sábado, 29 de julho de 2017

Para quê isso tudo?



Para quê cada um passar a vida no seu canto com seus próprios problemas e dificuldades, para de vez em quando se sentar num bar, num café ou num restaurante com alguém a quem chama de "amigo" ou "amiga", falar umas bobagens, contar sobre sua vida, depois dar um abraço de despedida?

Aí, cada um volta pro seu "buraco" e novamente vai viver sua vida.
Mas, quando eu passo um aperto (ou vários apertos), não tenho coragem de chamar ou pedir qualquer coisa a qualquer um desses "amigos". Pois, eu sei, não posso contar com eles.

E aí me pergunto: e eles, podem contar comigo? Gosto de pensar que sim. Mas, eles também, nunca me pedem nada. Nunca me ligam no meio da noite chorando, pedindo socorro, ou algo parecido.

O que eu sei é que, quando peço alguma coisa, meu pedido fica no ar. Ninguém pega.

Sabe, todas as vezes, as poucas vezes, que alguém querido me pediu alguma coisa, numa hora de necessidade, eu atendi. Atendi quando o pedido foi mudo, inarticulado.  Eu realmente quero ser assim, pois nenhum bem material se compara ao valor dessa ajuda, nenhum dinheiro paga o preço de ter alguém com quem se possa contar.

Infelizmente, parece que somente quem tem a solidão por companheira percebe isso. Pois, muitas vezes não posso contar nem com quem me deu o sangue.

Então, para quê isso tudo? Para quê toda essa estupidez? Para que "desabafar", encher o outro com lamúrias de um passado que não lhe pertence, reviver coisas negativas apenas para satisfazer uma relação que não era, mas se tornou superficial? Relações que estão mais cheias de passado, que da plenitude de um presente sedento por mudanças...

É uma hipocrisia à qual não posso me furtar sob o sol da clareza, sob o sol da verdade. E toda nossa vida social tem sido cercada por ela, a hipocrisia, a começar pela proibição da verdade, custe o que custar. As pessoas fogem da verdade mais que o diabo da cruz.

Fogem até da verdade boa, de bons sentimentos, de valores da alma dos quais jamais deveriam se desfazer ou descartar. Fogem principalmente de si mesmas.
Simplesmente não quero estar com pessoas que nunca estão aqui quando eu preciso, ou que não posso chamar quando preciso (porque já chamei e me faltaram). Meu eco sempre vai sem volta. Não é isso que faz sociedade. É a reciprocidade quebrada e esquecida. Talvez por isso hoje somos esse amontoado de pessoas cercadas pelo absurdo da moralidade e pelo paradoxo da sujeição, da alienação e da passividade.

Galera, eu não ligo pra vocês pra perguntar como vocês estão, vocês também não ligam pra mim. Então, o que nós estamos fazendo??? Faz sentido pra vocês? Pra mim não!!!

E contra isso me revolto, não quero ser assim, não quero ser parte disso, mesmo assim, eu sou! Estou nessa lama até o pescoço, tentando não me afogar e ser diferente, ser solidária, ser verdadeiramente: amiga. Ser parte de novas relações, mais próximas, mais carinhosas, mais solidárias e fraternas. Será que o mundo consegue? Gosto de pensar que sim.

Que caridade é válida, se valorizamos mais os estranhos do que aqueles que nos são caros (e vice-versa)? Caridade não tem sobrenome, foi feita para todos, dentro de casa e na rua. O problema é que parecemos ter tempo para tudo, ou para nada além de nossos próprios interesses, nossos próprios problemas, nossos próprios egos e aqueles que o refletem. A desculpa de sempre, sempre correndo, sempre muito ocupados, sempre impossibilitados de ajudar...

No entanto, nenhuma rede social vai nos dar isso. Nenhum corretor ortográfico maldito, nenhuma externalidade tecnológica ou legal. Só a verdadeira consciência.

Não espero mais que venham me ajudar, ou que me retribuam quando eu já fui. As pessoas não podem dar mais do que possuem e nem se deve esperar retribuição. Quero apenas poder fazer o bem, porque é a coisa certa e me alegra. Amar e fazer o bem é um prazer sublime da alma. Finalmente posso dizer: isso me basta. 

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