segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Alguns conceitos...

Minicurso ABRAPSO 2005
Relações entre a sociologia e a psicologia social
Professora: Fernanda Flávia Martins Ferreira
Conceitos para dinâmica em grupo


Sociologia –muitas origens têm sido discutidas sobre as origens da palavra “sociologia”, do latim socius (companhia) e do grego ology (estudo de), indica sua natureza como uma disciplina híbrida que nunca poderá aspirar o status de uma ciência social ou um corpo coerente de conhecimento. A disciplina por si mesma tem uma genealogia ambivalente e uma história recente controversa como a mais nova das ciências sociais que se estabeleceu no mundo de língua inglesa. Na Bretanha, por exemplo, isso não aconteceu em larga escala até os anos 1960, quando os departamentos de sociologia foram acusados de provocar a revolta estudantil. A dificuldade de definição do assunto é indicada pela maior facilidade de entrada: nomeadamente, uma referência cruzada com qualquer outra entrada no dicionário, o que inclui teorias e conceitos desde a filosofia até a economia. De todas as ciências sociais a sociologia é a que mais de perto perscruta mudança e conflito numa variedade de fenômenos sociais. A amplitude da disciplina, e a importância dos argumentos que são disputados dentro dela, continuam a torna-la a mais excitante das ciências sociais.
Historicamente, a palavra foi usada pela primeira vez por Auguste Comte, apesar do conceito sobre a natureza da sociedade ser encontrado através da história do pensamento ocidental. Entretanto, não foi até o século XIX, sob impacto da Revolução Industrial e grandes mudanças e conflitos políticos conseqüentes, processo em que vemos a sociedade emergir como objeto direto de estudo. No trabalho de Comte, sociologia é a maior aquisição da ciência, produzindo conhecimento de leis sociais equivalentes ao conhecimento das leis da natureza.Nós poderíamos então determinar, de uma vez por todas, qual tipo de mudanças sociais são possíveis e então aliviar o caos político que se seguiu à Revolução Francesa. Isto é freqüentemente interpretado como uma reação profundamente conservadora ao otimismo liberal do Iluminismo: contra noções de liberdade individual e progresso social ilimitado, a sociologia afirma a importância da comunidade, e as comparativamente limitadas possibilidades existentes para a mudança social. Similarmente, em seu livro “A tradição sociológica” (1967), Robert Nisbet argumenta que a sociologia clássica reflete uma generalizada hostilidade pelas revoluções industrial e política daquele período. Já os Marxistas consideram-na uma disciplina claramente burguesa, desenvolvida durante o século XIX como réplica e alternativa ao crescimento do materialismo histórico. Ao mesmo tempo, a sociologia tem sido freqüentemente ligada a reformas sociais: até o positivismo de Comte foi importante no crescimento dos movimentos reformista no final do século XIX. Em Talcott Parsons encontramos talvez a explicação alternativa mais clara para a história da sociologia, em “A estrutura da ação social” (1937), na qual a sociologia se livrou de seus limites ideológicos iniciais para constituir-se como ciência no final do séc.XIX e início do séc.XX, com Max Weber e Émile Durkheim. Nenhuma dessas histórias é adequada, como demonstra o recente trabalho de Anthony Giddens, apesar da maioria dos cursos de sociologia continuar apontando Weber e Durkheim (e George Herbert Mead, nos Estados Unidos) na base dos fundamentos teóricos da moderna disciplina.
Em sua forma presente, a sociologia abraça um leque de diferentes visões, todas concernentes ao que uma ciência social deve contemplar e a matéria própria à sociologia em particular. A última proporciona talvez o melhor modo de compreender a disciplina. Há três concepções gerais do objeto de estudo de interesse da sociologia –contudo, não mutuamente exclusivos. Os três definem o estudo da sociedade, mas o que significa sociedade varia em cada caso.
O primeiro estabelece que o principal objeto para a sociologia é a estrutura social no sentido de padrões relacionais cuja existência independe e está acima de indivíduos e grupos, que ocupam posições nesta estrutura em qualquer tempo específico, por exemplo: as posições da família nuclear (mãe, pai, crianças) permanecem iguais de uma geração para outra, de um lugar a outro, independentemente de quem preenche ou não aquelas posições. Há duas versões principais desta abordagem: Marxismo, que conceitualiza as estruturas como modos de produção, e o estrutural funcionalismo parsoniano, o qual identifica sistemas, sub-sistemas e estruturas de papéis1.
Uma segunda perspectiva considera objeto próprio da sociologia algo que denominamos, com Durkheim, de representações coletivas: significados e maneiras de organização cognitiva do mundo cuja existência está acima e ultrapassa os indivíduos nelas socializados.
A linguagem é um caso paradigmático: ela preexiste nosso nascimento, continua após nossa morte, e como indivíduos podemos alterar pouco ou nada de seu conteúdo. Grande parte do trabalho estruturalista e pós-moderno (em particular a análise do discurso) pode ser vista como parte desta tradição.
Finalmente, há aqueles cujo objeto próprio da atenção sociológica é a ação social significativa, no entendimento de Max Weber. Implícita ou explicitamente o pressuposto por trás desta abordagem é a inexistência da sociedade: são meramente indivíduos e grupos entrando em relações sociais uns com os outros. Existem muitos caminhos diferentes em que a interação social pode ser estudada, incluindo as elaborações weberianas com a ação racional e as relações entre crenças e ações; o interacionismo simbólico se refere à produção, manutenção e transformação de significados na interação face a face; e a etnometodologia, estudo da construção social da realidade através das práticas lingüísticas.
Um momento de reflexão confirmará, entre outras coisas, esses três candidatos possíveis para o estudo sociológico quase exauriram o campo do que é provável encontrar durante o curso das relações sociais. Não é surpresa então, que a sociologia às vezes seja vista (pelo menos para os sociólogos) como a rainha das ciências sociais, trazendo e estendendo conhecimentos e descobertas de todas as outras disciplinas (conceitualmente mais restritas). Isto talvez seja menos verdadeiro agora que no período em que ela estava se desenvolvendo rapidamente. A despeito da inevitável especialização entre seus praticantes, há ainda uma tendência totalizante na disciplina, como a leitura do trabalho de Anthony Giddens e Jeffrey Alexander estabelecerá. Ademais, Giddens argumenta que a sociologia surgiu como uma tentativa de dar sentido a profunda transformação social entre sociedades modernas e tradicionais. E o entendimento de como aquela mudança continuaria e ganharia ritmo tornou-se mais importante.
Por esta razão a sociologia é, e provavelmente continuará sendo, duplamente uma disciplina interessante e internamente dividida que atrai um considerável pacote de críticas de quem –por qualquer motivo- é mais resistente à mudança social. Ver também ação social; ordem social, integração social e sistemas de integração.
Ver também entradas individuais sobre sociologia do envelhecimento, do corpo, do consumo, da emoção, da família, sobre a comida, a saúde e a doença, do conhecimento, da lei, do lazer, da educação, da medicina, da raça, da religião, da ciência; e verbetes como desvio, militares e militarismo, teoria da organização, sociologia política, sociologia populacional, sociologia rural, sociologia urbana, bem-estar.

Oxford Dictionary of Sociology. Trad. Fernanda Flávia. New York: Oxford University Press, 1994.

Psicologia –de modo bastante simples, podemos dizer que a psicologia é a ciência da alma ou espírito, do grego psyche (alma) e logos (discurso, ciência). Sócrates (séc. VI a V a.c) preocupou-se com os fenômenos psíquicos, Platão e Aristóteles refletiram sobre o conceito de alma. Para pensadores anteriores era uma chama, força ou movimento, para Platão (séc.V a IV a.c) o conjunto de nossas idéias que desaparece ao morrermos. Já Aristóteles (séc. IV a.c) a considera apenas como princípio da vida que anima o corpo.
Contudo, a definição anterior tornou-se obsoleta, passando pela de faculdades mentais, e, posteriormente como ciência do comportamento, a corrente behaviorista, da época em que desejava se estabelecer como ciência experimental. Esta corrente leva em consideração somente os atos exteriorizáveis e, portanto, observáveis, como atos, palavras e gestos. Não sendo estes suficientes, já que a psicologia abrange comportamentos externos e internos (sentimentos e pensamentos), podemos chamá-la ciência da experiência e do comportamento, na qual experiência designa fatos da vida interior.
O objeto da psicologia compreende os fatos psíquicos afetivos, ativos e intelectivos (tripartição tradicional), divididos em: 1) funções elementares (no nível inconsciente), subdivididas em – 1.1) automatismos afetivos (emoções primárias e tendências), 1.2) automatismos motores (reflexos, instintos, hábitos simples), 1.3) automatismos intelectuais (percepção, imagem, memorização mecânica e atenção espontânea); 2) funções complexas (no nível da consciência), subdivididas em - 2.1) funções afetivas (sentimentos, paixões); 2.2) funções intelectivas (imaginação criadora, memorização lógica, atenção voluntária, pensamento, vontade); 2.3) funções motoras (hábitos complexos e atos voluntários)2.
As discussões anteriores sugerem que o objeto de estudo da psicologia também mudou ao longo do tempo, sendo a classificação acima feita para fins didáticos, pois na realidade, no todo da vida psíquica não é possível separar fatos puramente afetivos, intelectivos ou ativos. Este todo constitui a personalidade, resultado da integração e coordenação das funções e automatismos. A personalidade reflete a organização de disposições psicológicas em termos da estrutura cognitiva, avaliativa, afetiva e comportamental relativamente estável de tendências.
Cada fato psicológico é sempre uma reação global de um organismo complexo a uma situação estimuladora. É o circuito estímulo indivíduo resposta. Os estímulos podem ser internos, como uma lembrança ou externos, como uma agressão ou um grito que nos assusta.
A psicologia, saindo de especulações predominantemente filosóficas subdividiu-se no decorrer de sua história em três ramos principais: 1) psicologia racional (preocupações filosóficas); 2) psicologia experimental (de tipo científico), que se desdobra em: 2.1) psicologia animal -estuda o comportamento animal comparando-o ao comportamento humano, 2.2) psicologia evolutiva -trata do desenvolvimento comportamental humano do nascimento a idade adulta, 2.3) psicologia social -estuda a conduta humana influenciada pelo comportamento de outras pessoas ou grupos sociais, suas pesquisas se ramificam por todos os setores em que isso ocorre;


3) psicologia aplicada: 3.1) psicologia educacional, 3.2) psicologia do trabalho (orientação, seleção e readaptação profissional) incluindo a psicotécnica, 3.3) aplicação de estudos psicológicos, especialmente de psicologia social aos problemas das relações entre as pessoas.
Obs.: Esta lista não pretende esgotar as inúmeras aplicações.

MELLO CARVALHO, Irene. Introdução à psicologia das relações humanas. 9ª Ed. Sintetizado e adaptado. Rio de Janeiro: FGV, 1978.


Psicologia Social - não é possível elaborar uma definição de psicologia social que satisfaça a todos que a cultivam como disciplina, mas a maioria dos especialistas concorda que têm como centro de seus interesses a noção de interação social. O que, como ponto de partida permite-nos dizer que é o estudo do comportamento individual, estruturas psicológicas, ambos como processos de influência mútua dos indivíduos uns sobre os outros, conjugando fatos psíquicos, personalidade e relações interpessoais, o funcionamento dos grupos e outras formas coletivas ou estruturas e processos macrossociais culturalmente definidos. O objeto da psicologia social pode ser resumido da seguinte forma: 1) a análise dos diferentes pontos da conversa durante uma discussão de grupo; 2) a investigação dos fenômenos de opinião (interações entre o indivíduo e o grupo); 3) o estudo dos fatos de cooperação ou de rivalidade entre dois ou vários grupos (interações entre grupos).
O interesse central da psicologia social se parece bastante com a abordagem da sociologia compreensiva de Max Weber, que se preocupa com as intenções dos agentes e entende a sociedade como um conjunto de relações sociais entre indivíduos. Para Weber intenções diferentes podem resultar na mesma ação e intenções iguais podem resultar em ações diferentes.
Existem muitas variações teóricas e metodológicas de acordo com a tradição acadêmica a qual pertence um psicólogo social. Como a psicologia social contemporânea possui ligações tanto com a sociologia quanto com a psicologia podemos delinear o campo em duas abordagens: 1) psicologia social psicológica - diferenciam entre o comportamento individual, as estruturas psicológicas e os processos interpessoais. Seus métodos consistem em experimentos de laboratório, campo e análise de dados amostrais com técnicas quantitativas. A preocupação central desta abordagem é identificar as influências de eventos e situações sociais nos aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais dos indivíduos. 2) Psicologia social sociológica – as distinções nesta abordagem variam de acordo com a ênfase dada nas regularidades do comportamento humano em oposição à criatividade e a aspectos emergentes do comportamento, porém, suas principais subdivisões são: interacionismo simbólico, estudos da personalidade e da estrutura social. Seus métodos giram em torno da pesquisa social através de surveys, entrevistas não-estruturadas, técnicas de observação, pesquisa documental, sendo também usados estudos de campo e laboratório, dependendo do objeto e das circunstâncias do trabalho. O foco central dos psicólogos sociais sociológicos é a causalidade recíproca entre as estruturas psicológicas individuais e as estruturas macrossociais, seus processos, bem como sistemas interpessoais.
A maior parte, senão a totalidade dos construtos sociológicos, depende da compreensão das respostas psicológicas, entretanto, tendem a abstrair, omitir ou ignorar pressupostos desta natureza, sem os quais duas explicações não podem ser generalizadas.

KAPLAN, Howard B. Encyclopedia of Sociology –Social Psychology. 2nd Edition. New York: Macmillan, 2000.

VICTOROFF, David. Dicionário de Psicologia –A Psicologia Social. Trad. Cassiano Reimão, Virgílio Madureira, Maria Luísa Munõz. Lisboa/ São Paulo: Verbo, 1978.

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