo, e, principalmente, pelo extermínio de doenças comuns aos europeus, contra as quais não tinham qualquer defesa e contribuíram enormemente para a redução drástica da população indígena até sua quase extinção nos dias atuais. Os nativos americanos acumularam em sua história o conhecimento e a domesticação das mais variadas espécies vegetais “promovendo substâncias venenosas com a mandioca ao papel de alimento base(...)levando determinadas indústrias como a tecelagem, a cerâmica e o trabalho dos metais preciosos ao mais alto grau de perfeição. Para apreciar esta obra imensa, basta medir a contribuição da América para as civilizações do Velho Mundo. Em primeiro lugar, a batata, a borracha, o tabaco e a coca9base da anestesia moderna)...o milho e o amendoim(...)o cacau, a baunilha, o tomate, o ananás, a pimenta, várias espécies de feijão(...). E, finalmente o zero, base da aritmética e, indiretamente, das matemáticas modernas, era conhecido e utilizado pelos Maias pelo menos meio milênio antes da sua descoberta pelos sábios indianos, de quem a Europa o recebeu por intermédio dos árabes”12. Admira-nos, diante desta lista incompleta, que tenham inventado teorias de ETs visitando os povos pré-colombianos tanto quanto aos egípcios.
Tais teorias fazem sentido do ponto de vista reencanatório ou quando pensamos nos exilados de Capela, porém, sem essas considerações sensatas tornam-se meras historietas para subestimar a capacidade destes povos, julgando-os incapazes e desprovidos do mérito de suas conquistas. Aos “povos primitivos” sorte, acaso, aos “desenvolvidos”, trabalho, esforço e inteligência.

Ora, até mesmo a pedra lascada demanda o saber de qual material usar, de em qual material devemos atritar, como devemos fazer isso e quais tipos de lâmina obteremos, para que servirão... Tente lascar uma pedra, ou, quem sabe, descobrir o fogo e vai ver como é facinho... A cerâmica então, nem se fala! É claro, há sempre uma certa dose de sorte, acaso, diz Lévi-Strauss, mas sem trabalho a sorte e o acaso se perdem e passam despercebidos, quando não há vontade humana para o desenvolvimento. Para nós espíritas, que não acreditamos no acaso ou na sorte, mas sim na Lei de Causa e Efeito, na misericórdia divina, sabemos que existe sempre uma interferência superior em nossos destinos fornecendo-nos oportunidades de progresso. Do mesmo modo que Sepúlveda e Las Casas discutiam se os índios tinham alma ou não, os índios matavam marinheiros portugueses, deixando-os apodrecer nas praias para ver se tinham corpo.
Toda esta digressão teve o caráter de demonstrar ao leitor o quanto elaboramos concepções errôneas do Outro em decorrência do etnocentrismo. Este fenômeno ocorre entre nós, brasileiros, entre americanos, franceses, ingleses, angolanos, guaranis, Maias, havaianos, melanésios, etc. E é justamente a universalidade desta atitude que nos identifica com aqueles que tentamos negar. “Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens ou bárbaros’ dos seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.”13.
O autor faz, para facilitar o entendimento, uma analogia desta concepção com a física: Quando estamos em um trem em movimento e vemos outro que também se move na mesma direção e mesmo sentido, temos a sensação cultural de que o outro, semelhante, caminha e/ou progride tanto quanto nós.
Quando estamos em um trem em movimento e vemos outro que também se move na mesma direção mas em sentido contrário, temos a sensação cultural de que andamos, progredimos, porém que o outro trem e seus passageiros, estão parados.
Progresso:
O fato de que desconhecemos a história de muitas sociedades, inclusive as desprovidas de escrita, não significa que elas não tenham história.
“Na verdade, não existem povos crianças, todos são adultos, mesmo aqueles que não tiveram diário de infância e de adolescência. Poderíamos, na verdade, dizer que as sociedades humanas utilizaram desigualmente um tempo passado que, para algumas, teria sido mesmo um tempo perdido; que umas metiam o pé no acelerador a fundo enquanto outras divagavam ao longo do caminho. Seríamos assim conduzidos a distinguir duas espécies de histórias: uma história progressiva, aquisitiva, que acumula os achados e as invenções para construir grandes civilizações, e uma outra história, talvez igualmente ativa e empregando outros tantos talentos, mas a que faltasse o Dom sintético, privilégio da primeira.”14

Eu diria no lugar de progressiva, progressista, pois é valor da sociedade moderna superar a si mesma. Daí extraímos nosso pensamento racionalista e as especializações do conhecimento que concentram seus esforços no aprimoramento de determinadas áreas criadas a partir desta mesma concepção de ciência pragmática. É este tipo de conhecimento concentrador que nos permite aplicar o conhecimento de modo a sintetizá-lo num artefato material ou arcabouço teórico, no alcance de nossos objetivos. Esta persistência em aprofundar cada vez mais as dimensões de um problema ou questão para depois resumi-lo em uma resposta é característica do próprio trabalho intelectual.
Contudo, não podemos enxergar esta forma de conhecer como se fosse a única. Aqueles a quem por muito tempo chamamos de primitivos possuem um intelecto desenvolvido de outra maneira e conquistaram um cabedal classificatório da biodiversidade vegetal e animal de seus ambientes que além de fazer inveja a qualquer taxionomista ocidental ainda se mostra como uma verdadeira proeza de memória dos nativos que são capazes de descrever detalhadamente em alguns casos mais de 1000 espécimes, tanto quanto remontam sua descendência em mais de 400 gerações- tudo isso, sem escrita. Tal conhecimento ultrapassa e muito a utilidade ou a necessidade de sobrevivência que possuem. Assim, não podemos enxergar o progresso humano e da humanidade com a visão restrita de nossos valores progressistas e de continuidade que possuímos. Vários ancestrais da espécie humana coexistiram, alguns deles com o próprio Homo Sapiens. A pedra lascada não desapareceu quando descobrimos a pedra polida e um machado não dá origem física a outro melhor, como um animal, no evolucionismo biológico, cujas evidências podem ser estabelecidas de forma muito mais lógica e natural.
O progresso não é como uma pessoa que sobe uma escada, regular, seriado ou escalonado no tempo. Em sua abrangência de todos os potenciais a serem desenvolvidos pelos princípios da vida(Princípio Vital, Princípio de Inteligência e Princípio Inteligente), é contínuo. A intensidade e continuidade com que desenvolvemos cada uma dessas potencialidades é que não é, pois tais fatores estão subordinados ao nosso livre-arbítrio.
“A humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles já anteriormente conquistados, evoca antes o jogador cuja sorte é repartida por vários dados e que, cada vez que os lança, os vê espalharem-se no tabuleiro, formando outras tantas somas diferentes.”15
André Luíz em Evolução em Dois Mundos e Walter Oliveira Alves em Educação do Espírito confirmam esta concepção no sentido de que o desenvolvimento de nossas potencialidades se dá em maior ou menor grau de acordo com as oportunidades, necessidades e trabalho que empreendemos em nossas reencarnações, logo, o que se submete a nossa vontade pode ou não ser contínuo, pode ou não ser levado em conta, embotado, interrompido. O progresso é a síntese destes fatores enormemente variáveis em sua complexidade combinatória.
Do mesmo modo que não aceitamos o canibalismo dos Tupinambás por exemplo, os índios não entendiam como em meio a tanta fartura havia gente passando fome e necessidade em Lisboa. Somos uma sociedade não só em progresso(porque todas as sociedade estão, independente de seu ritmo) mas progressista. O problema é que somos progressistas mais em termos intelectuais que sentimentais. Se naquele setor temos que aprender com outras sociedades, imaginem em termos morais.

Nos índios poderíamos observar o respeito aos velhos e o cuidado com as crianças, a vida sem ganância; nos americanos a disciplina do tempo, nos asiáticos a preocupação transcendental, etc.
Enfim, só podem ser comparados em termos valorativos reais, absolutos de inferioridade e superioridade, aqueles que tiveram as mesmas oportunidades, a mesma quantidade de tempo, no mesmo contexto cultural, submetidos ao mesmo ambiente e qualidade de relações. Ou seja, maior ou menor progresso refere-se ao aproveitamento maior ou menor das dádivas recebidas.
Entre as diferenças culturais e os espíritos apenas iniciantes na caminhada evolutiva humana a comparação se dá de maneira relativa(em relação a ), pois àquele que possui atributos diversos do nosso, é diferente de nós no ponto de partida, ambiente, percepções mentais e tempo de aprendizado, não podemos conferir os mesmos critérios de classificação de mérito ou demérito, já que as necessidades e aquisições são outras. As sociedades são representações da realidade e a cultura é o óculos que usamos para ver o mundo. Podemos dizer e certamente chegar a conclusão de que X na sociedade americana é melhor do que X na sociedade brasileira; porém Y na sociedade brasileira é melhor que Y na sociedade americana. Para isso precisamos encontrar, por comparação, algo que seja semelhante. Entendamos este ponto fundamental:
Condições diferentes responsabilidades diferentes escolhas diferentes.

Vida de isolamento e voto de silêncio

Jesus no Lar
Lição n°11
A lição do Santo Desiludido nos traz o ensinamento de que agir na busca do bem é enfrentar o mal que reside em nós e nos outros, através do que surgirão diversas tentações e desafios, que, dentro da missão abraçada precisamos vencer. Ou seja, fazer projetos e empreendê-los é correr riscos de erro e de aprendizado, porém, imprescindíveis para dar a oração seu valor de elevação. Quem não faz não erra, mas também não acerta.
O Santo, com sua inação estéril, serviu somente a si mesmo, ao seu egoísmo, ao invés de servir a Deus. Jesus mesmo disse, que qualquer um que agasalhasse um necessitado seria a Ele que estaria agasalhando.
“Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio. A fé sem obras é uma lâmpada apagada. Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.”16
Lição n°26
A lição do Valor do Serviço demonstra que não basta ter talentos, é preciso multiplicá-los. A estagnação daquele que é justo por perceber as injustiças do mundo, mas, sem modificá-las um milímetro, fez com que permanecesse alheio aos irmãos necessitados.
Ele presumiu que tinha luz, e, quem se acha iluminado obviamente pensa que não precisa buscar esta luz com qualquer esforço no bem. Ao contrário do criminoso, que em sua humildade estava disposto a encontrá-la, aproveitando todas as oportunidades do caminho. Assim precisamos reconhecer o quanto somos pequenos e o quanto podemos ser grandes juntos. Viver no mundo sem ser do mundo, não fugir do mundo levando-o consigo.
“- A virtude é sempre grande e venerável, mas não há de cristalizar-se à maneira de jóia rara sem proveito. Se o amor cobre a multidão dos pecados, o serviço santificante que nele se inspira pode dar aos pecadores convertidos ao bem a companhia dos anjos, antes que os justos ociosos possam desfrutar o celeste convívio.”17
Estas duas parábolas demonstram claramente o que disse Jesus e o que diz a Doutrina Espírita sobre a Vida de Isolamento e o Voto de Silêncio. Fugir ao mundo para negar sua imundície é levá-la conosco para onde quer que formos. Fugir ao mundo em sacrifício dos prazeres mundanos pelo próximo, é ao contrário, por em prática a Lei de Justiça Amor e Caridade, visto que na situação anterior há sim sua negação e troca por uma vida inútil e ociosa, de exacerbada contemplação.
Sobre o Voto de Silêncio é outro exagero de reclusão que nos priva das oportunidades de fazer o bem. Muitas vezes o silêncio é necessário, é caridoso, assim como a reclusão é produtiva para certos tipos de trabalho.
“(...)Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que concedeu. Entretanto, o silêncio é útil porque, no silêncio, te concentras, e teu espírito torna-se mais livre e pode, então, entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que olham suas privações voluntárias como atos de virtude, têm uma boa intenção; mas eles se enganam, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras Leis de Deus.
O voto de silêncio absoluto, da mesma forma que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a Lei de Progresso.”18
Equilíbrio.

Fobia Social

A fobia social surge de diversos fatores de desajuste com o meio em que vivemos, mas provém, em primeiro lugar, da desarmonia íntima que mantemos em nós mesmos.
O desajuste pode surgir por deformidades de nascimento ou adquiridas, pela reiterada inadequação do indivíduo aos padrões sociais ou em sentido oposto, pelo seu excessivo e irrefletido assentimento às regras. Porém, “a evolução requer da criatura a necessária dominação sobre o meio em que nasceu.”19
A frustração de expectativas quanto ao entendimento das imagens culturais construídas pode gerar depressão. O medo exagerado em não atender estas expectativas, de não agradar aos outros, pode, simplificadamente, redundar em processos de timidez.
A anulação da própria personalidade acompanhado do complexo de inferioridade pode gerar um quadro de imitação daquilo que julgamos ideal. Então, quando descobrimos que ainda assim somos desprezados(é impossível agradar a todos), temos aversão não só a nós mesmos, como também aos outros.
O complexo de superioridade configura-se como outra modalidade de fobia social: quem se julga melhor que os outros não consegue manter relações saudáveis de reciprocidade. Quer tudo para si, e acaba afastando as pessoas.
A questão das deformidades físicas vai ao encontro de uma concepção materialista de nossa sociedade, na qual prepondera o poder econômico sobre todos os outros tipos de poder, valorizando sobremaneira as aptidões físicas e mentais dos trabalhadores pertencentes a população economicamente ativa. Nesse bolo figuram como “vagabundos” donas de casa, estudantes, aposentados, deficientes físicos e mentais, velhos, loucos e presidiários. O utilitarismo econômico domina a concepção de trabalho e neste sentido, há uma constante exclusão de seres considerados incapazes de alguma maneira. Neste ponto podemos perceber um outro aspecto já abordado anteriormente. Temos uma lógica de exclusão do Outro, do diferentes, e estes marginalizados representam os preconceitos internos a nossa própria sociedade. A questão é que, mesmo este enorme contingente de pessoas possui o preconceito arraigado contra si mesma. E antes de qualquer luta ou movimento que lhes dê a dignidade merecida, é preciso superar este obstáculo: o de serem vítimas ou coitadinhos eternos. Pois, em última instância, ninguém é vítima, a não ser das próprias escolhas e vibrações.
Contudo, aversão ao convívio, ao contato, ocorre justamente pela nossa permanência neste estado de desequilíbrio em que nos revoltamos contra as provações que a vida nos oferece para o necessário aprendizado de lições imortais. Os outros nos excluem mas nós também nos excluímos ao atribuirmos a diferença que nos distingue uma relevância maior do que ela realmente possui. Quando passamos a diferença existente no plano físico para o plano da alma.
Porém, um maneta não é menos gente que o indivíduo dotado de todos os membros da espécie. E, sabemos que, como espíritos, temos, além de diversas potencialidades latentes, talentos adormecidos pela materialidade, pelos objetivos de progresso da encarnação atual, que, em suma, somos essência divina. Logo, irmãos. É difícil transferir o raciocínio e a compreensão para esta esfera porque o que nos impressiona de imediato aos sentidos é a condição material em que nos encontramos. Mas a esta realidade contrapõe-se a efemeridade da vida corporal.
O Estigma não é somente físico ou psicológico, pode ser também moral. Como os homossexuais ou as prostitutas. O Estigma é uma marca negativa da sociedade sobre o indivíduo colocando-o num status de inferioridade. Refere-se a determinados tipos de desventura social que classifica os menos felizes. Como o eram os escravos ou como são hoje os pobres. Ou seja, muita gente mesmo.
A origem do termo ESTIGMA vem dos gregos que “criaram o termo para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem o apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor- uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos.”20
O caráter do estigma é retrospectivo e pressupõe uma identidade social virtual que pode ser bastante divergente da identidade social real que é o que a pessoa prova ser. As aparências enganam.
“NORMA, s.f. Regra; modelo; preceito; lei; escumilha(planta); (Estat.) o mesmo que moda; (Jur.) – cogente: disposição legal que não pode ser modificada pela vontade particular; - não-cogente: é o que dá liberdade à vontade particular, facultando-lhe a prática de determinado ato.”21

O estigma é conseqüência da idéia do que é normal ou aceitável. Mais uma prova de que no Estado de Natureza * ninguém se sustentaria por muito tempo. Esta hipótese configura a imprevisibilidade total das ações do outro.

Vida Social dos Desencarnados

“Imagine que você está nu, no meio de uma multidão de pessoas. Sentindo-se muito envergonhado. Porque, desde pequenino cobriram você com roupas e te ensinaram a estar vestido perante os outros. Também porque estão vendo em você todos os defeitos do seu corpo, que assim são considerados por contradizerem a estética vigente.
Agora, imagine-se desencarnado, despido do corpo carnal. Você se envergonha, neste momento, não por convenções e mazelas físicas passageiras e fúteis, mas por seus defeitos estampados e evidentes por todo seu corpo perispiritual. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a inveja, a cupidez, a maledicência, podem obscurecer e pesar como chumbo que arrastamos com dificuldade na trilha de elevação . É com seus defeitos, seus erros, toda sua vida escrita para qualquer um que possa e queira ler. Você não pode mais se esconder através de máscaras externas, nem diante do tribunal da própria consciência. Você soube discernir, mas não soube escolher.
Considere-se então, nu. Veja-se, compreenda-se, arrependa-se, perdoe-se, estabeleça e pratique metas de acerto, pois, a ti será dado de acordo com suas obras.”
No plano espiritual como aqui, nos unimos aos grupos afins, consciente ou inconscientemente. É por isso que no umbral há vários tipos de região para os seres com determinados tipos de sofrimento e nos planos de trabalho próximos a crosta ou mais elevados, temos as cidades ou colônias espirituais que se especializam em múltiplas áreas de auxílio a encarnados e desencarnados.
André Luíz relata em suas obras importantes estruturas organizacionais do plano espiritual, especialmente no que concerne a moradia, alimentação e ocupações específicas, além de outros fenômenos alheios ao conhecimento terreno.
Os planos superiores se relacionam com os inferiores através do merecimento de alguns cuja ascendência é temporária ou permanente, pelo pensamento e pela materialização dos espíritos superiores nos planos inferiores, através da mediunidade, que, em verdade, sempre ocorre quando há intercâmbio entre um plano mais denso e outro menos grosseiro. Os desencarnados reúnem-se nas atividades que estão de acordo com o seu conhecimento e merecimento, porém, todas elas representam bênçãos na seara do bem. Em Nosso Lar há escolas, hospitais, casas, jardins de rara beleza, como nos relata André Luíz em livro de mesmo nome.
Há família de entes reunidos pela verdadeira afeição, namoro, noivado, casamento. Há reuniões de confraternização, congressos de estudos e espiritualização. No caso de Nosso Lar tivemos notícia de um governo organizado em ministérios como o da Regeneração, do Esclarecimento ou da União Divina. Também existem crianças no plano espiritual pois não é todo espírito que consegue dominar-se a si mesmo com rapidez assim que chega ao plano espiritual, readquirindo a maturidade da forma e da consciência.

Não pensem que no umbral não tem organização! Muitos espíritos equivocados utilizam a inteligência desenvolvida para tiranizar os irmãos mais fracos em tramas obsessivas que atingem a crosta e atuam com verdadeiras hordas invisíveis. Há um caso em que quase uma centena de entidades se revezavam na perturbação de uma mulher encarnada a serviço da vingança de uma só.
Dizem que as coisas que aqui temos são a versão grotesca do plano espiritual eterizado. O que existe no umbral deve ser a caricatura mais vulgar e deprimente de tudo o que temos de mais triste e cruel. Enfermidade, corrupção, bandidagem, deformidades inimagináveis, sujeira, odores fétidos, escuridão, perseguição, tortura, prisão, sensualismo, etc.
Enquanto no plano espiritual mais elevado estão todos próximos pelo ideal da felicidade, do amor, nas faixas inferiores todos torturam-se mutuamente para que possam despertar para a realidade maior.

Problemas Sociais: violência, criminalidade, menores de rua e pobreza

Como diz o Evangelho Segundo o Espiritismo, a Terra é um hospital, um subúrbio, uma penitenciária, região insalubre no espaço, destinada ao exílio dos espíritos rebeldes ás Leis de Deus. A humanidade terrestre é apenas uma parte ínfima da humanidade universal dos princípios inteligentes que habitam todos os planetas que gravitam no universo. Possuímos diversas enfermidades morais adquiridas na violação do próximo e de nós mesmos.
Esta é a explicação mais simples para dizer o porque de todos os problemas sociais. Entretanto, podemos adentrar na delicada questão do desenvolvimento individual:
Anomia* Heteronomia* Autonomia*
a: negação, nomia: regra, lei- crise de valores da atualidade. O indivíduo anômico não respeita a lei, as regras, ou qualquer tipo de autoridade. É agressivo, anti-social, desequilibrado e egoísta. A lei vem de fora, da coerção externa. O indivíduo neste estado respeita as regras ou as leis por medo das possíveis punições, mas, assim que se vê livre, não hesita em transgredi-las. É covarde, individualista e delator. Capacidade de governar a si mesmo. O indivíduo autônomo interiorizou os valores éticos e morais de forma a captar deles sua necessidade e importância. É disciplinado e na ausência de autoridade permanece o mesmo. É responsável, flexível, dotado de um discernimento que o torna consciente de suas decisões.

Estas etapas evidenciam não só uma classificação geral do estado moral mas também três momentos pelos quais passamos ao empreendermos nossa reforma-íntima. A etapa(1) de quando agimos na inconsciência e na ignorância de determinado aspecto obscuro de nossa personalidade que nos leva ao desequilíbrio recorrentemente, a etapa(2) de quando descobrimos nossa falha e estabelecemos propósito de combatê-la, a fase(3) em que nos sentimos tentados a repetir novamente o erro mas lutamos contra esta má tendência que nos faz sofrer, e, finalmente, (4) o momento em que nosso pensamento, palavra e ação estão em harmonia porque já não sentimos mais a mesma dificuldade de antes.
Espíritos aqui reencarnados em muitos casos viemos repetir a lição não superada em vidas passadas. Por isso somos expostos às situações as quais sucumbimos no passado.

Somos atraídos pelas más influências porque buscamo-las anteriormente, afinizamos com elas e a procura ou atração por coisas similares no presente serve ao propósito de que possamos reagir de maneira diferente e vencer. Mas caímos e caímos várias vezes, cometendo os mesmos ou diferentes erros. E isto significa uma caminhada mais lenta, próxima a estagnação ou uma queda maior ainda, complicando os débitos anteriores.
A necessidade vem em forma de pobreza, doença ou abandono para que aprendamos a humildade e a valorização do bem-estar(pensamento por oposição) sem avareza ou dissipação desenfreada nos prazeres carnais, sem o orgulho da posição, do prestígio e do poder. Escolhemos o crime, a violência, porque somos auto-destrutivos, não amamos a nós mesmos e queremos o ganho e o gozo fácil dos bens materiais. Porque somos anômicos.
Fazemos determinadas coisas apenas em grupo porque a solidão oprime. Porque com o outro compartilhamos a culpa caso algo dê errado e somos também mais fortes para enfrentar as adversidades. Fazemos as coisa em grupo porque nos deixamos levar pelas influências, pelas circunstâncias, porque achamos que a maioria está sempre certa e que a aprovação mútua é suficiente para legitimar o ato. Porque não temos nosso próprio posicionamento diante dos fatos e adotamos de pronto o que nos apresentam sem pensar nas conseqüências. É o “efeito boiada” ou “Maria vai com as outras”.
O problema da ação coletiva vai muito além da questão das multidões do crime ou dos grupos cooperativos como o nosso pois envolve certos modo de agir estabelecidos e implícitos na interação social. Agimos em grupo porque aderimos consciente ou inconscientemente uma proposta sabendo porque fazemos ou sem ter noção disto, e mesmo oscilando entre esses extremos de acordo com o desenrolar dos acontecimentos.
O mal da ação coletiva é quando ela atinge grandes proporções de revolta e destruição, ou quando constitui ameaça a própria sociedade. Um exemplo que podemos dar é o crime organizado, que insinua-se como um caso limite entre anomia e heteronomia porque não respeita as leis mas resguarda-se e corrompe a legalidade de modo a não ser punido.
Contudo, que tratamento dar aos criminosos, aos pobres e às crianças abandonadas? Deixar que vivam sua expiação? Digo que não. Não somos juizes autorizados por Deus. Estamos, por assim dizer, no mesmo barco. Senão, pecamos pelo bem que deixamos de fazer. Precisamos combater o crime, não os criminosos, a pobreza, não os pobres, as causas do abandono, não as crianças abandonadas; assim como os médicos combatem as doenças, não os doentes.
Fortalecer as bases da Educação moral e intelectual para todos, para prevenir, reduzindo as chances de que os problemas aconteçam no futuro.
Aos problemas existentes devemos dar bases de solução, não meros paliativos. Para os criminosos separação, de acordo com a gravidade de seus delitos e oportunidades de recuperação através do trabalho, do auxílio ao próximo e da reeducação. Para a pobreza não só o auxílio material imediato mas o aprimoramento interior que permita que cada um seja capaz de abrir os próprios caminhos. Devemos dar o peixe na urgência da fome mas preocupar-mo-nos com o “ensinar a pescar”, que é uma caridade para a dignidade do espírito. Para as crianças a bênção de uma vida familiar pela adoção, e, se não for possível, instituições que as abriguem sem regras repressoras e humilhantes que lhes provoque revolta e baixa auto-estima. Como Pestalozzi, devemos dar às crianças o afeto amigo, mantendo com elas uma relação de confiança e carinho. É importante que trabalhemos pela educação que ensine a pensar(autônoma), não pela educação que ensine a repetir(heterônoma).
Pois em todos estes casos envolve-se a educação e uma relação cordial e simples entre educador e educando. A cooperação entre ambos é imprescindível para o sucesso que resultado aprendizado. O presente é nossa chance preciosa de renovar atitudes através da ação, da vontade que domina os automatismos inferiores que nos vêm à tona.
Neste sentido educar é conduzir o processo evolutivo desenvolvendo potencialidades e aprimorando capacidades.

PASSADO PRESENTE FUTURO
Bagagem anterior Ação/Trabalho Conquistas Novas

Assimilação
ESTRUTURA AÇÃO NOVA ESTRUTURA
ANTERIOR EXPERIÊNCIAS
Acomodação


“O processo de assimilação e acomodação é constante”22
“A cada um segundo suas obras”
E porque a Educação resume a complexidade e o caráter de solução? Porque seus resultados, ainda que de longo prazo, possuem a duração da imortalidade. Porque o mal não é intrínseco ao homem, é a ausência provisória do bem. Rotular as pessoas como vítimas ou algozes é limitar seu campo de percepção aos acontecimentos que os envolve, retirando-lhes e impedindo-lhes de alcançar uma visão mais ampla de sua responsabilidade diante da vida.
É imprescindível ressaltar o caráter de elevação do sofrimento incentivando a auto-educação, não a auto-piedade que nos torna seres parasitários e inertes.

Postura do Jovem Espírita no contexto social moderno

O jovem espírita, mais do que nunca, tem a responsabilidade de ser engajado e ativo em seus compromissos sociais.
O jovem espírita busca compreender e valorizar a vida antes que a dor venha cobrar dele esta postura. Procura adquirir os Caracteres do Homem de Bem23 e seguir pelo amor a construção do futuro, correspondendo a esperança que as gerações passadas depositaram nele.
A especificidade do jovem está em sua energia, que ele deve aproveitar, canalizando-a com disciplina e paciência em direção a obras sólidas e duradouras. Muitas vezes falta ao jovem a seriedade e sobriedade necessários para assumir e enfrentar as conseqüências de seus atos e responsabilidades por achar-se em condição de gozador da vida, mas, “desperdiçar tempo é esbanjar patrimônio divino”24 e todo tempo é hora de progredir. Ao jovem espírita é dada uma visão mais ampla do presente e da vida humana, não sendo permitida a ele a percepção de que a vida é curta, precisa ser aproveitada- a frase merece ser completada no sentido em que geralmente é usada- com irresponsabilidade e dispersão de energia em atividades levianas e demasiado divertimento. Realmente, a vida é curta e precisa ser aproveitada, mas, na concepção do jovem espírita, esta frase se completa assim- com responsabilidade e gasto de energia no resgate de si mesmo e dos outros, na difícil conquista do equilíbrio entre saber e sentir.

Há uma frase que diz: Ah! Se os jovens soubessem... Ah! Se os velhos pudessem... Pedir conselhos aos mais experientes é prova de humildade e prudência. Perseverar no alcance dos objetivos propostos sem dispersar atenção e esforços em múltiplos desejos simultâneos é uma boa dica para que não se perca a nossa vontade no trabalho desorientado e mal feito.
Como fazer ou começar? Pela educação de si mesmo buscando o auto-conhecimento, identificando os problemas do ser para depois buscar soluções. Amando-se, respeitando-se, somente ao desvendar as próprias dores e mazelas poderá compreender o sofrimento dos outros. Somente participando das ações de auxílio ao próximo, disponíveis na cidade, no bairro ou no grupo religioso ao qual pertença, aprenderá a ajudar com sabedoria. Apenas prestando o socorro desinteressado em que a mão direita não sabe o que dá a esquerda, poderá perceber o verdadeiro valor da amizade e dos amigos, cuja conquista só se dá com a doação de si mesmo. Apenas buscando a consciência de seus direitos e deveres civis poderá atuar pela melhoria e implementação das leis já existentes. Da mesma forma que precisamos conhecer nossos problemas íntimos para combatê-los precisamos saber dos mais sutis problemas que atormentam a coletividade para pensarmos seriamente em soluções no âmbito da ação eficaz. Por isso o jovem espírita procura informar-se sobre o que acontece no mundo e não é de forma alguma alienado, ainda que não tenha todas as informações tem a postura de informar-se.
O jovem espírita não é mero receptor dos fatos, seleciona e pensa sobre tudo que é capaz de discernir quando vê, ouve, lê. Ele não apenas crê porque alguém diz, mas sabe porque crê, tem argumentos racionais para justificar suas opiniões, e, para isso, está sempre em busca dos elementos que lhe propiciam tais elementos de fundamentação, aprimorando seus conhecimentos.
O jovem espírita é voluntário, trabalhador, estudioso. É sensato, não ilude-se querendo fazer o mais antes de fazer o menos. Deseja aprender a servir em qualquer tempo e lugar.
Jovem espírita é todo aquele que se agita na dor de saber quem é pela satisfação do que vai ser.
O jovem espírita é como a modernidade, inacabada, imperfeita, sempre querendo superar a si mesma.

Bibliografia:

ARISTÓTELES. Política. Editora Martin Claret. 1ªEdição. São Paulo -S.P, 2002.
CAMARGO, Pedro de. O Mestre na Educação. Editora FEB. 6ªEdição. Rio de Janeiro –R.J, 1997.
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos.
GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. Editora Martins Fontes
GOFFMAN, Erving. Estigma- Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Editora Guanabara. 4ªEdição.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. Coleção Os Pensadores. Nova Cultural.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Instituto de Difusão Espírita. 176ªEdição. Araras- S.P, 1994.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. Coleção Os Pensadores. Nova Cultural.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Estruturas Elementares do Parentesco. Editora Vozes. 2ªEdição.
LÚCIO, Neio- psicografia de Francisco Cândido Xavier. Jesus no Lar. Editora FEB. 28ªEdição. Rio de Janeiro -R.J, 2001.
LUÍZ, André- psicografia de Waldo Vieira. Conduta Espírita. Editora FEB.13ªEdição. Rio de Janeiro- R.J, 1987.
LUÍZ, André- psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Evolução em Dois Mundos.
LUÍZ, André- psicografia de Francisco Cândido Xavier. Nosso Lar.
OLIVEIRA ALVES, Walter. Educação do Espírito. Instituto de Difusão Espírita. 8ªEdição. Araras -S.P, 2001.
REIS, Wanderley Guilherme dos. Em Defesa do “Laissez Faire”(um argumento provisório).
SILVEIRA BUENO, Francisco da. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. FAE. 11ªEdição. Rio de Janeiro -R.J, 1992.

Anexo I

Pensar que o Tabu do Incesto existe porque o casamento consangüíneo gera deformidades é cair no determinismo biológico resultante da transposição do progresso social para o evolucionismo biológico. O Tabu do Incesto não é degenerativo da espécie, é constitutivo da sociedade. Ele existe por causa da Lei de Sociedade, não por causa do princípio da hereditariedade.
Se o Incesto como concebemos fosse realmente degenerativo e levasse-nos a extinção, seria impedido pelo instinto de conservação. Dois irmãos consangüíneos, ignorando serem filhos dos mesmos pais, repeliriam-se imediatamente, num impulso automático e jamais se envolveriam sexualmente. Mas não é bem isso que acontece. Lembra de Os Maias, de Eça de Queiroz?
Outra coisa: se a sociedade fosse essencialmente endogâmica por muito tempo, isto geraria um pico de anomalias, mas com uma subsequente fase de estabilização, com predomínio de seres normais. Ou seja, estatisticamente(e friamente), a endogamia geraria menos aberrações que a loteria exogâmica, com a desvantagem de que seria reduzida a variabilidade genética, diminuindo o ritmo do progresso.*
Aliás, esta “descoberta” teve data marcada para acontecer. O que você acha que aconteceu com as sociedades milenares que praticaram a endogamia na concepção moderna por todo esse tempo? Estão extintos? Que nada! Estão bem vivos, e, o mais importante, com saúde.
O que importa no Incesto não é o resultado, mas o ato em si, que consiste no consumo individual de um bem social, ou seja, feito para a troca, para o consumo social, não para a contenção. Logo, o Tabu do Incesto é gerador do parentesco(estrutura estruturante, como diria Pierre Bourdieu), do grupo familiar. E, independente da forma pela qual ocorra, relaciona-se com o corpo, mas não está subordinado a ele.
E a família é o núcleo principal da formação humana, é a referência de nossas relações externas com o meio dos outros seres humanos. É alteridade pura. Marca o surgimento da esfera pública, do nós, ultrapassando o eu. É fundadora do Princípio da Reciprocidade e este, por sua vez, é fundador das instituições que nos reúnem sob um núcleo comum acumulador de progresso, que nos permite construir a grandeza espiritual da humanidade sobre o substrato material de suas realizações.
O Tabu do Incesto transcende a interdependência natural, imposta pela cadeia alimentar e gera a interdependência social, construída com base em nossa capacidade co-criadora(ninguém é auto-suficiente como as plantas são autótrofas). Esta, desenvolve-se pelas relações de convivência. Já a natureza, além de nos fornecer os elementos físicos de manifestação sobre os quais organizamos criativamente a sociedade, é modificada pela cultura através das alterações fenotípicas incorporadas somente à posteriori na espécie, quando reencarnamos e trazemos impressos no perispírito a herança adquirida na vida anterior, interagindo com a herança genética dos pais atuais através dos elementos combinatórios dos cromossomos. Este o elo perdido na relação entre natureza e cultura, que é também uma relação mútua, recíproca.
Se o espírito antecede a matéria seu comportamento não pode ser determinado pelo instinto. O comportamento é de ordem moral. Vemos hoje em dia que o instinto domina em muitos aspectos, principalmente nos quesitos alimentação e sexualidade, porém, não de forma exclusivamente automática e sim porque somos apegados às sensações que ele nos proporciona, que são materiais e não estão necessariamente ligadas ao plano dos sentimentos. Mesmo as sensações do instinto, em sociedade, são experimentadas com certas limitações colocadas pela regra, pelo que julgamos normal ou aceitável. A concepção de desvio, de anomia, vem disso.
Não podemos conceber o preto sem sabermos do branco. O pensamento por oposição é mais uma característica humana. Para valorizarmos o bem, precisamos muitas vezes sofrer o mal.
Anexo II

1- Definição de Sociedade

2- O homem como ser social + Indivíduo e Sociedade + Necessidade da Vida Social:

Ø Pessoa/ Indivíduo- invenção da modernidade;
Ø Divisão do trabalho e interdependência social- Wanderley Guilherme;
Ø Metáfora aristotélica: a pedra e a casa:
“(...) Aristóteles certa vez apontou um exemplo singelo: a relação nos proporciona um modelo simples para mostrar como a junção de muitos elementos individuais forma uma unidade cuja estrutura não pode ser inferida de seus componentes isolados.”
Ø Estrutura Social e ciclo de reprodução;
Ø Tabu do Incesto e Princípio da Reciprocidade:
“Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no Homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade. E que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular.”
Exemplos: Festas, comida, presentes, Kula, Potlatch, aliança, troca, casamento.

3- Civilização e progresso social:

Ø O mito do progresso linear:
· Contínuo e linear;
· Evolucionismo social X Evolucionismo biológico.
Ø Diversidade das culturas:
“Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forças que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.”
· Problema da Igualdade- declaração universal.
Ø Etnocentrismo:
“Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens ou bárbaros’ dos seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.”
· Analogia com a física.
Ø História acumulativa X História Estacionária:
· A posta conjunta e dom da síntese.

4- Expiações Coletivas:

Ø Por que ocorrem;
Ø Qual o mecanismo de progresso e misericórdia empregado;
Ø Alguns tipos e exemplos.
5- Fobia Social:

Ø Socialização primária deficiente;
Ø Desequilíbrios psicológicos:
· Complexos(inferioridade e superioridade);
· Inadequação;
· Adequação excessiva.
Ø Estigma: preconceitos e deformidades físicas:
· Físico, psicológico e moral;
· Natureza espiritual do estigma.
Ø O normal ou aceitável.

6- Vida Social dos Desencarnados:

Ø Meditação;
Ø Planos de afins:
· Planos elevados e inferiores: organização e práticas sociais.
Ø Mediunidade.

7- Problemas Sociais: violência, criminalidade, menores de rua e pobreza:

Ø Planeta de Provas e Expiações;
Ø Importância da experiências;
Ø Especificidade das provas reencarnatórias;
Ø “Diga- me com quem andas e eu te direi quem és”:
· Problema da ação coletiva.
Ø Tratamento aos pobres, crianças e criminosos:
· Educação do Espírito.
Ø Aprendizado:
· Autonomia/ heteronomia/autonomia;
· Vítimas e algozes;
PASSADO PRESENTE FUTURO
Bagagem anterior Ação/Trabalho Conquistas Novas

Assimilação
ESTRUTURA AÇÃO NOVA ESTRUTURA
ANTERIOR EXPERIÊNCIAS
Acomodação


8- Postura do jovem espírita no contexto social moderno:

Ø O caminho reto por opção;
Ø Caracteres do Homem de Bem- E.S.E, P.221;
Ø Especificidade do jovem;
Ø Equívocos mais comuns;
Ø Mais alguns conselhos:
· Conduta Espírita, cap.2.
Ø Senso crítico e cidadania:
· Participação e perseverança.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito deste artigo. Muito obrigada a quem o escreveu! Pudesse toda a comunicação optar pela qualidade de informação, ou as massas decidirem rejeitar a indústria da inutilidade, e tudo seria diferente...