segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Fé e posicionamento religioso

COJEREME
Confraternização de jovens espíritas da região metropolitana de Belo Horizonte
CRE 10ª REGIÃO
Conselho regional espírita
Tema: O Sermão da Montanha
Painel: Fé e posicionamento
Fraternista: Fernanda Flávia Martins Ferreira
Carnaval de 2004
Folha resumo

1) Política- entendemos política em sua definição ampla, toda relação é uma relação de poder, embora tenha que ser reconhecido que a temática do poder não esgota a complexidade das relações sociais.
1.1 Poder- o poder, no dicionário de sociologia consultado, possui várias definições que não excluem umas às outras na explicação do fenômeno, ainda que baseiem-se em discordâncias entre si: definição weberiana, feminista, funcionalista e acrescentamos a definição eliasiana. A primeira é o poder em posição social que confere capacidade de controle de pessoas, recursos e/ou eventos, independente de oposição, obstáculo ou resistência –é o poder sobre, o potencial antagônico e conflituoso do poder. A Segunda é o poder de, capacidade de agir em cooperação, ou seja, não é pautado na hierarquia e na subordinação mas na capacidade de realização. A terceira, é o potencial dos sistemas sociais de organizar pessoas e recursos coordenando-os em atividades para atingir metas. A quarta, é uma definição relacional, o poder não é uma coisa possuída, depende da posição ocupada em relação aos demais atores envolvidos, como um jogo de equilíbrio em que pode haver maior ou menor concentração de poder na distribuição do mesmo ou configuração do jogo, sendo este tenso, sempre sujeito a mudanças mais ou menos profundas das posições e das classes, pessoas ou grupos dominantes. O poder é consentido e estabelecido formal (explícito em estatutos, leis, cargos) ou informalmente (de maneira implícita, em conformidade com valores compartilhados), na dinâmica social das rotinas e convivência. Há também o poder pessoal, de menor importância sociológica mas expresso no conceito de carisma (Weber), é institucionalmente frágil e pode gerar despotismo, autoritarismo. Por outro lado, pode ser também uma liderança responsável e democrática.
1.2 Ser manso- participar demanda esforço, custo de tempo e energia. Diferente do conformismo, omissão, preguiça de pensar é não estar o tempo todo em guerra com os outros, estar disposto a convencer e a ser convencido nas discussões. Admitir existência dos conflitos e procurar resolvê-los.
2) Posicionamento e equilíbrio- entre calar-se e ser inflexível em seus pontos de vista. Seja o teu falar sim sim, não não é uma recomendação que nos conduz a interpretação de que é preciso definir-se, posicionar-se, decidir-se, ainda que pela dúvida, pela inação, seguindo, opinando ou argumentando, porém, que tenhamos consciência de nossas atitudes pois deixar de fazer, de falar ou de refletir possui igualmente conseqüências para o grupo, logo, políticas. Freqüentemente, até quando não concordamos com determinada medida, aceitamos efetivá-la pela regra da maioria. Participamos da decisão e somos responsáveis tanto quanto os outros. Daí a relevância da união ou da consciência coletiva que ultrapassa concepções e desejos pessoais. Entretanto, o grupo é, simultaneamente um reflexo de nós mesmos, individualmente, constitui uma identidade. No trabalho voluntário buscamos contribuir não só com o nosso trabalho, mas com as nossas idéias, por isso precisamos de liberdade para expressá-las e ter oportunidade de concretizar algumas delas, sem o que, deixamos de fazer parte ou pela frustração ou pelo afastamento das crenças e/ou práticas que o grupo conserva. Se não nos posicionamos, não nos informamos, terminamos alienados dos processos decisórios, deixamos que os outros façam por nós o que é nosso dever pessoal perante a própria conduta no meio social, somos o famoso “maria vai com as outras”.
2.1 O que é democracia?- (démos- povo, Kratos- poder), governo do povo. Democracia não é sinônimo de voto, este é um de seus aspectos. Democracia é elegibilidade, poder de agenda, controle dos governantes pelos governados e certa dose de confiança, manutenção da participação popular no período entre eleições, representação (de interesses do povo ou não...), delegação, liberdade de expressão, de ir e vir, de gosto e ocupação, direito à vida, a propriedade, assumindo qualquer tipo de conseqüência que puder ou efetuar-se para si ou para os outros, sem prejuízo de qualquer tipo para os semelhantes. Igualdade (perante a lei, perante Deus, a sociedade?) e fraternidade –princípios tão revolucionários que não conseguimos realizar desde a Revolução Francesa. A democracia se define antes pelos seus princípios que pelos seus procedimentos, pois, para que eles resultem no que ela preconiza, é necessário que as pessoas tenham valores democráticos. Flexibilidade, respeito, apreço pelo bem comum, comunicação, esforço de entendimento, conciliação, negociação e atenção para os objetivos da ação política.
2.2 Entendemos a crítica aqui como senso, um exercício de reflexão. Na balança estão o poder e o despoder, pois nenhum dos dois é intrinsecamente benéfico ou maléfico. Em um equilíbrio ambos coexistem, localizam-se entre a legitimidade e a contestação, crer mas saber porque crê, obedecer regras, mas perguntar-se porque obedece, estar aberto a novas possibilidades, ir ao ponto de cogitá-las, aprender e desaprender. Muitas lições que aprendemos ou práticas com as quais nos acostumamos são boas, mas não eternamente ou impassíveis de melhoria. Nem sempre o que não é plausível hoje, continuará na mesma condição amanhã, as condições para que algo aconteça podem ser intencionalmente criadas, como preparação, sem isso não haveria qualquer tipo de transformação social. Os resultados nunca são certos, podemos ter apenas alguma previsibilidade e considerar os riscos de acordo com o que sabemos (o saber é limitado e sujeito a “falhas”). Para ser livre não basta não submeter-se, é preciso não submeter ninguém, por esse motivo a autoridade está irremediavelmente ligada a seus comandados ou aos que a ela estão sujeitos. . Cuidemos para que a crítica, não tome outro significado, aquele negativo, encontrado no dicionário, como a fofoca depreciativa e a acusação. Não escapamos de julgar as pessoas, contudo, é dispensável e perigoso criar rótulos ou condená-las.
3) Dádiva e reciprocidade- como vimos acima elementos supostamente opostos ou contraditórios coexistem na dinâmica social. As relações políticas são recíprocas. A dádiva é o que mais belamente nos faz perceber isso. A dádiva é uma troca que não se esgota em si mesma, impessoal como as trocas mercadológicas. Isto porque fundamentada no princípio da reciprocidade, enunciado nas três revelações, no velho testamento e por Jesus, analisado por diversos cientistas sociais, dentre os quais destacamos o francês Marcel Mauss. A dádiva pode ser tanto igualitária, concedendo-se o que o outro é capaz de retribuir, quando redundar em dominação, com o presente veneno ou a “caridade” humilhante. Oscila entre liberdade e obrigação, interesse e desinteresse, generosidade e cálculo estratégico, apostolado e marketing, promoção e reconhecimento... É o cimento de qualquer sociabilidade, bem de acordo com a preocupação de nosso antropólogo com o que faz sociedade. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei e ninguém é tão pobre que não possa dar, nem tão rico que não possa receber, são os preceitos escolhidos como mais adequados para explicá-la em termos cristãos.

Perfeição
Dado Villa Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá


Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer da nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.

Bibliografia
Bíblia. Evangelho segundo São Mateus, por Jesus Cristo. Tradução das línguas hebraico e grego. Rio de Janeiro e Estocolmo: Alfalit do Brasil –impresso na Suécia, 2000.
BOURDIEU, Pierre. “A economia dos bens simbólicos”. Em: Razões Práticas. Capítulo 6 da transcrição de dois cursos ministrados no Collège de France, em fevereiro de 1994. Papirus.
CALLIGARIS, Rodolfo. O sermão da montanha. 13ªEd. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
DAHL, Robert. Um prefácio à teoria democrática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
ELIAS, Norbert. “Introdução: ensaio sobre os estabelecidos e os outsiders”. Em: Os estabelecidos e os outsiders.
EMMANUEL; psicografia Francisco Cândido Xavier. Rumo certo. 6ªEd. Rio de Janeiro: FEB. Lição 27, “Lutas na equipe”, p.99-101.
FERREIRA, Fernanda Flávia Martins Ferreira. Resumo de trechos da obra de John Stuart Mill, ‘sobre a liberdade’. Baseado no texto de Elizabeth Balbachevsky –“Stuart Mill, liberdade e representação”. Em: Francisco Weffort (Org.), “Os Clássicos da Política” (v.2). Junho de 2001.
FORMIGA, Eurícledes. “Quem critica”. Psicografia de Carlos A. Baccelli, em reunião pública do Centro espírita Manoel Filipe, dia 6 de novembro de 2001 –Belo Horizonte, MG. Contribuição do médium. Em: Anuário espírita 2003. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, Ide. P.202-3.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
KARDEC, Allan. Evangelho segundo o espiritismo. Trad. Salvador Gentille. 176ªEd. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1994.
QUINTANEIRO, Tânia. Resumo do texto “Modelos de Jogos” de Norbert Elias. Em: Introdução à sociologia. Dezembro de 2003.
SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994.
ZALUAR, Alba. “Exclusão e políticas públicas: dilemas teóricos e alternativas políticas”. Em: Revista brasileira de ciências sociais (RBCS), v.12, n°35, outubro de 1997.

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