sábado, 12 de agosto de 2017

O fim da religião

 

Eu sonho com o fim da religião. O fim da religião em dois sentidos: das denominações religiosas, que mais separam do que unem as pessoas e da religião enquanto "re-ligare", pois sonho com o tempo em que não será mais necessário "re-ligar", pois ser humano estará permanentemente ligado, conectado a sua própria essência divina e à divina presença do universo.

Por isso, vejo no espaco político sem religião mais potencial de fraternidade universal que na igreja, onde e aceito ouvir que meu irmão ou irmã é anormal porque não é heterossexual. Onde se prega o domínio do corpo pelo espírito, que o espírito não tem sexo, mas se aceita o determinismo biológico do corpo sobre a sexualidade!

No espaco político também há animosidades e anti-fraternidades, sectarismos, radicalismos, fundamentalismo cristão ou outros fundamentalismos religiosos. Porém, nele, somente nele, posso dizer francamente meu sonho com um espaco público em que o amor seja possível e legítimo em todas as formas. 

"O fim da religião", tenho um livro com esse título na minha prateleira (de Emerson Giumbelli), e me questionei por algum tempo se o significado era de morte ou de finalidade. Entretanto, algo que atinge sua finalidade, morre.

A finalidade da religião desde seus primórdios, no campo da política, tem sido a dominação, a conformação com ordens opressoras e a alienação politica. Ou com a "moral escrava" (Nietzsche), da aceitação pura e simples da realidade como ela é  "segundo a vontade de Deus", que, interessantemente, nos dá o livre-arbitrio. A aceitação confusa entre karma, infelicidade e injustiça, como se esses fossem os termos contratuais obrigatórios ou o destino da criação. Ora, sou resignada a tudo isso (sem revolta), resignação distinta de aceitar como verdade absoluta e imanente. O mundo não é, o mundo está.

Então, realmente, eu sou uma filha insubordinada contra o masoquismo da má sorte indestrutível, da injustiça irrevogável ou do karma inevitável. Sou contra a lógica cartesiana, materialista e determinista conveniente ao Capitalismo e a todas as formas de opressão e exploração entre seres humanos e contra animais (também seres e nossos irmãos).

Não há determinismo biológico entre natureza e cultura, porque haveria entre psiquismo e corpo? Por que estamos apegados a ideia de uma única natureza, quando a física quântica nos abre as portas de outras dimensões? Por que a Nasa "solta" imagens de objetos estranhos de inteligências estranhas na internet e ufólogos ainda são tachados de malucos?

Por que qualquer um que fala da conexão inevitável entre espírito, corpo e saúde é questionado "sobre ser espírita", se todas as religiões, até onde minha ignorância alcança, trazem a crença de que temos alma, espírito ou qualquer outro nome dado ao ser que sobrevive à matéria? Por que a medicina reconhecida é somente aquela que divide e se especializa em partes do seu corpo? Por que tanta esquizofrenia institucionalizada? 

Porque é mais importante o feto do que a mulher que já vive fora do útero há vários anos? Ambos são tão vida quanto humanos, o fato de querer manter a vida de um não justifica a morte do outro. Por que eu devo querer que tantas mulheres continuem morrendo em situações de aborto apenas porque eu sou contra? Eu devo impor isso a elas? Não é hipócrita querer regular o mundo pelas minhas convicções, ou pior, condenar as pessoas com base nelas? Isso é cristão? Defender a vida de um ser humano em gestação em detrimento de outro que já esta no mundo, não é crueldade? Tudo se passa como se fosse apenas uma questão moral em uma sociedade perfeita.

Como é isso pessoas? Acordar todos os dias com o sentimento de derrota, de que as coisas são assim e estamos fadados a lutar pela sobrevivência? Parece mais uma versão terror de expropriação da condição humana (aquela que Hanna Arendt falou...), um holocausto sem câmaras de gás. 

É interessante observar como estamos presos a uma Torre de Babel, ao cinismo puro e simples, a maldade escancarada, a uma manipulação ideológica da verdade, ideologia sendo chamada de "mentira", ideologia sendo trocada por "verdade científica", aberração de "Escola sem partido" (como assim, já é sem partido, tá ótimo assim! Mas, espera, então, o que significa esse discurso???), corrupção como apelo moralista para justificar avanço da direita, ou para colocar direita e esquerda "no mesmo saco"... E a política jogada na lata do lixo continua a definir sua vida, o que você come, veste e bebe "cara-pálida". E seguimos desgovernados, desorientados, sem respeito e sem malícia, impotentes, dissociados de nós mesmos, de quem realmente somos. Aquele povo que vai protestar, tá fazendo o que mesmo? Atrapalhar o trânsito!

Só que eu não quero apenas sobreviver. Sinto ser o que tenho feito minha "vida" inteira. Porém, não é o Capitalismo a chave de todas as portas, embora se aproprie de todas as opressões. O socialismo real não foi a saída, então lembro do comunismo, daquele do "Manifesto", um panfletinho bobo de Marx e Engels. Quando terminei minha leitura, pensei: "Maravilhoso, no entanto, a humanidade não está pronta". Há ainda quem pense que se trata de dar e manter as pessoas com o mesmo sapato, a mesma casa e a mesma roupa! Contudo, é claro, a história demonstra: a revolução é possível. Então, prefiro continuar "atrapalhando o trânsito" dos carros, da desigualdade, da impiedade, dos radicalismos, dos preconceitos, dentro e fora do meu peito insano de possibilidades no Bem, repleto de bens intangíveis e imateriais, que as traças não corroem e os bancos não roubam. Somos tão aprisionáveis quanto libertáveis, 2+2 = 5 no binômio de Newton.

Trazer o Reino de Deus aos nossos corações e à materialidade sensível é 
um grande desafio. Um enorme mega maxi desafio. Decidi aceitá-lo todos os dias, ainda que o período curto da vida individual não permita estar aqui para presenciar. 

Nós merecemos ser felizes, todos nós, os cachorros, as vacas, as galinhas, os mano, as mina, as mona, hindus, judeus, espíritas, católicos, evangélicos, budistas, playboys, patricinhas, operários, intelectuais, servidores públicos, professores, médicos, LGBT,  indígenas, todas as classes, toda a diversidade colocada e perdida... Não importa onde está o paraíso (ou onde ele foi parar?!): você quer encontrá-lo?

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