Hello,
Today I decided to put my drawings on video to represent music.
I did this drawings a long time ago. You can see the originals at 2007 link, at right side of the blog site (Where you'll find my personal information and archives of the blog).
The music is religious. I don't remember who is the compositor.
Thanks,
fÊ
http://youtu.be/RZh-MKQEt68
>*< rockwords, windcolors, starfighters, faithrunning, secretskeeper, behindflowers, beyondeyes, doubthinking... Sorry, answer's not here. Everything full, everything empty, everalluniverse... OutinsideGod.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
Água de Beber, mais um da série voz e vídeo...
Música de Tom Jobim
Puxa... Apanhei do programinha... Foi mais fácil cantar a música!!! Mas aí vai um novo vídeo:
Puxa... Apanhei do programinha... Foi mais fácil cantar a música!!! Mas aí vai um novo vídeo:
sábado, 30 de novembro de 2013
Tatuagem de Saturno...
https://www.youtube.com/watch?v=x2Cg3Rsx4X0
Then...
When I was 29, I drawed a bird to make a tattoo on my back.
In that year I felt like have had a new born... Like a Phoenix. This bird represents me.
Thanks to Luciano Correa, from Divina Arte Tattoo Studio.
Music by Legião Urbana.
Then...
When I was 29, I drawed a bird to make a tattoo on my back.
In that year I felt like have had a new born... Like a Phoenix. This bird represents me.
Thanks to Luciano Correa, from Divina Arte Tattoo Studio.
Music by Legião Urbana.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Viva a bunda!
Viva a bunda!
Viva a bunda dura e o cérebro mole
O peito empinado e o coração pedra
As pernas abertas e as vaginas publicas
Viva a bunda mole e os cérebros rijos
O peito pequeno e o coração apagado
Os ternos e saltos gastos da luta
As pernas fechadas e as saias solitárias
As mães sem filhos
O filhos sem pais
Viva as "periguetes" que dão e recebem sexo
Pobres das mulheres que nem dão nem recebem amor
Viva os homens sacanas, cuja refeição e farta
Pobres homens a deriva, pelo menos sabem que estão perdidos?
Nem machismo nem feminismo, alguém sabe para onde estamos indo afinal?
Viva a bunda, viva o pinto!
Já que das almas ninguém cuida, deixemos todas na solidão.
Viva a bunda dura e o cérebro mole
O peito empinado e o coração pedra
As pernas abertas e as vaginas publicas
Viva a bunda mole e os cérebros rijos
O peito pequeno e o coração apagado
Os ternos e saltos gastos da luta
As pernas fechadas e as saias solitárias
As mães sem filhos
O filhos sem pais
Viva as "periguetes" que dão e recebem sexo
Pobres das mulheres que nem dão nem recebem amor
Viva os homens sacanas, cuja refeição e farta
Pobres homens a deriva, pelo menos sabem que estão perdidos?
Nem machismo nem feminismo, alguém sabe para onde estamos indo afinal?
Viva a bunda, viva o pinto!
Já que das almas ninguém cuida, deixemos todas na solidão.
Ps.: homenagem a todas as famosas que, GLORIOSAS, exibem pernas sem celulite e sem estrias, enquanto eu, coitada, de tanto ficar sentada estudando, trabalhando e lendo, não consigo esta proeza, e, portanto, fracassei na missão da perfeição feminina. Homenagem ao noticiário importantissimo também, que divulga essa relevante informação na TV e na Internet, tornando nossas vidas muito mais cheias de sentido e reflexão.
sábado, 24 de agosto de 2013
Sim morte, não vida
Parece que, na maioria das vezes, gastamos mais palavras para dizer "não", que para dizer "sim".
Por que "não"? O tal requer uma justificativa... Da trabalho, portanto (e preguiça a muita gente...).
E o "sim"? E auto-evidente?
Num cabo de forca, sim e não se revezam em equilíbrio, ou se estrangulam... Um exausto pela anulação, o outro, paralisado pela gordura.
Não puro e simples, "não, não quero" e mais honesto do que "não, porque blá blá blá..." (mentira/desculpa esfarrapada). E "sim" para X e "não" para Y.
Atraímos o que somos. As vezes vem o oposto (que e a mesma coisa) do Outro Lado da Moeda a nos mostrar quem somos. Enxergamos através... E atravessamos o abismo.
Por que "não"? O tal requer uma justificativa... Da trabalho, portanto (e preguiça a muita gente...).
E o "sim"? E auto-evidente?
Num cabo de forca, sim e não se revezam em equilíbrio, ou se estrangulam... Um exausto pela anulação, o outro, paralisado pela gordura.
Não puro e simples, "não, não quero" e mais honesto do que "não, porque blá blá blá..." (mentira/desculpa esfarrapada). E "sim" para X e "não" para Y.
Atraímos o que somos. As vezes vem o oposto (que e a mesma coisa) do Outro Lado da Moeda a nos mostrar quem somos. Enxergamos através... E atravessamos o abismo.
terça-feira, 23 de julho de 2013
Precarização do trabalho no serviço público
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO
PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO
PÚBLICA
TRIBUNAL REGIONAL DO
TRABALHO DA TERCEIRA REGIÃO
ANÁLISE SOBRE A
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NO SERVIÇO PÚBLICO
E
RESENHA DO ARTIGO
“OS MODOS DE SER DA INFORMALIDADE: RUMO A UMA
NOVA ERA DA PRECARIZAÇÃO ESTRUTURAL DO TRABALHO?”
Trabalhos de Sociologia das Organizações
Professora:
Neimar Duarte Azevedo
Fernanda Flávia Martins Ferreira
Belo
Horizonte, 27 de junho de 2013.
Análise sobre a precarização do trabalho
no serviço público
No que toca aos servidores públicos, podemos traçar uma
trajetória de desvalorização e precarização das condições salariais e de
trabalho na história recente, a começar pelo desmantelamento de vários órgãos
da Administração Pública no governo Collor.
Naquele momento, acabara de ser aprovado o Consenso de Washington (1989). O
Consenso decretou a inviabilidade política e financeira do Estado de Bem-Estar
Social e inaugurou a fase das políticas neoliberais para os países ocidentais
alinhados a hegemonia estadunidense. Essa conjuntura, mais a situação interna
de falência do Estado Brasileiro, deram a Fernando Collor de Mello a
legitimidade necessária para colocar os servidores públicos como marajás, corruptos
e culpados pela crise, responsabilizando os gastos absurdos com o pagamento de
um quadro administrativo ocioso por todos os problemas enfrentados pelo país.
O contexto de redemocratização recente, após a constituinte
e o governo Sarney, marcado pelo fracasso no combate a inflação, conferiu força
a esse discurso. E, além, as falhas no sistema previdenciário, nas regras de
aposentadoria, corrupção, patrimonialismo, clientelismo, uma estrutura
legalizada de privilégios e enorme poder discricionário conferido a altos
funcionários na contratação de servidores, corroboraram essa campanha contra os
servidores públicos. E, de fato, acabou prejudicando enormemente não só os
servidores públicos, mas também os serviços públicos.
Por um lado, essa busca exacerbada por um "Cristo"
ou "Bode Expiatório", deu a contribuição de trazer para o âmbito da
reflexão e da discussão pública a necessidade de realizar mudanças
legislativas, estruturais e culturais, na Administração Pública brasileira. Com
pouca ou muita experiência sabe-se que no poder judiciário há casos de
juízes/desembargadores que colocaram suas empregadas domésticas como servidoras
públicas. Sendo essas analfabetas, muitas delas sequer chegaram a por os pés em
qualquer setor do tribunal, embora recebam aposentadoria como analistas
judiciárias, cargo de nível superior. Mais que isso, quem recebe esse valor não
são elas, e sim aquele que as colocou nesse cargo, configurando, além de
imoralidade, crime administrativo e penal. Caso menos gritante, porém ainda de
indignar um cidadão ou cidadã, são os (as) servidores (as) com escolaridade de
ensino fundamental que se aposentam como analistas judiciários, com remuneração
que pode ultrapassar facilmente a cifra de R$ 12.000,00. Havia resoluções que
conduziam um conjunto de servidores para a ascensão funcional sem critérios de
avaliação, nem mesmo concurso interno. Hoje grande parte dos técnicos
judiciários possui graduação e até pós-graduação, mas só poderão receber
remuneração correspondente a sua escolaridade se forem aprovados em concurso público,
nomeados e tomarem posse num cargo de nível superior, como qualquer pessoa que
ainda não seja servidora do tribunal. Ouvimos vários depoimentos de pessoas com
20 anos ou mais de serviço no TRT: os relatos se repetem, cultura do favor, do
setor público como "cabide de empregos", patrimonialismo com pouca ou
nenhuma preocupação com a qualidade dos serviços prestados à população.
Os servidores públicos, por sua vez, de uma situação muito
privilegiada, de um seleto grupo que ainda aufere benefícios absurdos diante
das desigualdades do país, passaram a desvalorização por parte dos governos e
ao desprestígio social. A exceção a esse quadro ainda é o atrativo da estabilidade,
suficiente para movimentar a indústria dos cursos preparatórios. Esse fenômeno
é, inclusive, uma consequência da precarização estrutural do trabalho nas
sociedades capitalistas, somada ao fraco desenvolvimento da industrialização e
da economia de mercado em diversas regiões brasileiras, bem como dos os
problemas educacionais brasileiros que agravam a situação daqueles que buscam
um emprego. Hoje o analfabetismo foi bastante reduzido e a educação básica tornou-se
praticamente universal, mas cresceu o analfabetismo funcional. Isso significa
que as pessoas passam pela escola, mas saem dela sem desenvoltura linguística.
Têm dificuldade para escrever, para compreender e interpretar o lêem. Se falar
no problema da capacitação profissional, escassa, porém, cada vez mais exigida
pelas empresas.
Mas a lógica neoliberal de redução do Estado, considerando a
administração pública como ineficiente a priori e a iniciativa privada como
esfera da excelência[i]
deixou herança indelével, cujas consequências repercutem atualmente. O governo
Itamar, em substituição ao presidente Collor, cujos direitos políticos foram
cassados por oito anos, seguiu sem grandes alterações do "desmonte"
do Estado operado pelo seu antecessor.
"Foi uma verdadeira loucura -afirmou
servidor aposentado, dando seu depoimento- o Collor colocou o ministério
inteiro em uma única secretaria, eu não tinha onde me sentar para trabalhar e
não havia onde guardar os processos."
Porém, ao assumir Fernando Henrique Cardoso prosseguiu com a
agenda neoliberal do Consenso de
Washington, dessa vez planejando uma reforma do Estado que atendesse a
necessidade de recuperar o equilíbrio macroeconômico do país, as contas
públicas e o orçamento fiscal da União. Desse modo, o Plano de Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE, 1995), do ministro
da administração federal e reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira, foi
aplicado prioritariamente naquilo que forneceu para atingir os objetivos da
equipe econômica, a exceção do fortalecimento do núcleo estratégico, ou
carreiras consideradas de Estado.
Uma das propostas de reforma aplicadas àquela época foi a
substituição dos servidores públicos pela contratação de mão-de-obra
terceirizada, para a prestação de serviços de natureza auxiliar ao Estado,
alheios às atividades administrativas ou finalísticas, como serviços de
limpeza, transporte e vigilância. No entanto, a herança Collor e a ausência de
concursos públicos, até mesmo para reposição dos quadros governamentais,
conduziram a uma terceirização generalizada dos serviços públicos, muito além da
proposta inicial. O Estado vazio de servidores públicos e cheio de funcionários
terceirizados foi apenas um resultado da desvalorização do servidor público. A
precarização do trabalho ocorre tanto para servidores quanto para
terceirizados. Não é preciso ir muito
longe do ponto de vista técnico-jurídico para perceber essa injustiça. Nos governos
FHC, Lula, e, atualmente, Dilma, ocorrem periodicamente licitações que
selecionam diversas empresas para fornecimento de mão-de-obra terceirizada aos
ministérios, e assim: os funcionários José, Maria e João saem da empresa X que
perdeu a licitação e vão para a empresa Y que ganhou. A empresa X os demite e
não lhes paga os direitos trabalhistas da rescisão contratual, o Ministério
também não. Se quiserem terão que acionar a justiça do trabalho. Esses
trabalhadores iniciam novo contrato de trabalho com a empresa Y, e novo período
aquisitivo de férias. Isso resulta em funcionários sem descanso por pelo menos
dois anos seguidos, a cada vez que se encerra um contrato e a licitação concede
vitória a outra prestadora. Ademais, qualquer direito que a empresa Y deixe de
pagar a eles, como auxílio transporte ou alimentação (o que acontece), e
estarão completamente desamparados pelo órgão contratante da empresa.
O § 6º do art. 37 da CF/88 estabelece que a responsabilidade
do Estado é objetiva, mas a lei estabelece que em relação ao trabalhador a
responsabilidade do Estado é subjetiva. Responsabilidade objetiva significa
que:
“(...) o particular não precisa provar a
culpa para pleitear a indenização. Tal responsabilidade fundamenta-se no risco
que o Estado oferece a seus Administrados no exercício de suas atribuições e
com isso na possibilidade de potencial lesão ou de injustiça; assim, a teoria
objetiva reconhece a obrigação do Estado e lhe atribui o dever de indenizar a
vítima independentemente de dolo ou culpa do Agente Público.” (Souza, 2008:
54)
Já a responsabilidade subjetiva coloca o Estado em pé de
igualdade com o indivíduo/cidadão, pois nela admite-se “(...) a
responsabilidade do Estado nos moldes do Direito Civil, ou seja, o administrado
(...)” (Idem) tem que provar a culpa do Agente Público para pleitear a
indenização. Assim, a responsabilidade do Estado diante do trabalhador
contratado via terceirização equipara-se às empresas que, na esfera privada,
efetuam contratação do mesmo tipo de serviço, assumindo papel apenas
subsidiário no cumprimento das obrigações relativas ao contrato de trabalho.
A terceirização constitui burla a regra constitucional do
concurso público e viola o princípio da isonomia. No governo Lula o Ministério
Público Federal, ao verificar irregularidades na contratação de funcionários do
Poder Executivo, com quase totalidade de seus quadros administrativos compostos
por funcionários terceirizados, estabeleceu em acordo com o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão para a realização de concursos públicos,
acabando com a ocupação de cargos públicos por meio desse tipo de contratação
precária. Essa situação foi objeto de denúncia, pois muitos candidatos
aprovados dentro das vagas ofertadas nos editais deixaram de ser nomeados por
terem suas vagas ocupadas por contratados temporários ou de terceirização, e só
conseguiam tomar posse pela via judicial.
No entanto, para aqueles que ingressaram nos ministérios a
partir dos concursos realizados para finalmente cumprir a determinação
constitucional ignorada pela política neoliberal, o contexto encontrado foi de
rivalidade e hostilidade por parte dos terceirizados que permaneceram nos
ministérios. E essa hostilidade se traduz em perseguição, calúnia, difamação e
assédio moral para muitos servidores, concebidos por eles como usurpadores,
especialmente quando se sentem ameaçados por um(a) servidor(a) cuja competência
e reconhecida pela chefia. Essa realidade grotesca dos ambientes organizacionais
infelizmente não é isolada ou restrita a ministério W ou Z, é um fenômeno
recorrente na Esplanada dos Ministérios.
Adicione-se a essa receita excelente para a saúde o
corporativismo entre os membros das carreiras de Estado. Isso significa que os
novos servidores são considerados também por essa outra categoria de servidores
como ameaçadores, especialmente na conquista de cargos de confiança, os cargos
de direção e assessoramento (DAS). Enquanto tolera-se a presença de servidores
ociosos nessas carreiras, que não cumprem o horário de trabalho ou sequer comparecem,
sem qualquer justificativa, sobrecarregando de trabalho os colegas ou os
servidores do quadro administrativo, esses mesmos integrantes da carreira de
Estado fazem um dossiê sobre esse tipo de conduta da parte de um servidor da
área administrativa, para ser entregue ao ocupante do cargo mais alto abaixo do
secretário executivo e do ministro. Muitos integrantes dessa carreira de Estado
agem inclusive como se fossem outra categoria de pessoas, seres humanos
superiores, pertencentes a uma casta que não se mistura com as demais. Isso
significa que simplesmente não se relacionam com servidores da área
administrativa, não conversam, não cumprimentam, e se sequer sabem seus nomes,
a não ser que isso seja absolutamente necessário para suas atividades. Não
entrarei nessa seara para falar dos garçons, das copeiras, porteiros e
faxineiras. Pois se os servidores são tratados dessa maneira, imagine esses,
que sequer a uma casta inferior pertencem... Casta superior não atende
telefone, não deixa recado, não busca cafézinho para o colega, não tira Xerox,
não carimba processo, não limpa a própria sujeira, discrimina serviço inferior
de superior como separa pessoa inferior de superior, não regula a temperatura
do ar condicionado pensando na casta inferior que se senta à mesa ao lado. E
não contrarie quaisquer interesses da casta superior, mesmo com o aval da
diretoria, seu futuro estará perdido no setor, talvez até no ministério.
Os servidores são tratados como idiotas incompetentes por
definição e o desvio de função varia ao sabor das conveniências da chefia e de
seus colegas de classe. Se há algo que ninguém da casta superior quer fazer,
lembra-se daquele (a) servidor (a) da área administrativa, de nível superior,
capacitado para realizar a tarefa. Se o servidor de nível médio não faz, ou faz
errado, ao de nível superior se passa a tarefa, se não tem servidor da carreira
de Estado para o serviço, ensina-se ao da área administrativa o que fazer em
seu lugar sem receber um centavo a mais por isso. Se aparece um servidor da carreira
interessado, o administrativo é retirado, sem qualquer satisfação. A chefia
passa todos os dias na sala dos colegas para conversar e dar bom dia, mas na
sala dos servidores da área administrativa, quase nem aparece, só para passar
tarefas extra cotidianas.
De fato, a preocupação do Ministério da Administração
Federal e Reforma do Estado (MARE) com o núcleo estratégico gerou quadros
altamente qualificados para liderar quadros administrativos altamente defasados
e precarizados. Em alguns ministérios, ainda nos dias atuais, mal há
servidores, como no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS)
ou no Ministério da Saúde (MS). O primeiro é povoado por consultores,
especialmente contratados via PNUD[ii], no
segundo a carreira é tão ruim, que predominam os comissionados. O que pode
fazer pelo Estado brasileiro, em termos de gestão e políticas públicas, um
núcleo estratégico altamente capacitado diante desse contexto administrativo
desolador?
O ambiente e a cultura organizacional
Para completar esse cenário, a presidente e seus prepostos
não têm política de gestão de pessoas, a não ser quando é para tratar os
servidores de modo autoritário e repressivo, como bandido ou culpado, até que
prove o contrário. Corrobora-se aí o alardeado preconceito do servidor
corrupto, desidioso, despreparado e ineficiente, ao invés de buscar
capacitá-lo, incentivá-lo e valorizá-lo em sua carreira e local de trabalho como
servidor do público. Estabelecem
ponto eletrônico em plena era de flexibilização das jornadas de trabalho e
priorização de resultados e produtividade. Com isso, a não ser na real
necessidade de atribuições que exigem atendimento ao público, conseguirão
manter os (as) servidores (as) no local de trabalho por tempo milimetricamente
controlado. Porém, aqueles que são ociosos, hoje uma minoria, continuarão
ociosos, e aqueles que trabalham, serão punidos, pela ausência do pagamento de
horas extras ou banco de horas - além de contarem com mais um mecanismo de
perseguição por parte de colegas e chefias. Pois a avaliação de desempenho,
principalmente para aqueles que pertencem às carreiras superiores, é feita de
modo ritualístico, igualando o incompetente ao competente. Logo, resolve-se o problema da presença no
local de trabalho, mas persiste o problema da produtividade. Afinal, as pessoas
estão em suas mesas fazendo o quê?
O abandono de uma pessoa assídua ao local de trabalho, sem
que a ela sejam dadas tarefas anteriormente prometidas, dando a outro
funcionário sem qualquer justificativa, ou abandoná-la em sobrecarga de
trabalho com a falsa promessa de um funcionário para dividir a carga seria
também, no conjunto dessa obra, assédio moral?
Toda essa história, a se desenrolar nos bastidores do
serviço público, de fazer inveja às novelas, transforma os servidores, frequentemente,
em colecionares de doenças como insônia, depressão e ansiedade.
Essa postura de competitividade destrutiva de pequenas
crueldades cotidianas agrava-se pela atuação, conivência ou omissão das
chefias, que tratam os (as) servidores (as) como lixo. Para completar, a
disparidade exacerbada entre as carreiras, a atualização remuneratória de
algumas em detrimento de outras, reproduz no interior do Estado a estrutura
social de injustiça evidenciada pela enorme distância entre ricos e pobres no
Brasil, oriundas da extrema concentração de renda em uma diminuta parcela da
população.
O controle da jornada de trabalho mediante ponto biométrico
pode ser considerado moralizador, organizador do ponto de vista formal, mas é
primário do ponto de vista educacional. Piaget estabeleceu três estágios de
desenvolvimento humano: a anomia, a heteronomia e a autonomia. Anomia é
ausência de normas, o indivíduo não limita sua conduta por parâmetros legais,
morais ou éticos, no limite, é um psicopata. O indivíduo heterônomo segue as
regras, mas porque teme a punição, a sanção externa. O indivíduo autônomo, por
sua vez, interioriza de forma crítica normas formais, informais e preceitos
morais, pautando sua conduta pelo que considera justo para si e para os outros.
A sanção do indivíduo é, pois, interna, independente de coerção social (Piaget
in Alves, 2001: 116-118). Logo, que tipo de ser humano a repressão e o excesso
controle patrocinam? É a cultura hierárquica e autoritária cuja herança
perversa persiste e se reproduz nas salas e corredores das repartições
públicas, assumindo novas formas, atualizadas ao século XXI.
Na justiça do trabalho, o tele trabalho, a princípio um
avanço, é acompanhado de maior exigência em metas de produtividade, ou seja,
horas extras gratuitas. Muitos assumem o encargo de assistente de juízes e
desembargadores sem recebimento de função, e, quando recebem, são premiados
tanto quanto os "sem função", com a sobrecarga de trabalho e uma jornada
prolongada a fins de semana, feriados e até mesmo férias, ficando 24h à
disposição de suas chefias (juízes/desembargadores) para a recepção de
telefonemas pedindo ajustes ou alterações nos votos ou decisões monocráticas.
São eles que julgam em lugar das excelências, mas como se elas fossem,
moldando-se a seus posicionamentos jurídico-doutrinários. Pode haver quem
valorize status e remuneração acima
de saúde e vida pessoal e tenha prazer nesse trabalho intelectual sem
autonomia...
Nos âmbitos das administrações estaduais e municipais a
situação é ainda pior, a começar pela estrutura remuneratória. Um cargo técnico
de nível superior na Prefeitura Municipal de Contagem era (no ano de 2006) remunerado
mensalmente com R$ 1.473,00, que se tornavam R$ 1.273,00 após o desconto
previdenciário, com uma jornada de 40h semanais, sem auxílio transporte ou
alimentação. Adicione-se a isso um trabalho diário em total desvio de função,
atendendo telefonemas no lugar da secretária que não deseja fazer seu trabalho,
respondendo à mesma pergunta de cinco em cinco minutos porque a prefeitura não
assume uma posição diante do problema, atuando no lugar da assistente social de
licença que ninguém pode substituir, nem mesmo a outra assistente social do
setor, sem qualquer competência para tanto, pois o edital exigia uma pessoa com
formação sociológica. Contudo, a chefia, além de atribuir tarefas desprovidas
de qualquer sentido para o (a) servidor (a), inclusive por entender muito pouco
do que está fazendo, concede uma jornada de quatro horas diárias para os
servidores antigos, enquanto obriga os novatos a cumprir as oito horas normais.
Obviamente, qualquer pessoa com um mínimo de ambição, deseja livrar-se
rapidamente desse emprego frustrante e mal pago, ingressando em uma carreira
melhor e mais satisfatória. Ora, isso somente contribui para a continuidade do
sucateamento estrutural das administrações públicas locais, incompetentes para aplicar
ou gerir quaisquer políticas que possam beneficiar os cidadãos. Haja vista a
aplicação clientelista e corrupta da política habitacional em Contagem, que
gerou a interrupção do Programa de Arrendamento Residencial (PAR, financiado
pela Caixa Econômica Federal) no município, e ainda uma investigação dos
governos A e B, pela venda de lugares em fila de espera ou compra de votos
mediante colocação de pessoas à frente, para obtenção de moradias populares, da
parte de vereadores, eventualmente integrantes do partido de situação. É melhor
ignorar o que mais acontece em outras prefeituras do interior de Minas Gerais.
Silêncio sobre as injustiças presenciadas ao ir às ruas e verificar a aplicação
desigual, baseada tão somente em interesses eleitorais, na aplicação do
programa Bolsa Moradia.
Morte aos pobres, vida longa aos nossos queridos
politiqueiros! Também é graças a eles que os servidores públicos, além de serem
desvalorizados, mal remunerados, perseguidos e sofrerem com sobrecarga de
trabalho, ainda contam com baixa estima social herdada da corrupção passada e
presente das poucas, mas destruidoras ervas daninhas que ainda vicejam no
Estado brasileiro.
A estrutura e o direito administrativo
A separação tradicional feita na teoria da administração
entre staff e linha, atividade meio e
atividade fim vem sendo criticada. Por ser preconceituosa e compartimentada, essa
divisão tornou-se obsoleta, pois desconsidera que as atividades administrativas
são essenciais à sobrevivência da organização e que podem ser tão ou mais
complexas que as atividades finalísticas. Entretanto, tal ideia é dominante na
Administração Pública Federal, tanto no Poder Executivo quanto no Poder
Judiciário.
Outra crítica, feita na Agenda
Nacional de Administração Pública (Unger & Johannpeter, 2009:13) é a
defasagem e rigidez do Direito Administrativo brasileiro, sem espaço para o
controle social e a participação democrática nas políticas, seguindo sem
reformas e atualizações ao longo de sucessivos governos e legislaturas.
Ademais, nossa burocracia conta com uma estrutura burocrática inflexível,
piramidal que se mantém intacta e refratária às demandas sociais e até mesmo
políticas. Esse talvez seja um aspecto que requer mudanças, com a adoção de
estruturas mais horizontalizadas. Mais uma vez as teorias administrativas nos
fornecem subsídios, trazendo formas de estruturação organizacional divisionais,
matriciais, por funções, equipes ou em redes, que podem ser combinadas em um
mesmo órgão ou nos diversos órgãos da Administração Pública, adaptadas conforme
as necessidades de cada setor e as vantagens que se queira obter delas.
Na área de gestão de pessoas a teoria da hierarquia das
necessidades de Maslow é reveladora. Em primeiro lugar precisamos atender
nossas necessidades fisiológicas (sede, sono, fome, e outras ligadas à
sobrevivência biológica), em segundo lugar estão as necessidades de segurança
(proteção contra perigos físicos e emocionais). Atendidas essas buscamos as
necessidades sociais de afeição, filiação, amizade, aceitação. Em quarto lugar
estão as necessidades de estima, ligadas a fatores internos e externos. A
auto-estima, o auto-respeito, autonomia e o senso de competência. Os fatores
externos desse patamar correspondem a status,
reconhecimento, prestígio, atenção e consideração. Em quinto e último lugar,
Maslow coloca as necessidades de auto-realização. São as mais elevadas do ser
humano. “Constitui o impulso de ser aquilo que é capaz de ser e de maximizar as
aptidões e capacidades potenciais”, esses desejos incluem “crescimento pessoal
e alcance de plena potencialidade da pessoa. Nessa teoria, (...) quando uma
necessidade é relativamente satisfeita, a próxima necessidade mais elevada
torna-se dominante no comportamento da pessoa” (Godoy, 2009:15).
No contexto atual de precarização das carreiras públicas e
alta rotatividade dos quadros de servidores, torna-se importante manter as pessoas
nas organizações. Nesse sentido, parecem-nos equivocadas as formulações que
reduzem o servidor público ao homo
economicus, cujo interesse exclusivo no aumento dos patamares
remuneratórios reduz a motivação às formas de pagamento variável atreladas à
produtividade e desempenho. É uma crítica aplicável inclusive à Agenda Nacional de Administração Pública,
a qual se enquadra perfeitamente às tendências atuais de incluir parcelas
variáveis nas remunerações dos servidores e conceder aumentos irrisórios às
categorias especificamente nessas parcelas, mantendo o vencimento básico
praticamente congelado e diminuto diante das perdas inflacionárias.
As pessoas não desejam apenas dinheiro. Essa é a explicação
de casos testemunhados de servidores abandonando a carreira de Analista de
Comércio Exterior pela de Auditor de Finanças e Controle (ambas carreiras de
Estado) ou um cargo de Consultor Legislativo no Senado (cerca de R$ 18.000,00) pela
carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (R$
13.000,00), em função de insatisfação profissional, seja em relação a tarefas,
seja em relação ao ambiente e à cultura organizacional.
Atualmente, muitos concurseiros aprovados em cargos de nível
intermediário possuem formação universitária, ou mais, são graduados e
pós-graduados, ou seja, são demasiadamente capacitados para as atribuições do
cargo. Ao concorrer a uma vaga como essa a pessoa deve aceitar conscientemente
as atribuições do cargo, ainda que estejam aquém de suas capacidades. Mas, nada
impede que, ocorrendo necessidade da administração, sua competência seja
reconhecida e que elas possam exercer atividades de maior responsabilidade e complexidade.
Isso em administração se chama enriquecimento de cargo ou Job Enrichment. Está claro que, o enriquecimento de cargo possui um
aspecto explorador do trabalho, ao aumentar a responsabilidade do funcionário
sem que isso implique, necessariamente, em aumento de remuneração. Contudo é
uma medida válida, ao considerarmos a teoria da hierarquia das necessidades de
Maslow, pois atende aos fatores externos de estima, no quarto nível e pode até
chegar a atender a necessidade de auto-realização do servidor, no quinto nível.
Infelizmente, flexibilização das estruturas organizacionais
para atendimento de demandas sociais e enriquecimento de cargos são impossibilidades
legais na Administração Pública brasileira. É preciso dizer que são
frequentemente impossibilidades culturais também. As avaliações de desempenho,
além de serem recorrentemente esvaziadas de real esforço avaliativo, costumam
também serem eivadas de vícios. Por que os servidores podem se avaliar
mutuamente nos moldes 360º, mas a chefia é avaliada somente por seu superior
hierárquico? Avaliações entre iguais também podem resultar em injustiças,
refletir antipatias e perseguições. Por que um chefe não pode ser avaliado por
seus subordinados se é com eles que convive cotidianamente? A avaliação do
chefe por seu superior hierárquico tende a ser apenas técnica, mas e o aspecto
da liderança vivenciado pelos subordinados? O chefe avalia o funcionário e o funcionário
não tem direito real de defesa diante de qualquer queixa que o chefe acolha de
um colega e que reflita em sua avaliação. Assim, se o chefe possui uma queixa
do subordinado e o avalia bem, é um favor que faz a ele, mesmo que tenha
acabado de cometer uma injustiça! Logo, se a avaliação 360º deve ser vista com
reservas, a avaliação da chefia pelos subordinados também. Entretanto, isso não
justifica que as avaliações recíprocas sejam meramente descartadas em nome da
hierarquia funcional. Com isso, muitos chefes vêm cometendo assédio moral,
assédio sexual, omitindo-se e/ou sendo coniventes com posturas antiéticas,
persecutórias, ilegais e imorais, porém, seguem impunes e intactos em suas
posições de poder. Ao servidor só restam por alternativas: fuga do órgão ou do
setor e adoecimento. Com esses vícios: a) flexibilização estrutural é bagunça;
b) desvio de cargo é ilegal, mas prática utilizada à vontade, conforme a
conveniência das chefias (ou seja, aleatoriamente, sem qualquer critério,
reconhecimento ou sentido de Job
Enrichment); c) trabalho em equipe é conto de fadas; e d) competição é
darwinismo social.
“Os modos de ser da
informalidade: rumo a uma nova era da precarização estrutural do trabalho?”
Ricardo Antunes
O autor considera ainda mais válida para esse início de
século XXI a análise de Karl Marx sobre o Capital. Marx descreve a tendência a
reduzir o trabalho vivo diretamente empregado na produção como uma das grandes
tendências e processos do capitalismo.
Esse fenômeno vem assumindo diversas formas na Modernidade
Tardia[iii],
mas todas elas marcadas pela corrosão do trabalho contratado e regulamentado.
Empregadas domésticas trabalhando até 90 horas semanais, com apenas uma folga
por mês; terceirização do trabalho; conversão do cooperativismo dos trabalhadores
em cooperativismo patronal para erodir ainda mais direitos trabalhistas;
empreendedorismo; trabalho voluntário; trabalho escravo de imigrantes, cortadores
de cana-de-açúcar tirando de 10 a 18 toneladas por dia; operários japoneses e
migrantes dormindo em cápsulas de vidro; ausência de políticas de gestão e
capacitação de pessoas, planos de carreira defasados e tratamento autoritário
dos servidores públicos por parte de governantes, expansão da informalidade,
dos contratos temporários... Enfim, sob novos e velhos mecanismos de
intensificação da exploração do trabalho, a empresa capitalista global amplia
formas geradoras de valor sob aparência de não-valor e gera desemprego
estrutural em escala transnacional.
Entre os modos de ser da informalidade existem os
trabalhadores informais tradicionais: pedreiros, costureiras, jardineiros,
faxineiras, vendedores (as) ambulantes de produtos de consumo imediato, como
roupas, alimentos e cosméticos, sapateiros, camelôs, empregados domésticos,
oficinas de reparos, encanadores, eletricistas, bombeiros. Existem também
aqueles que conjugam o trabalho formal com os chamados bicos, para complementar
a renda, trabalhando nos momentos de folga. Nessa categoria também se inserem
faxineiras, além de digitadores, salgadeiras e a confecção de artesanato. A
situação de informalidade pode ser adotada num momento de desemprego e acabar
se tornando permanente. A informalidade em geral se aplica a situações de renda
muito baixa, sem acesso a direitos sociais e trabalhistas básicos, como
aposentadoria, férias, auxílio-doença, FGTS, licença-maternidade.
Outra modalidade de trabalhadores informais são aqueles
assalariados sem registro ou sem carteira assinada, como ocorre na indústria
têxtil e de calçados. Uma quarta modalidade é a dos trabalhadores informais por
conta própria. São produtores de mercadorias simples que podem subcontratar
força de trabalho assalariado e/ou empregar mão-de-obra familiar com ou sem
remuneração. Nessa seara proliferam pequenos negócios em torno de grandes
corporações que determinam os limites de sua atuação em áreas de produção,
comércio e prestação de serviços.
A precarização estrutural do trabalho ocorre,
contraditoriamente, num discurso de responsabilidade social e qualidade total
das empresas. Mas, é preciso ressaltar, a despeito da análise do autor, que
realmente vem surgindo algumas práticas de responsabilidade social da parte das
empresas, ainda que isso aconteça com interesses fiscais e para alcançar maior
aceitabilidade social. É o caso dos supermercados que instalam postos de coleta
seletiva do lixo em seus estacionamentos, incentivam o uso de sacolas
retornáveis e só fornecem sacolas de plástico orgânico de rápida decomposição
no solo. Aliás, a abundância de contradições também é uma característica do
capitalismo, coexistindo no interior de empresas e mercados essa lógica
destrutiva e intensificadora do sobretrabalho com discursos e/ou diversas
práticas sustentabilidade. Em verdade, é interessante verificar a hipótese de que
mais vale uma boa imagem social, do que boas práticas internas em relação a
empregados e ambiente de trabalho. Às vezes, vale a filosofia: “não é preciso
ser, basta aparentar ser”.
A qualidade total é realmente um contra-senso ao se
constatar que as mercadorias são produzidas para durabilidade limitada, visando
descarte rápido e compra de novo produto para substituí-las, com o objetivo de
fazer girar cada vez mais rápido a roda do mercado. Prevalece a tendência “decrescente do valor
de uso das mercadorias”, aproximando descarte do trabalho a superfluidade da
produção em geral. Isso em parte se deve a velocidade dos avanços tecnológicos,
mas até mesmo esses são direcionados de modo a emperrar o uso das mercadorias,
obrigando o consumidor a nova compra em períodos de obsolescência programada.
Afinal, é como diz a música da banda Engenheiros do Hawaii...
3ª
Do Plural
Corrida pra vender cigarro
Cigarro pra vender remédio
Remédio pra curar a tosse
Tossir, cuspir, jogar pra fora
Cigarro pra vender remédio
Remédio pra curar a tosse
Tossir, cuspir, jogar pra fora
Corrida pra vender os carros
Pneu, cerveja e gasolina
Cabeça pra usar boné
E professar a fé de quem patrocina
Pneu, cerveja e gasolina
Cabeça pra usar boné
E professar a fé de quem patrocina
Eles querem te vender,
Eles querem te comprar,
Querem te matar (de rir),
Querem te fazer chorar
Eles querem te comprar,
Querem te matar (de rir),
Querem te fazer chorar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são? (4x)
Quem eles pensam que são? (4x)
Corrida contra o relógio
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Silicone contra a gravidade
Dedo no gatilho, velocidade
Quem mente antes diz a verdade
Satisfação garantida
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida
Antes mesmo da largada
Obsolescência programada
Eles ganham a corrida
Antes mesmo da largada
Eles querem te vender,
Eles querem te comprar
Querem te matar (a sede),
Eles querem te sedar
Eles querem te comprar
Querem te matar (a sede),
Eles querem te sedar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são? (4x)
Quem eles pensam que são? (4x)
Vender, comprar, vendar os olhos
Jogar a rede... contra a parede
Querem te deixar com sede
Não querem te deixar pensar
Jogar a rede... contra a parede
Querem te deixar com sede
Não querem te deixar pensar
Quem são eles?
Quem eles pensam que são? (2x)
Quem eles pensam que são? (2x)
Quem são eles?
A expansão da precarização do trabalho convive diariamente
com a substituição do ser pelo ter na sociedade de consumo, em que status se
define por quantidades e marcas de bens adquiridos, alienação do trabalho e
alienação da realidade no divertimento, pão
e circo para que não se pense nem no ontem, nem no hoje, nem no amanhã,
numa busca desenfreada por mais e mais bens materiais e conforto. É mais uma
contradição, pois como quem é desprovido do trabalho digno poderá se candidatar
aos padrões atuais de consumo?
Se o cidadão não se identifica e não se auto-realiza com seu
trabalho e está fora das relações consumistas, acabam buscando formas de
individuação e socialização nas “esferas isoladas do não trabalho”, como
atividades de formação, benevolência e serviços. Permito-me discordar de
conceito tão restrito de trabalho, considerando-o somente aquele que possui
retribuição monetária. Os serviços domésticos da dona de casa também constituem
trabalho, embora não sejam remunerados. As atividades de estudo também são
trabalho, embora muitas vezes o aluno pague para estudar. Colocar preço em tudo
é um movimento exatamente contrário ao discurso crítico da precarização do
trabalho, ao admitir que a vida humana só possa realizar-se inserida na relação
empregatícia formal entre capital e trabalho, e, portanto, só tenha valor
quando puder ser também precificada. Dessa maneira, na atual conjuntura,
legitimamos a concepção subjacente ao sistema de dar bem pouco valor à vida
humana... Principalmente se ela estiver fora do mercado. É de se questionar se
o sentido da vida é somente trabalhar para sustentar a vida material e
dedicar-se a família consangüínea. Cada um vivendo para si mesmo e para os seus
na sua esfera privada. Essa é apenas a filosofia liberal individualista
compatível com o sistema econômico vigente.
Na verdade, o que a globalização tem nos mostrado em escala
mundial é a incompetência dos capitais para inclusão e humanização das relações
sociais. A crise revela o sentido da mudança.
ANEXO
Alguns dados para reflexão...
·
O crescimento do emprego público no país desde
1930 não alcançou os índices de países centrais. Em 1982 a proporção do emprego
público na População economicamente ativa (PEA) nos EUA era de 16,6%, enquanto
que no Brasil, em 1986, era de 8,16% - será que, a culpa da falência do Estado
em 1990 era realmente do excesso de servidores públicos? (Gomes, Silva e Sória,
2012: 167)
·
A adesão do Brasil ao Consenso de Washington nos
anos 1990 destacou o funcionalismo como ponto fundamental na agenda das
reformas. Os governos desde então tendem a tratar o emprego público como um
problema fiscal, atuando no sentido de restringir sua dimensão; (Idem, 167-8)
·
Nos países centrais também houve piora das
condições de trabalhos dos servidores públicos, com crescimento da parcela
variável na estrutura remuneratória, intensificação do trabalho e precarização
do vínculo pela ampliação de contratos temporários (Idem, 167);
·
De 1992 a 2001 a PEA cresceu 2,1% ao ano,
enquanto o percentual da população ocupada cresceu apenas 1,8% ao ano. Assim
cresceram as taxas de desemprego, de 7,2% em 1992 para 10,1% em 2001 (Idem,
168);
·
A baixa geração de postos de trabalho atingiu
mais fortemente a criação de empregos formais: em 1989 51,9% do total da
população ocupada tinha emprego formalizado, em 1999 esse percentual passou para
42,8%. Parcela que se tornou mais heterogênea pelas novas modalidades
contratuais introduzidas nos anos 1990, como os contratos em tempo parcial e
temporários (Idem, 168-9);
·
Verificou-se também nos anos 1990 a redução do
quadro de servidores públicos na esfera federal e estadual, mas houve ampliação
no plano municipal pelo aumento no número de municípios e descentralização da
execução de políticas públicas, conforme determinações da Constituição de 1988;
(Idem, 169)
·
No governo Collor houve fechamento de órgãos,
privatização e demissão sumária de servidores, mas limitações da legislação
impediram o ajuste do funcionalismo pela via da demissão. Então, optou-se pela
limitação no ingresso de novos servidores, via contenção e suspensão da
realização de concursos públicos; (Idem, 169)
·
A falta de diagnóstico levou o governo a
conceber o problema ainda como excesso de servidores, mas em 1997 perceberam
que o problema residia na folha de inativos, ou seja, na Previdência Social; (Abrucio,
2005: 52)
·
O governo FHC trouxe reformas pelas Emendas
Constitucionais nº 19 e 20, aprovadas em 1998. Essas emendas alteraram o
regime, princípios normas da Administração Pública, servidores e agentes
políticos, controle de despesas e finanças públicas e equiparam o regime próprio
de previdência social dos servidores ao regime geral de previdência social
(CF/88). Ambas refletem diretrizes do Plano Diretor de Reforma do Aparelho do
Estado (1995); (Gomes, Silva e Sória, 2012: 169-170)
·
Há poucos estudos sobre os resultados dessas reformas,
o quantitativo de servidores também diminuiu pela corrida a aposentadoria por
causa da reforma da previdência e pela não reposição dos quadros via realização
de novos concursos e a perda de cargo determinada pelo desempenho
insatisfatório nas avaliações ainda não foi regulamentado; (Idem, 171)
·
O debate sobre o “inchaço” muitas vezes oculta o
comprometimento da prestação de serviços essenciais, providos integral ou
parcialmente pelo Estado, como os educacionais e de saúde. Houve queda de quase
19% no número de professores entre 1995 e 1999 (PNAD/IBGE, 2009). Em Breve
Diagnóstico da Administração Pública Federal (Presidência da República, 2004),
a Casa Civil diagnosticou gravíssimo déficit institucional em áreas
estratégicas como Receita Federal, Fiscalização Agropecuária e do Trabalho,
Proteção do Patrimônio Histórico, Propriedade Industrial, Polícia Federal,
Secretaria de Previdência Complementar, entre outros (Idem, 171).
Esses dados dão uma pequena amostra, em documentos e dados
estatísticos confiáveis das análises que buscamos empreender nos texto deste
trabalho.
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Mangabeira & JOHANNPETER, Jorge Gerdau.
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Orçamento e Gestão, 2009.
Administração Pública, Federação e Políticas Públicas
FUNDAÇÃO
JOÃO PINHEIRO
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, FEDERAÇÃO E
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Trabalho Final de Gestão Pública
Professora:
Telma Maria Gonçalves Menicucci
Ana Rita
Gonçalves Lara
Fernanda Flávia
Martins Ferreira
Roberta Silveira
Zanetti
Belo
Horizonte, 2 de julho de 2013.
Desafios para a elaboração e a implementação de políticas públicas: a reforma do Estado e a Coordenação Federativa
Em capítulo sobre a
formação da burocracia brasileira Abrucio, Pedroti e Pó (2010) sintetizam a
trajetória do Estado brasileiro da época da colonização à redemocratização com
a Constituição de 1988. Nos anos 1990 as ideias de reforma do Estado culminaram
no Plano de Reforma do Aparelho do Estado
(PDRAE, 1995) e na Reforma da Previdência em 1998, sob a liderança e governo de
Fernando Henrique Cardoso. Em artigo de Abrucio (2005) sobre a coordenação
federativa, observamos uma análise atenta do arranjo federativo construído a
partir da Carta Magna de 1988 e seus desdobramentos do governo Sarney ao início
do governo Lula. Em 2005 o Decreto nº 5.378/2005 institui o Programa Nacional
de Gestão Pública e Desburocratização, o GESPÚBLICA. E em 2009, o Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a Secretaria de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República (SAE/PR), o Conselho Nacional de Secretários de
Estado da Administração (CONSAD) e o Movimento Brasil Competitivo se unem e
mobilizam estados e Sociedade Civil para compor a Agenda Nacional de Gestão
Pública, sintetizada pelo Ministro Mangabeira Unger e por Jorge Gerdau
Johannpeter, líder do Movimento Brasil Competitivo.
Esses textos se
enquadram num panorama cronológico tanto dos fenômenos e fatos analisados
quanto das épocas em que foram publicados. Embora socialmente não possamos
compreender a história como uma linha evolutiva reta, buscamos uma modesta
compreensão de onde partimos e até onde chegamos com todos os caminhos
percorridos pelas forças políticas, ideológicas e configurações estruturais
assumidas pela Administração Pública brasileira, nos planos legais, culturais e
das práticas cotidianas. E assim, sem pretensão de abarcar o todo, decidimos
nos dedicar a algumas bibliografias selecionadas para o presente trabalho.
Aspectos históricos
À época do Brasil
colonial o sistema de capitanias hereditárias na organização territorial
traduzia um resquício feudal da monarquia portuguesa. Esse sistema não deu
certo, haja vista o cenário de disputas por territórios ultramarinos entre os
países europeus. Essa disputa marcou a era do absolutismo monárquico e a fase
mercantilista e manufatureira, nos primórdios do capitalismo, e resultou em
invasões da colônia portuguesa na América. As mais notáveis na lembrança são as
experiências do domínio holandês no norte e nordeste, com Maurício de Nassau e
a França Antártica, nas regiões atualmente correspondentes a Rio de Janeiro e
São Paulo.
As capitanias eram
domínios privados, nos quais os prepostos do rei eram senhores da lei, da vida
e da morte das pessoas, vassalos exploradores das terras selvagens cujas
obrigações eram obediência e fidelidade ao rei, proteção e defesa das terras e
pagamento dos tributos coloniais. As bases de comando e uniformização do
processo colonizador eram o Conselho Ultramarino e a Igreja Católica, e,
posteriormente, o governo-geral.
Em meados do século
XVIII o Marquês de Pombal buscou corrigir a ineficiência do sistema de
capitanias hereditárias, implantando reformas que fortaleciam a intervenção da
metrópole nos rumos da colônia. Pombal manteve o viés centralista e
regulamentador temperado pelo patrimonialismo local. Aliás, esse
patrimonialismo decorria em alto grau da ausência do Estado na maior parte do
território. Nesse sentido, deu continuidade ao princípio filosófico de que o
Estado antecede a sociedade, ao modelo administrativo pouco efetivo e
excessivamente regulamentador, bem como à lógica de privatização do espaço
público.
Contudo, as reformas
pombalinas inseriram nessa tendência um elemento novo e contrário às formas
tradicionais do poder estabelecido: a formação de uma elite burocrática
brasileira, lideranças altamente capacitadas (profissionais) em Portugal,
especialmente na Universidade de Coimbra, para compor os altos postos da
administração colonial. Uma elite bastante homogênea em termos de ideias e
propósitos, que passou a influenciar decisivamente os rumos da história
brasileira.
Essa alta burocracia pombalina
tornou-se genuinamente brasileira após a independência e teve uma atuação
ambígua na modernização do Estado, introduzindo elementos progressistas e
conservadores. Esses Homens de Mil,
pois, na concepção de Oliveira Viana, cada um desses funcionários valia por mil
homens, inauguraram uma forma estadocêntrica
e centralizadora de fazer reformas, o que levou Luiz Werneck Vianna[1]
a
apropriar-se do conceito gramsciano e denominar,
posteriormente, os processos de mudança social do Brasil de “Revolução Passiva”,
ou seja, com pouca ou nenhuma participação popular.
Esse modelo, embora
tenha sofrido mudanças incrementais, continuou sendo a marca de nosso modus
operandi reformista. Reformas liberalizantes, porém, com manutenção do status
quo e introdução autoritária de mudanças (“de cima para baixo”).
Com a independência, a Constituição de
1824 adotou o Estado Unitário, centralizado com poderes excessivos nas mãos do
Imperador. Nesse momento histórico, a forma de Estado adotado teve a estratégia
de manter a unidade nacional e evitar o desmembramento do território, como
ocorrido nas colônias da “América Espanhola” (Silva, 2010).
A elite burocrática
brasileira, por ser profissional, era selecionada pela associação de tradicionais
critérios patrimoniais (laços sociais) e de critérios meritocráticos (formação
e experiência). Dessa maneira, não era uma burocracia pública, nem no sentido
liberal nem no democrático, era uma burocracia privada, fechada sobre si mesma
e alheia à sociedade, que devia obediência somente ao Imperador. Em sentido
liberal os Homens de Mil romperam com
Portugal e apoiaram a independência do Brasil; lutaram pelo fim do absolutismo
monárquico e pela constitucionalização do Brasil, tinham um projeto de nação e
impediram a fragmentação do país após a independência; integravam o Conselho de
Estado do Imperador, favorecendo a introdução de direitos civis e políticos no
art.179 da Constituição de 1824; eles eram contrários a escravidão, embora tentassem
extingui-la. No sentido conservador, consolidaram e estabilizaram o modelo
político imperial no Segundo Reinado; reduziram a esfera pública às decisões
dos agentes estatais, e, para manter unidade do país, fortaleceram aspectos
patrimoniais do Estado.
A burocracia estatal
exerceu seu poder como minoria, boa parte das funções estatais continuou a
cargo de entes privados, sem que a administração do império alcançasse a maior
parte do território brasileiro. A Guarda Nacional, por exemplo, era um exército
privado organizado para fins de defesa do país.
Num momento de economia
fraca o serviço público era “vocação de todos”. Baixa burocracia exerceu papel
fundamental na aquisição de apoio político por meio da distribuição de cargos.
A burocracia então se dividiu: uma parte baseada primordialmente no mérito,
outra primordialmente na patronagem.
Na Primeira República
ou República Velha, a partir de 1889 houve um retrocesso geral. O Estado
enfraqueceu, principalmente no poder central, e predominaram as oligarquias
estaduais, baseadas no domínio local dos coronéis, donos do poder social,
econômico e político. No século XIX as burocracias estatais pelo mundo eram em
geral todas parecidas com a brasileira, marcadas pelo patrimonialismo. No
entanto, no início do século XX começam os primeiros esforços de racionalização
burocrática analisados por Max Weber, e então começamos a “perder o bonde da
história”.
As ilustres exceções do
período remontam ao Movimento Tenentista, cujas reivindicações culminaram na
criação de um Exército público. A necessidade dos presidentes de uma diplomacia
forte e competente para solucionar nossos problemas territoriais culminou na
fundação do Itamaraty, nossas duas primeiras burocracias profissionais
selecionadas mediante critérios universalistas e meritocráticos.
A Revolução de 1930 foi
o fim da República Velha. Getúlio Vargas ascendeu ao poder pela via eleitoral,
mas em 1937 deu o golpe de Estado que iniciou o Estado Novo, o qual perdurou
até 1945.
Vargas empreendeu um
esforço de construção do Estado baseado no Nacional-Desenvolvimentismo, com o intuito de completar
formação nacional com ampla intervenção nos domínios econômico e social,
voltado para industrialização, urbanização e crescimento. Para isso precisava
de uma burocracia profissional competente, capaz de conduzir “as diretrizes de
modernização econômica e desenvolvimento almejadas” (Abrucio, Pedroti e Pó,
2010:35). E a diplomacia serviu como modelo para estruturação do serviço civil,
expandido para toda a administração pública, “a primeira estrutura burocrática
weberiana destinada a produzir políticas públicas em larga escala” (Id.,
2010:36).
A Constituição de 1934
eleva pela primeira vez o concurso público à norma constitucional como regra
geral de acesso aos cargos públicos. Esta regra foi mantida na Constituição de
1937 e em 1938 foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público
(DASP).
A reforma do DASP foi a
primeira que gerou uma burocracia institucionalizada, em que a Administração e
os objetivos do Estado são mais importantes que os burocratas e seus laços
sociais. Durante a reforma administrativa conduzida pelo DASP foram criadas até
1945, 56 agências estatais, entre autarquias, empresas públicas, sociedades de
economia mista e fundações, unidades descentralizadas da burocracia federal,
atualmente denominadas Administração Indireta, com fulcro no Decreto-Lei nº 200
de 1967, obra da Ditadura Militar que manteve muitas continuidades com o modelo
de Estado varguista. Esse período marcou também o esforço de implantar no
Brasil os preceitos mais modernos de gestão e administração vigentes à época,
envolvendo pesquisas sobre as burocracias estatais de outros países.
O DASP perdeu poder
assim que Vargas caiu e se estabeleceu o governo provisório, e essa decadência
se estendeu até sua extinção na década de 1980. Entretanto, deu a contribuição
de implantar a cultura do mérito em alguns setores do serviço público.
Em 1952 Juscelino
Kubitschek, ao adotar a estratégia de criar uma administração paralela para conduzir
seu Plano de Metas. Com isso, reforça também a estratégia, já adotada na Era
Vargas, de insulamento burocrático para formar as ilhas de excelência,
reservando para outras partes da administração a tarefa clientelista de
nomeações para garantir apoios políticos. Com a lógica da administração
paralela Kubitschek aprofundou também a já existente fragmentação dos órgãos
governamentais. A herança positiva desse governo foi a eficácia dos projetos
desenvolvimentistas, a criação da Petrobrás e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico (atual BNDES).
Nesse mesmo ano foi aprovado o primeiro
Estatuto dos Funcionários Públicos Civis, a Lei nº 1.711/1952. Essa lei
reforçou o princípio do concurso público, embora tal norma tenha continuado a
ser sistematicamente violada, a exemplo da Lei nº 4.069/1962, apelida de Lei do
Favor.
A partir do golpe de
1964, os militares buscaram apoio em alguns setores da elite política e social
para legitimar seu governo. Com um discurso anticomunista, antipolítico e
tecnoburocrático intitulavam seu regime de modernizador. Acreditando na
superioridade da técnica sobre a política, investiram na Administração Pública
fortalecendo algumas carreiras de Estado com base em princípios meritocráticos.
Essa política se
refletiu na criação do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), do
Banco Central (BACEN), da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
(Embrapa). O Decreto-Lei nº 200/1967 instituiu a Administração Indireta
autônoma e flexível, com regime de contratação pela CLT, objetivando facilitar
o recrutamento e a oferta de melhores salários. Entretanto, o decreto previu
formas de coordenação e controle das unidades que não funcionaram. Desse modo,
ficamos com uma administração indireta forte, competente, mas fragmentada e sem
controles de legalidade ou desempenho, e, por outro lado, com uma administração
direta fraca e ineficiente.
Na estrutura federativa
o regime militar estimulou a reprodução da estrutura institucional federal nos
estados e municípios, mas não alterou as formas de recrutamento nas esferas
locais. Assim como à época de força do DASP, o regime militar recrudesceu a
distância entre a administração pública federal e as administrações locais
frágeis, precárias e clientelistas, baseados no argumento de que a modernização
viria “de cima para baixo”.
A ideologia de
superioridade da técnica sobre a política isolou a burocracia, deixando-a imune
ao controle público. Contudo, isso não a fez imune a interesses privados, que
nela penetraram por meio dos anéis burocráticos (Cardoso in Abrucio, Pedroti e
Pó, 2010:50-1) [2].
O Departamento de
Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior é um caso demonstrativo de que a estratégia do insulamento ainda é um
recurso político válido. A política de defesa comercial brasileira tem como
protagonista as investigações de dumping, seguidas pelas investigações de
subsídios, as investigações contra surtos de importação (que podem resultar nas
medidas de salvaguarda) e contra práticas elisivas (de burla a direitos
antidumping em vigor). O departamento tem por meio de competência delegada o
poder de conduzir essas investigações e de concluir pela aplicação ou não
aplicação das medidas, restando a Câmara de Ministros de Comércio Exterior
(CAMEX), a possibilidade de decidir a duração de uma medida pelo prazo de dois
ou cinco anos, ou ainda, suspender ou cancelar uma medida para garantir o
interesse público.
Embora a Secretaria de
Comércio Exterior (SECEX) possa iniciar uma investigação de ofício, o
departamento (integrante da SECEX) tem agido por provocação de empresas que o
procuram com petições antidumping, que devem ser instruídas conforme as
exigências do Decreto nº 1.602/1995 (decreto antidumping) e outras legislações
específicas ou subsidiárias, o que, por si só, já exige bastante conhecimento
técnico de escritórios de advocacia que se especializam para atender essa
demanda. As medidas de defesa são submetidas a revisão no último de sua
vigência, por meio de petição dos interessados, ou se extinguem ao fim de seu
prazo. Contudo, não há limite temporal para que se não possa mais revisar e
reaplicar uma medida antidumping, de maneira que há medidas há mais de vinte
anos, como é o caso do PVC, o plástico utilizado na fabricação de canos. Não é
exigida nenhuma contrapartida das empresas beneficiadas com essas medidas,
nenhuma melhoria para se tornar mais competitiva e independente da presença de
medidas de defesa que aumentem o valor das importações para que se mantenham no
mercado. Não há nenhum tipo de avaliação ou cobrança em relação às condições de
trabalho ou a manutenção do número de empregados, já que a medida de defesa
comercial irá reduzir suas perdas, e, por conseguinte, sua necessidade de
dispensa da força de trabalho. A recuperação de postos de trabalho ou a
manutenção do emprego das pessoas é apenas uma conseqüência esperada nesse
contexto. Os trabalhadores das empresas peticionárias não participam de modo
algum desse processo.
Além disso, a
esmagadora maioria das empresas que ingressam no departamento com petições em
quaisquer modalidades de defesa comercial são de grande porte, e, frequentemente,
são transnacionais. A própria legislação limita o acesso de pequenas e médias
empresas a esse instrumento, pois devem reunir-se e entrar juntas com uma
petição, para que juntas componham de 25% ou 50% do mercado nacional e sejam
consideradas representantes de seu setor econômico.
As investigações se baseiam
em análises contábeis e microeconômicas, visando saber se há nexo causal entre
os danos sofridos pelas empresas de determinado mercado e a prática de dumping
pelos exportadores. Se há algum questionamento nos impactos macroeconômicos a
constante de mais de oitenta medidas de defesa comercial acarreta, ele não se
reflete em qualquer mudança da política. De fato, embora o DECOM atue sob os
limites dos acordos e negociações internacionais, não seria o caso de refletir
se a política de defesa comercial brasileira tem consequências protecionistas?
Há ainda um setor mais
amplo da sociedade afetado pelas medidas de defesa comercial, que também não
participa de modo algum, nem exerce qualquer tipo de controle sobre a política
de defesa comercial brasileira: nós cidadãos consumidores dos produtos que, ao
chegarem ao país, além dos impostos de importação, são obrigados a pagar as
tarifas definidas lá no DECOM, chegando mais caros às prateleiras das lojas e
supermercados.
Por fim, quanto o país
arrecada com a cobrança de direitos antidumping? Para onde vai esse dinheiro? Por
quê?
Logo, o Departamento de
Defesa Comercial é uma ilha de excelência, afetada por interesses privados via
anéis burocráticos, imune ao controle público. A política de defesa comercial,
representada por ele, carece de uma avaliação externa sobre sua eficácia e
repercussão, principalmente na política econômica, de modo amplo.
Porém, a tendência
atual não é de avaliar, e sim de produzir mais do mesmo com maior intensidade.
Assim foi feito um concurso público com 120 vagas para o DECOM, para reforçar a
defesa comercial, num contexto em que o Brasil e vários países, enfrentam o
problema concorrencial da China e de outros países asiáticos emergentes. O que
há, além disso, é um esforço em atualizar a legislação de 1995.
O caso analisado é
apenas uma demonstração de como o passado influencia o presente, de como a
herança e a cultura autoritária, hierárquica, e, portanto, baseada na
desigualdade ainda permeia o Estado brasileiro. Esse passado aparece tanto nas
permanências estruturais quanto nas mudanças empreendidas, especialmente quando
são claramente motivadas pelo desejo de superação e adaptação a novos contextos
e momentos sociais, históricos, políticos e/ou econômicos. A redemocratização
foi assim, um fato social total
(Mauss, 1925) [3], pois
envolveu uma mudança em todos os aspectos mencionados. A transfiguração dessa
mudança abrangente, resultado dos esforços de todos os movimentos populares e
partidários rumo à ruptura do regime autoritário foi a Constituição de 1988.
Redemocratização, Federação e Gestão Pública
Para Abrucio (2005:41),
o elemento comum à maior parte dos estudos nacionais e internacionais sobre a
estruturação federativa do Estado é o jogo de poder entre o governo federal e
os entes subnacionais, entre as forças de centralização e descentralização. Embora
esse foco analítico seja fundamental para compreender o fenômeno é insuficiente,
pois os sistemas federais são mais bem compreendidos quando acrescentamos ao
seu estudo a análise da coordenação intergovernamental.
A coordenação
intergovernamental trata das formas de compartilhamento, decisão e integração
presentes nas federações. As relações intergovernamentais tornaram-se complexas
nos últimos anos, em razão de tendências conflituosas e de difícil solução. Na
verdade, são esses mesmos problemas que recolocam a questão, as soluções não
residem em optar entre centralização ou descentralização, precisamos estar
dispostos a “mover em ambas as direções – descentralizando algumas funções e ao
mesmo tempo centralizando outras responsabilidades cruciais na formulação de
políticas”. É o que a Organização pela Cooperação Econômica e Desenvolvimento
(OECD) concluiu em um de seus estudos (Abrucio, 2005:42).
Atualmente vivemos três
dilemas principais: a) para manter um Estado de Bem-Estar Social em uma situação
de escassez de recursos, é preciso que os governos sejam mais eficientes (façam
mais com menos) e mais eficazes (atinjam as causas dos problemas sociais). Tudo
isso exige “maior coordenação entre as esferas político-administrativas na
gestão das políticas públicas”; b) as demandas por maior autonomia de governos
locais e/ou grupos étnicos/ culturais cresceram, mas, simultaneamente, os
governos lutam para evitar os problemas decorrentes da fragmentação, como o
descontrole de gastos das unidades subnacionais, a guerra fiscal entre os entes
federativos, ou surgimento de focos de secessão; c) o campo de relações dos
governos locais se ampliou para além do governo central, envolvendo parcerias
com a sociedade civil, conexões com empresas e organismos transnacionais. No
entanto, essa mudança de cenário coexiste com a necessidade de reforço das
instâncias nacionais para organizar a inserção internacional e combater os
aspectos negativos da globalização (Idem, 42).
O arranjo federal
resulta de uma situação federativa (Abrucio apud Burgess, 2005: 42), na qual há
um território de grande extensão e/ou diversidade física. Heterogeneidades
étnicas, culturais, lingüísticas, sócio-econômicas e políticas, diferenciando o
processo de constituição das elites regionais com presença de forte rivalidade
entre elas. Assim, os países se constituem como federações para dar conta
dessas heterogeneidades e manter a unidade nacional, evitando o risco de
fragmentação.
A ideia fundamental da federação é a
unidade na diversidade, por meio da soberania compartilhada de modo matricial e
não piramidal, buscando a autonomia e a interdependência dos governos entre si
(Abrucio, 2005:43). Para tanto, o sucesso da federação depende do equilíbrio
entre esses dois aspectos, a autonomia e a interdependência, o que, na prática,
se traduz na conjugação de formas de cooperação e competição. A competição
entre os entes conduz à efetivação dos controles mútuos, à inovação e ao melhor
desempenho das gestões locais, evitando “a armadilha da decisão conjunta” na
qual são comuns a falta de responsabilização da administração pública[4], o
paternalismo e o parasitismo, causados pela dependência em relação a esferas
superiores de poder. A cooperação, por sua vez, traz consigo a construção de
instâncias de poder compartilhado, como os consórcios e os conselhos de
políticas públicas, onde haja decisões conjuntas, divisão de tarefas e
competências entre os entes federativos, favorecendo a boa aplicação das
políticas públicas, pela continuidade e coerência de seu ciclo desde a
elaboração, no âmbito federal à execução em âmbitos estaduais e municipais.
Assim, previne-se o excesso de
competição, gerador da guerra fiscal entre os níveis de governo, uma disputa em
busca de investimentos, na qual os estados brasileiros abdicaram de receitas,
cujos resultados foram o repasse de dívidas para o nível federal, ou seja, para
toda a nação, próximas gerações, ocasionando deterioração dos serviços
públicos, e, ainda, sem obtenção dos resultados esperados (Abrucio &
Gaetani, 2006)[5]. Esse foi o federalismo
vigente no país de 1982 a 1994 (Abrucio, 2005:46), estadualista, predatório e
não cooperativo. Pois a redemocratização configurou um federalismo compartimentalizado, “em que cada nível de governo procurava encontrar seu papel específico
e não havia incentivos para o compartilhamento de tarefas e atuação
consorciada” (Id., Ibid:49). No caso
brasileiro, esses problemas trouxeram a necessidade de maior articulação entre
os entes federativos, principalmente nas áreas ligadas à saúde, educação e
segurança pública para que os serviços possam chegar à população de forma
eficiente e eficaz.
Apesar do Estado Unitário criado pela
Constituição de 1824, o desejo de instaurar uma federação não era consensual,
mas já estava presente na elite intelectual brasileira. Monarquistas famosos
como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa defendiam essa forma de Estado (Silva, 2010).
Nossa formação histórica diverge do
modelo norte-americano, em que os integrantes da Confederação (1777) cederam
sua soberania ao Governo central, que se estruturou sob a forma federativa no
ano de 1787 (Silva, 2010). No Brasil o federalismo foi implantado do centro
para a periferia (de forma centrífuga) pela Constituição de 1891. Ou seja, o
Estado Unitário imperial cedeu seu poder ao descentralizar-se
administrativamente (Magalhães, 2010) e repartir suas competências com as
unidades territoriais convertidas em entes federativos.
O Federalismo brasileiro é marcado por
um excesso de atribuições e competências previstas para serem realizadas no
âmbito da União Federal, ao passo que no modelo norte americano há uma maior
descentralização administrativa e autonomia dos Estados-membros.
Além disso, após a Constituição de 1981
tivemos um retrocesso em relação a esse sistema. Nas Constituições de 1937,
1967 e 1969[6] “o federalismo era apenas nominal, já que a autonomia dos entes
federados, necessária para caracterização do federalismo, ficava comprometida
por uma série de mecanismos centralizadores e interventivos” (Silva, 2010).
Por isso, no período da redemocratização, a descentralização foi associada à
democracia, em oposição ao forte centralismo da tradição militar.
O Brasil é todo
dividido em municípios, há países que têm somente um município em uma grande
região. É, portanto, bastante descentralizado, mas oscila historicamente entre
essas duas forças (a descentralização e a centralização), conforme o contexto,
ou arranjo de forças políticas e econômicas. Assim, em comparação com outros
países, os estados e municípios brasileiros se mantiveram fortes desde a
Proclamação da República, em 1891, quando o Brasil se tornou uma federação. No nosso modelo
federal instituído os Municípios surgem como entes autônomos. Isso retirou dos
governos estaduais a responsabilidade de execução direta e acarretou a municipalização
de várias políticas públicas (Abrucio & Gaetani, 2006). A descentralização
de competências foi acompanhada por conquistas tributárias dos entes
subnacionais, mas a disparidade econômica foi reforçada pelo grande número de
municípios pequenos, incapazes de sobreviver com recursos próprios. Esse
processo buscou a democratização nos planos locais, porém, associada à
descentralização administrativa, também produziu o municipalismo autárquico,
isolando os municípios entre si e dificultando parcerias para solução de
problemas regionais, em especial os que afetam as regiões metropolitanas
(Abrucio, 2005:48 e 62).
Nesse sentido, uma boa solução seria a
celebração de consórcios públicos. A Lei nº 11.107, de 06 de abril de 2005,
prevê a possibilidade de a União celebrar consórcio com os estados e o Distrito
Federal, e, caso haja participação dos estados, é possível a participação dos
Municípios nestes consórcios (art. 1º, § 2º, da referida Lei). Contudo, não é legalmente
possível a realização direta de consórcios públicos entre a União e Municípios[7],
nem celebração de consórcio apenas entre municípios. Há previsão somente de
realização de consórcio público entre estados e municípios, ou entre estados e
união. Apesar da previsão legal, a composição consorciada entre estados e
municípios não tem sido bem utilizada na prática (Abrucio & Gaetani, 2006).
Os governos estaduais passaram a
desfrutar de uma autonomia de fato, a partir do processo de redemocratização do
país, que teve seu início com as eleições para governador em 1992,
consolidando-se com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Nesse
contexto, os estados foram levados a assumir um papel diferente daquele a que
estavam acostumados, pois passam a ter o papel de coordenação, financiamento
suplementar e atuação conjunta com o poder local. Entretanto, acabaram cooptando
prefeitos e líderes locais, colocando o poder político acima das políticas públicas
(Id., Ibid.), em fidelidade à herança patrimonialista e oligárquica.
Em verdade, a CF/88 atribuiu papeis bem
definidos à União e Municípios, mas deixou um vazio em relação às competências
dos estados e de como se relacionariam com os demais níveis de governo. Assim,
os estados procuravam participar de políticas financiadas pela União e, quando
não, se eximiam da responsabilidade, repassando-a aos municípios (Abrucio,
2005:49).
O sistema federativo exige mecanismos
que possibilitem a atuação articulada entre os entes federativos, para que se
estabeleça um serviço público de melhor qualidade, celeridade e eficiência em
prol da população, o que nortearia o chamado “federalismo de cooperação”
(Carvalho Filho, 2010). Nessa forma de Estado é muitas vezes difícil a execução
de políticas públicas, já que existe mais de um centro decisório, dificultando
a coordenação das vontades entre os diversos os entes federativos (Silva, 2010).
Antes de 1984
iniciou-se no Brasil um processo de descentralização por pressões feitas sobre
o regime militar por estados e municípios. Na Reforma Tributária realizada
durante a ditadura foram criados os Fundos de Participação dos Estados e de
Participação dos Municípios. Essa descentralização de recursos ocorreu por
demanda, enquanto a descentralização por oferta, proposta pelo Banco Mundial,
consiste na oferta de poderes aos estados e municípios da parte do governo
central.
A Constituição de 1988
consagrou a descentralização. Todavia, mesmo com a Constituição Federal de 1988,
percebe-se uma centralização de competências significativa na União e competências
pouco relevantes para os estados-membros (Silva, 2010). No entanto, as regras do texto original supõem homogeneidade dos estados
e municípios, e, na realidade, são muito diferentes e número de habitantes,
capacidade de arrecadação e gestão. Nesse sentido, a descentralização exacerbada
prejudicou a estabilização da economia, pois enquanto o governo federal
desejava conter os gastos e o endividamento, estados e municípios faziam o
oposto, além de transferirem o ônus de suas dívidas para a União. Esse processo
seguiu a tendência da década de 1980, quando o governo federal descentralizou
recursos, mas continuou concentrando atribuições.
Por outro lado, ao
contrário do regime centralizador autoritário, a adesão dos governos estaduais
e municipais às políticas federais não é mais imposta, depende de negociações,
barganhas, coalizões e incentivos de esferas superiores de poder, processos
integrantes da democracia, cujo sucesso depende da coordenação
intergovernamental (Abrucio, 2005:49).
Governo FHC[8]
Nos governos de
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), ocorreu movimento contrário, maior
descentralização de competências para estados e municípios, porém centralização
de recursos. É nesse período que começa a haver maior preocupação com a
qualidade dos gastos, buscando conceder mais autonomia para os órgãos que
gastam bem o dinheiro, e, dessa maneira, alcançam resultados melhores, e
restringir a autonomia daqueles que aplicam mal o dinheiro.
A reviravolta nesse sistema de federalismo compartimentalizado só foi
possível porque a União e a Presidência da República entraram em uma séria
crise, que durou pelo menos uma década. Fernando Henrique Cardoso ingressou na
presidência com o país enfraquecido pela dívida externa e pelos desequilíbrios
federativos, mas a Era do Real colocou em cheque o estadualismo predatório,
embora não tenha conseguido acabar com a guerra fiscal.
Algumas condições prévias favoreceram as
melhorias alcançadas pelas reformas no governo FHC: 1) até 1991, o país passava
pela combinação perversa entre redução de empréstimos e refinanciamento da
dívida externa, somada a transferência massiva de recursos para os credores
estrangeiros, esse quadro foi revertido, e entre 1992 e 1997, aconteceu o auge
do fluxo de capitais para a América Latina. Isso permitiu a renegociação da
dívida externa em 1993; 2) a “Era do Real” recebeu do governo Sarney a
modernização orçamentária e o crescimento das reservas cambiais, além de um
progressivo aumento arrecadação federal no governo Itamar, quando ele mesmo,
Fernando Henrique, atuou, como ministro da fazenda, em prol da criação do Fundo
Social de Emergência; 3) na sociedade brasileira consolidou-se a ideia de que
reformas constitucionais seriam a salvação do país, essa predisposição,
associada ao sucesso do Plano Real, deu grande popularidade a Fernando Henrique Cardoso; 4) no plano eleitoral, pela
primeira vez desde a redemocratização as eleições presidenciais foram
realizadas concomitantemente às eleições para o Congresso Nacional e estaduais,
vinculando congressistas e presidente, mas também governadores, pois a maioria
dos eleitos derivou sua vitória do apoio ao Plano Real.
O sucesso do Plano Real no combate à
inflação permitiu estabilizar as transferências intergovernamentais. Assim a
União poderia negociar o repasse de encargos juntamente com os recursos de
forma programada e racional. Foi essa situação que deu ensejo a elaboração de
políticas coordenadas.
Dessa maneira, com contexto
internacional favorável, estabilidade monetária e apoio político, o caminho
estava aberto.
A primeira frente foi o combate ao
déficit público nos governos subnacionais. Houve uma atuação conjunta pela
modernização fazendária de vários estados e aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, no ano 2000. Essa lei foi de grande importância, para
impedir que a situação reinante se repetisse, obrigando tanto governantes
atuais quanto futuros. A privatização, extinção e federalização dos bancos
estaduais foram fundamentais, pois era por meio deles os estados repassavam
custos ao Banco Central. Contudo, o Plano Real por si só foi um golpe para as
dívidas estaduais, por causa da política de valorização cambial e financiamento
por poupança externa (atração de investimentos estrangeiros pela oferta de
juros altos) baseada na manutenção de altas taxas de juros, mas é preciso assinalar
que os grandes responsáveis pela crise eram os próprios estados, cujos gastos
eram descontrolados. Aliás, foi essa conjuntura que gerou a perda das receitas
obtidas com as privatizações nos estados, dinheiro que, a princípio, seria
utilizado para pagamento das dívidas com a União. Ainda outra coisa aconteceu:
boa parte dos estados optou por aplicar esse dinheiro em gastos correntes, em
vez de pagar suas dívidas.
Esse processo teve um custo altíssimo
para a União, especialmente pela situação do Banespa e pela necessidade de
criar um instrumento de transição financeira, cuja conta chegou a R$ 70 bilhões
em 2002. As privatizações, embora tenha sido uma mudança crucial rumo ao
reequilíbrio fiscal e financeiro dos estados, e desses em relação à União, trouxe
consigo um processo de privatização dos lucros, para os compradores das
empresas cujas dívidas foram assumidas pelo governo, e socialização dos
prejuízos, para a população brasileira. Outro aspecto negativo da política de
privatizações foi a ausência de aparato governamental regulatório, um número
pequeno de estados envolvidos criaram agência reguladoras dos setores.
O “capítulo final” dessa história foi a
renegociação das dívidas dos estados, regulamentada pela Lei nº 9496/97. Essa
lei contribuiu muito para a ordenação das relações federativas, rompendo com o
modelo predatório. O acordo contemplou quase todas as unidades estaduais, e, o
mais importante, estabeleceu punições para quem deixasse de cumpri-lo, pela
retenção de recursos federais.
O governo federal também auxiliou os
estados na criação e capitalização de fundos de pensão dos servidores
estaduais. Nesse sentido, quando se tratou da solução de problemas econômicos e
financeiros, FHC soube combinar descentralização, reforma administrativa e fiscal.
O fato é que, “das 34 emendas constitucionais aprovadas” entre 1995 e 2002, “quinze delas afetavam diretamente o pacto
federativo”, como ocorreu com a Emenda Constitucional nº 19/1998, que, ao
realizar a reforma administrativa, previu formas de articulação entre os entes
federativos:
“(...) a gestão associada na prestação de serviços públicos a ser
implementada, através de lei, por convênios de cooperação e consórcios públicos
celebrados entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios.
Trata-se, (...), de instrumentos de cooperação de atividades visando a alcançar
objetivos de interesse comuns dos pactuantes.
A
noção de gestão associada emana da própria expressão: significa uma conjugação
de esforços visando a fins de interesse comum dos gestores. Em relação à gestão
associada de serviços públicos, pode-se adotar a conceituação de que
corresponde ao “exercício de atividades de planejamento, regulação ou
fiscalização de serviços públicos por meio de consórcio público ou de convênio
de cooperação entre entes federados, acompanhadas ou não da prestação de
serviços públicos ou da transferência total ou parcial de encargos, serviços,
pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos.” (Carvalho
Filho, 2011:324)
Esse esforço de reestruturação
federativa ocorreu também nos âmbitos tributário, previdenciário (Emenda
Constitucional nº 20/1998) e na área social, com a aprovação do Fundef (Emenda
Constitucional nº 14/1996), para a educação e da Emenda Constitucional nº
29/2000, para a saúde, bem como do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza
pela Emenda Constitucional nº 31/2000. A prática de avaliação das políticas
públicas descentralizadas inseriu-se no contexto das inovações administrativas,
apesar de sua implantação ter ocorrido somente no Ministério da Educação, sem
generalizar-se na Esplanada dos Ministérios.
No sentido da democratização o repasse
de recursos passou a ser condicionado à “participação e à fiscalização da
sociedade local”, continuando a estratégia constitucional de criação dos
Conselhos de Políticas Públicas, seguindo os moldes participativos do Sistema
Único de Saúde (SUS).
O SUS é o exemplo de maior tradição e
sucesso em coordenação federativa. Nos
termos do art. 198, da Constituição Federal, é um sistema estruturado
regionalmente, hierarquizado e descentralizado, que elevou o Município a figura
chave do sistema, consagrado pela Lei nº 8.080/1990 (Silva, 2010). Regularizar os repasses foi um objetivo importante
da política de saúde no governo FHC foi. Entre 1995 e 1999, com a
redistribuição dos recursos, os gastos da União passaram a 23%, dos estados a
25% e os municípios para 52%.
O Fundef foi uma experiência inédita no
federalismo brasileiro, introduzindo um sistema de repasse proporcional ao
número de alunos matriculados. Com isso conseguiu reduzir as desigualdades
regionais e no interior dos próprios estados, refletida nas disparidades da
rede de ensino pública. Até então a atuação da União na educação era
“multitarefa”, devido à confusa distribuição de competências, com o Fundef o
governo federal finalmente dedicou-se a universalização e equidade do ensino
público. Em 1996, 37% das matrículas pertenciam a escolas municipais e 63% a
escolas estaduais. Após o Fundef 49% das matrículas se tornaram municipais e
51% estaduais.
Por fim, foram adotadas políticas de
distribuição de renda direta à população, concebendo que problemas de ordem
redistributiva numa federação devem ser mediados pela intervenção do governo
federal. O grande problema dessa política foi sua enorme fragmentação em
diversos programas pertencentes a diversos ministérios, dificultando sua
fiscalização, coordenação e avaliação. No entanto, a participação em tais
programas passou a ser condicionada a certos objetivos e a focalização mais bem
definida, recorrendo-se ao índice de desenvolvimento humano dos municípios.
Entre os problemas que permaneceram meio
a toda essa “revolução”, estão a guerra fiscal entre os estados e a ausência de
política urbana. A guerra fiscal se revelou mais negativa que positiva, pois
dos sete estados que a praticaram no período, apenas o Ceará aumentou sua
participação no PIB nacional. No setor urbano cresceram os problemas das
regiões metropolitanas, sem que existam quaisquer mecanismos ou instituições
capazes de equacioná-los. Nesse ponto, o federalismo
compartimentalizado por oposição ao centralismo autoritário e o municipalismo autárquico continuam a
firmar seu terreno, mas está claro que, sem a constituição de instâncias
metropolitanas envolvendo estados, municípios e sociedade civil. Logo, com
coordenação intergovernamental, como nos casos do SUS e do Fundef.
Os estados e municípios permanecem com
administrações públicas precárias e não houve formação de uma rede nacional,
com interconexões de longo prazo entre as burocracias municipais, estaduais e
federais. Todo o processo de reformas conduzido por FHC foi realizado sem a
criação e o fortalecimento de fóruns federativos, para discussão e negociação
entre os entes, promovendo de fato a soberania compartilhada.
BIBLIOGRAFIA
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Fernando Luiz; PEDROTI, Paula; PÓ, Marcos Vinicius. “A formação da burocracia
brasileira: a trajetória e o significado das reformas administrativas”. In:
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GAETANI, F. “Avanços e perspectivas da gestão pública nos estados: agenda,
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Avanços e Perspectivas da Gestão Pública nos Estados. Brasília: Consad, p.
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de Sociologia e Política, Curitiba, n.24, p.41-67, junho de 2005.
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José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo, 24ª edição, revista, ampl. E atual. Até 31/12/2010. Rio de
Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2011.
FRIZZARINI, Maria Goreti Juvencio Sobrinho. “O Pensamento Político de
Fernando Henrique Cardoso”. In: Revista
Ponto-e-Vírgula. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, n.4, 2008. http://www4.pucsp.br/ponto-e-virgula/n4/indexn4.htm
MAGALHÃES, José
Luiz Quadros de. O Estado Federal
Centrípeto ou Centrífugo, O Estado Federal de Dois Níveis ou de Três Níveis e o
Estado Federal Simétrico ou Assimétrico. https://sites.google.com/a/direitoufmg.com/direito-ufmg/1o-periodo.
Acesso em 16/06/2013.
MAUSS, Marcel.
“Ensaio sobre a dádiva”. In: MAUSS, Marcel. Sociologia
e Antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003, p.185-314.
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competências no Brasil. In: PETERS, Guy e PIERRE, Joh (Orgs). (2010),
Administração Pública – coletânea. Brasília: ENAP e UNESP.
VIANNA, Luiz Werneck. A
revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Revan, 1997.
[1] VIANNA, Luiz Werneck. A
revolução passiva: iberismo e americanismo no Brasil. Rio de Janeiro:
Revan, 1997.
[2] CARDOSO, Fernando Henrique. Autoritarismo e democratização. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1975.
Frizzarini explica o conceito de FHC da seguinte maneira: A fim de satisfazer os interesses em torno
do estado, formam-se “estruturas burocráticas” que se articulam através de
“anéis burocráticos”, mecanismos que atravessam as grandes burocracias, a
pública e a privada, constituindo-se numa espécie de teia que vincula as
diferentes facções e permite aos setores da burocracia pública e estatal
ligarem-se aos grupos de interesses das empresas privadas (da burocracia
privada que responde pelos interesses dos grandes conglomerados) e vice-versa.
Em substituição ao antigo sistema político e às formas de representatividade da
sociedade civil, nas quais as classes sociais se organizavam em torno do estado
– suplantando, portanto, os mecanismos que permitiam a influência e pressão dos
setores tradicionais (atrasados) e da classe trabalhadora –, aqueles “anéis”
conectam os empresários, os funcionários do estado e os próprios militares,
segundo interesses e objetivos diversos, não apenas econômicos.
FRIZZARINI, Maria Goreti Juvencio Sobrinho. “O Pensamento Político de
Fernando Henrique Cardoso”. In: Revista
Ponto-e-Vírgula. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, n.4, 2008. http://www4.pucsp.br/ponto-e-virgula/n4/indexn4.htm
[3] “Ensaio sobre a dádiva”. In:
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia.
São Paulo: Cosac Naify, 2003, p.185-314. Marcel Mauss elaborou o conceito de fato social total para explicar as
formas de troca na Melanésia, ilhas Trobriand, Andaman, Polinésia, Samoa e
noroeste da América do Norte, integrando diversos povos, tribos e clãs nessa
região do Pacífico, inclusive os Maoris (focalizados no filme A Encantadora de Baleias), hoje minoria
populacional na Nova Zelândia.
[4]
Nenhum dos entes
participantes se comprometerá a resolver os problemas advindos da implementação
de políticas, nem assumirá a culpa por desvios que porventura aconteçam.
[5] Apud Abrucio &Ferreira
Costa, 1998.
[6] Não é pacífico na doutrina que
se a Emenda 1/69 é uma constituição ou uma Emenda à Constituição de 1967.
[7] Não confundir os consórcios
públicos disciplinados pela Lei nº 11.107/2005 com os consórcios tradicionais
entre pessoas administrativas. Os consórcios públicos se formalizam entre
pessoas jurídicas, o que não ocorre com os tradicionais (Carvalho Filho, 2011: 325).
[8] O texto que se segue é uma
síntese baseada no artigo “A Coordenação Federativa no Brasil: a experiência do
período FHC e os desafios do governo Lula”, de Fernando Luiz Abrucio, publicado
em 2005. As referências bibliográficas que não pertençam a este autor serão
explicitadas no texto.
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