domingo, 3 de janeiro de 2016

"Feliz Ano Velho"


Era uma vez, Marcelo Rubens Paiva contando como ele era feliz, e não sabia. Até que pulou em uma cachoeira e ficou paraplégico.

Fato comum ao ser humano, parece ser preciso perder algo bom para se dar o devido valor.

Porém, jamais se comemora quando algo de bom surge de um acontecimento ruim, ou de nossos próprios equívocos hoje. Tais vitórias são ocultas. São a escrita de Deus, que faz nascer do pântano a flor de Lotus. O bem nasce do mal, a luz nasce das trevas, a alma conquista paz quando reconhece isso.

Não perdi algo de bom a que dou valor agora. Ganhei algo bom que poucos podem ver. Nada mudou, eu mudei. Inútil lutar contra a justiça. Sempre se pode, contudo, quebrar vasos de barro e lapidar o diamante. 

Feliz ano velho, adeus ano novo.

O tempo não passa para quem vive na eternidade. O valor da vida é o movimento. Tudo mudou, eu não mudei. De que adianta o mundo girar, se continuamos parados?

Poderia adentar no caos político que toma conta do país... Nas posições radicais... Nas agressões que polarizam os discursos e tornam inviáveis qualquer discussão democrática, qualquer racionalidade comunicativa no "mundo da vida" e ideal de Habermas... Roubam a sensatez, dividem os lados que se definem mutuamente como o Bem e o Mal... A figura de patético desenho animado ou grotesca representação novelística da realidade. "Muito chefe pra pouco índio". Muito dono pra pouca verdade.

Reformas políticas, sociais, econômicas ou institucionais pouco valerão se não assumirmos, cada um de nós, a responsabilidade pessoal e intransferível que cabe a mim, cabe a você, para que o mundo "la fora" seja melhor, mais justo, solidário, honesto, e, por fim, FRATERNO. Sem começar dentro de si a reforma necessária, leis se multiplicarão ao infinito pela igualdade e pela liberdade em compêndios de boas intenções. 

O caos se instala na sociedade e a dor adentra os lares sem cerimônia. O que aprenderemos com isso? Continuaremos fontes de física mecânica, reagindo com a mesma força na direção contrária? Impulsionados pela inércia do calendário, continuaremos em Movimento Retilíneo Uniforme? Sempre gravitando em torno do autoritarismo, da ganância, do poder e outros filhos do egoísmo? 

Ah! O caos! Os egípcios adoravam e temiam o deus Seth, preocupando-se em agrada-lo mais que o próprio Ra ou o irmão martirizado de Seth, Osiris, ou sua venerável mulher Isis. Pois queriam afastar o caos. E Seth foi invejoso, vingativo e assassino. Brilhante representação. Seth, o caos e nós. Nosso pensamento, nossas ações, tudo que construímos ao longo da história produz o caos. Estamos em ruínas, falidos, agonizantes. O mundo que conhecemos e arquitetamos sobre a destruição, a riqueza de poucos pela aniquilação de muitos. Não pode mais ser o mesmo. Não podemos mais ser os mesmos. Caso sobreviver seja nossa opção...

Alguém ai discorda? Vamos pensar... Muitos se sentirão tentados a me rotular de alarmista. Com o tempo a gente se enforca com a própria corda... E vai acordando.

Talvez seja conveniente agora seguir o conselhos de todos os sábios e mártires da desumanidade. Sair da ilusão dos corpos para a prontidão do espírito. Retribuir o mal com bem seria interessante. Mudar o ciclo vicioso para virtuoso...

Que o calendário me desculpe. Tempo só faz sentido com evolução. Sentir é futilidade? Moral é tolice? Razão é suficiente? Matéria esgota quem somos?

Entretanto, a velha estrutura resiste. E persiste... 
"Feliz Ano Velho".

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