terça-feira, 30 de setembro de 2008

Vestida para o Oscar

Vestidos de festa e casamento

First Girl

Second Girl

Third Girl

Fourth Girl

Fifth Girl

Morte na selva

Mulher de máscara

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Flor assustada

Sonho

Montanha de gelo

Vestido de baile

Elizabeth

Novo vestido para Mortícia Adams

Aos seis anos na escola

Relações reais e práticas entre a Sociologia e a Psicologia

Marcel Mauss
(1924)

Introdução

Este texto provém de uma comunicação apresentada na Sociedade de Psicologia francesa. Nela, Mauss elaborou um trabalho de revisão das comparações feitas entre as duas disciplinas.
A justificativa para este trabalho é a mesma deste mini-curso, estes balanços são úteis de vez em quando, ainda que bastante modestos em relação aos labores da invenção científica.
Em um momento em que muitos reconsideram as especializações e de valorização da interdisciplinaridade.
O objetivo de Mauss não é uma reflexão filosófica, a defesa da psicologia ou da sociologia. Para ele isso é desnecessário, naquela época ambas disciplinas já estavam consolidadas como ciências.
Suas questões são: quais as relações desejáveis entre os grupos de estudiosos? Quais as colaborações de uma para a outra e a serem feitas? Quais são os conflitos a evitar? E, que incursões de uns no terreno dos outros devem ser permitidas?

Posição da sociologia dentro da antropologia

Para Mauss há o reino da consciência, da consciência coletiva e da coletividade;
A sociologia concentra-se nos humanos em sociedade e a psicologia na consciência individual;
Contudo, e a psicologia coletiva?
Primeiramente, a sociologia trata somente de seres humanos e é portanto, exclusivamente antropológica;
A sociedade humana é animal, mas se destaca das demais pelas instituições; e a psicologia humana trata do comportamento individual.
A psicologia coletiva é parte fundamental da sociologia, pois é em torno das idéias comuns que se constrói uma sociedade concreta.
Tratamos neste ponto de origens, derivações e hierarquias entre as disciplinas, pois há autores que reduzem a sociologia a psicologia coletiva ou interações entre os indivíduos;

Contudo, a coletividade é mais que a mera soma dos indivíduos, há representações: o arbitrário, o simbólico, a sugestão exterior, a pré-relação e principalmente a coerção.
“Na sociedade, há outras coisas além das representações coletivas, por mais importantes que estas sejam, como na França há algo além da idéia de pátria: há um solo, há o seu capital, há a sua adaptação; há sobretudo os franceses, suas divisões, sua história. Atrás do espírito de grupo, numa só expressão, está o grupo que merece ser estudado, isto por três razões, pelas quais a sociologia escapa à jurisdição dos senhores.”
(Sociologia e Antropologia, vol.1, p.183)

Que são:
Fenômenos morfológicos, numéricos, relativos a idade, estado civil, homens, mulheres, escolaridade, filiação religiosa, orientação política, classe social, posição no mercado de trabalho, taxas de nascimento e morte, etc;

Funcionamento da sociedade- outros fenômenos estatísticos como o valor do dinheiro, ligado ao prestígio, às taxas de homicídios e roubos, de pessoas atendidas pelas políticas sociais do governo, o preconceito racial...

Todo fato social vem carregado de história, tradição e aspectos lingüísticos. Por mais alto que seja o grau de abstração, não podemos desprezar.

Recentes serviços prestados pela psicologia à sociologia “...o progresso das ciências tanto se faz nos seus limites, nas suas bordas exteriores, quanto no seu princípio, no seu núcleo ou centro.”
A parte psicológica da sociologia é composta pela história, estatística e psicologia.
Não há progresso de qualquer análise dos elementos de consciência coletiva na psicologia que nos seja indiferente.
Representações, práticas coletivas, atos e idéias costumeiras já é por si só vocabulário psicológico usado por nós.
Mauss selecionou 4 idéias resultantes do estudo da consciência como um todo e de suas relações com o corpo.

Noção de vigor mental- depois de Babinski e Janet as escolas psiquiátrica e neurológica francesas difundiram as idéias de vigor e debilidade mental, estenia e astenia. Aplicam-se ao suicídio e a idéia de morte sugerida pela coletividade.
Noção de psicose- o estado de idéia fixa, sua força e seu desenvolvimento, capacidade de multiplicação e persistência. Aplica-se a situações praticadas por grupos, por exemplo no fanatismo, e na mitomania. Bem como a teoria dos sonhos aplica-se à fantasias socialmente disseminadas.
Noção de símbolo e de atividade essencialmente simbólica do espírito- os estados mentais não são elementos isolados, deles participam signos e símbolos que repercutem e operam nos mecanismos mais profundos da consciência, presentes na comunicação humana e constituindo estados considerados como realidades.
Noção de instinto- mecanismos psicofisiológicos organizados, relação que existe entre o corpo e as coisas. Criamos e nos comunicamos através de símbolos precisamente porque temos os mesmos instintos.

Serviços a serem prestados pela sociologia à psicologia

A sociologia fornece como fenômenos normais
da psicologia coletiva o que a psicologia
considera patológico individualmente.
Existem duas ordens de contribuição:

1) Símbolos míticos e morais como fatos psicológicos- cabe a sociologia descobrir costumes que possuem implicações psicológicas nos indivíduos pertencentes a determinadas culturas. A exemplo do tabu da sombra na Polinésia e na África Central, em que a sombra de uma pessoa não pode passar sobre a outra.

2) Ritmo- analisa o ritmo no que ele tem de contagioso. É a união do fisiológico, social e psicológico. “...há estereótipos rituais formidáveis: como, durante as danças, com freqüência acompanhadas de um simples grito indefinidamente ululado, ou de apenas alguns versos de um canto muito simples, grupos às vezes consideráveis procuram, ao mesmo tempo, durante dias e noites, atividade, fadiga, excitação, êxtase...

O fato psicológico geral aparece em toda sua nitidez, porque é social; é conhecido de todos os que dele participam e, porque é comum, despoja-se das variantes individuais.” p.196
Aqui Mauss delineia o que formará futuramente sua noção de fato social total: aglomerações positivas e negativas de instintos, volições, imagens, de idéias de indivíduos reforçadas pela presença do grupo, no sentido da assimilação, avaliação, identidade e oposição, traduzem um todo que como tal age e pensa.
Esta abordagem desemboca no estudo da moral naquilo que interage com o instinto vital, negando-o em função de razões sociais, a exemplo dos kamikazes ou do haraquiri entre os japoneses e a tanatomania, novamente mencionada pelo autor.
A distinção entre direito e esquerdo, a noção de espaço orientada por ela, mais uma vez comprovam a mistura de corpo, espírito e sociedade;
O homem dividido em faculdades só se encontra na literatura, temos que lidar com ele em sua totalidade, os fatos a que nos referimos não são especiais a tal ou qual parte, são de ordem muito complexa.

Questões colocadas à psicologia

O objeto das duas ciências é o mesmo, o homem completo e concreto.
Mauss pede aos psicólogos que se concentrem no domínio da psicopatologia.
O humano não seccionável e médio é o que aparece nas estatísticas sociais.
Aspectos da personalidade se manifestam de modo desigual de acordo com situações e fenômenos sociais por isso o autor pede aos psicólogos:
“Dêem-nos os senhores, portanto, uma teoria das relações entre os diversos compartimentos da mente e das que existem entre esses compartimentos e o organismo.” p.200
O problema capital da sociologia é o homem médio e também normal, logo, é importante que a psicologia descubra a combinação média e normal dos diferentes compartimentos do espírito.
A expectativa- considera que os fenômenos de expectativa possuem poder criador dos fenômenos que pressupõem. Sua relevância para a sociologia surge por exemplo em casos de magia, no direito, na economia. “A idéia de ordem não passa do símbolo da expectativa das pessoas.” A possibilidade de ou insatisfação dessas expectativas pode gerar grande ansiedade, principalmente em situações de instabilidade social. “... A expectativa é um desses fatos em que a emoção, a percepção e, mais precisamente, o movimento e o estado do corpo condicionam diretamente o estado social e são por ele condicionados.” p.203
Obs: Mauss possui um viés evolucionista (e machista) marcante.

Resumo

Como bom kantiano Mauss discute as categorias do espírito e considera que elas são também de caráter histórico, além de sociais e psicológicas.
As categorias Aristotélicas não são as únicas existentes em nosso espírito, é imprescindível elaborar um catálogo de categorias. Ex: pequeno e grande, inanimado e inanimado, direito e esquerdo.
As categorias são símbolos gerais desenvolvidos pela humanidade.
A humanidade edificou seu espírito (sentimento, sentido e razão) em todos os meios técnicos e místicos.
“O sentimento de atual relatividade da nossa razão é o que inspirará a melhor filosofia”

Lei de Sociedade

Definição de Sociedade:
Comunidades humanas cujas conquistas se sobressaem às do mundo exclusivamente natural e se expressam por pensamentos, palavras e ações resultantes da percepção que o indivíduo constrói de si mesmo através do outro. As aquisições, méritos ou deméritos sociais podem ser observados pela história, constituída por contingências imprevistas para os atores, mas que resulta da interação dos livres-arbítrios individuais. A história, em conseqüência da própria Lei de Progresso, contém Presente, passado e futuro. Por isso, quando analisamos uma sociedade, somos capazes de perceber nela estruturas e instituições, sejam religiosas, políticas, científicas, etc., que são herança de seu passado e que, portanto, influenciam de modo decisivo, porém, não determinante, aqueles que nascem e crescem num dado momento. No passado, residem as causas, o irrevogável, no presente, as mudanças, o potencial, no futuro, as conseqüências, o progresso.

O homem como ser social- Indivíduo e sociedade
+ Necessidade da vida social

Indivíduo e Sociedade:
Norbert Elias, um sociólogo histórico, em seu livro O Processo Civilizador demonstrou que a divisão indivíduo / sociedade decorreu de um processo histórico, localizado no tempo. E foi justamente esta divisão que permitiu o aparecimento da sociologia como disciplina científica.
A explicação que fortalece seu argumento pode ser buscada em Max Weber, em seu livro Economia e Sociedade, quando este descreve a gênese das cidades européias desde a Idade Média, distinguindo seus aspectos políticos de modo decisivo para a história do Ocidente. Isto porque, foram nas cidades européias que surgiu o indivíduo moderno, um ser autônomo, livre, senhor de seu próprio destino, um ser humano igual a qualquer outro. Isto porque, antes, éramos somente pessoas, identificadas pela origem e trajetória de seus respectivos grupos sociais, cada um estava em seu devido lugar e todos como gotas nos moinhos de Deus. Não que inexistissem conflitos ou mobilidade social mas sim que, as cidades lutaram por sua independência política, começando pela liberação de seus moradores das obrigações feudais que os prendiam aos seus senhores. E, esta liberação dos servos, usurpando os direitos dos senhores feudais dos quais eram vassalos, não se deu de maneira tranqüila, se deu através de várias lutas e revoltas.
A gênese do cidadão culminou na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, durante a Revolução Francesa; o que marcou o ideal de tratamento da lei em relação não mais a estamentos ou classes, mas em relação a indivíduos, pela “igualdade de todos perante a lei, o direito à propriedade privada e de resistência à opressão”.
Este processo de formação das cidades foi revolucionários justamente por contestar a ordem feudal estabelecida e tem suas raízes na doutrina cristã que nos coloca a todos como irmãos perante Deus, ou seja, iguais, sem qualquer privilégio concernente às desigualdades sociais de status e riqueza. Percebemos aí o quanto foi profundo o impacto da vinda de Jesus a Terra, que motivou não só violências descabidas, mas também serviu como argumento para tornar-nos mais independentes e poderosos em capacidade de decisão sobre como conduzirmos nossas próprias vidas em um movimento social que aos poucos alcançou preponderância no Renascimento e na Revolução Industrial.
A liberdade também é uma conquista cujo patrimônio cabe-nos aumentar. Somente hoje, tantos anos depois, reconhecemos a necessidade de vinculação dos direitos sociais aos direitos políticos e civis, para que estes últimos possam ser plenamente exercidos.
Concluindo:
Pessoa- suporte concreto das relações sociais.
Indivíduo- uma invenção da modernidade, um ser distinto de todos os demais, porém, tão humano quanto os outros, e, por isso, igual a eles perante a lei, com liberdade de ir e vir, sobre seu corpo e sobre suas opções de trabalho, um cidadão com direitos e deveres, independente da classe social ou grupo religioso ao qual pertence, pois, tem liberdade de culto e de opinião.
Obrigados a obedecer as regras do grupo social em que nascemos com um destino tradicionalmente determinado que se sobrepõe a nossa vontade, somos unicamente pessoas. Hoje, somos pessoas e indivíduos, pois, além de sermos considerados únicos, ímpares, alcançamos maior flexibilidade no que diz respeito a muitas tradições do passado.
Indivíduo e sociedade não se opõe no sentido em que um violará sempre os interesses do outro. Ambos relacionam-se de modo interdependente visto que nenhum de nós é auto-suficiente como um ser autótrofo. Um grande exemplo de como isto se dá, tanto no plano material quanto extrafísico é a Divisão Social do Trabalho, em que cada um contribui para a produção de bens específicos e se apropria, através dos ganhos que obteve, de parte dos bens produzidos pelos outros. Ou seja, nossas necessidade não são satisfeitas apenas com aquilo que produzimos.

Necessidade da vida social:
Deduz a partir deste princípio de interdependência enunciado anteriormente. No entanto, uma metáfora, primeiramente elaborada por Aristóteles e citada por Norbert Elias em seu livro A Sociedade dos Indivíduos, ajuda-nos a entender porque a Lei de Sociedade está intimamente ligada com a Lei de Progresso(história de Robinson Crusoé). Somente a sociedade é capaz de produzir, conservar, perpetuar e desenvolver bens materiais e espirituais.
Assim, o todo social não é a soma de suas partes, os indivíduos, pelo menos não no momento presente(considerando a reencanação).
“(...) Aristóteles certa vez apontou um exemplo singelo: a relação nos proporciona um modelo simples para mostrar como a junção de muitos elementos individuais forma uma unidade cuja estrutura não pode ser inferida de seus componentes isolados.”1
Se a sociedade fosse a soma dos indivíduos que a compõe, seria um amontoado de pedras, porém, é como uma casa em que os indivíduos são as pedras, o cimento as relações sociais, o teto as instituições, as leis, o Estado, portas e janelas, relações externas e horizontes de progresso, os cômodos, as classes, levando bem longe o caráter desta comparação. A sociedade se sobrepões aos limites estreitos da vida corporal humana e as estruturas sociais sob as quais reencarnamos, são a medida de nosso progresso coletivo.

As estruturas sociais são coercitivas e facilitadoras. Facilitadoras porque, através da socialização, fornece-nos soluções para problemas já conhecidos e corriqueiros, auxiliando e deixando-nos energia para que encontremos caminhos para novos desafios.* Coercitiva porque as soluções já existentes não são as únicas possíveis, posto que há diferentes sociedade, limitando assim, nosso campo de percepções mentais e nossa gama de opções para agir- as estruturas, por sua durabilidade, condicionam o pensamento e oferecem resistência a mudança- assim são as estruturas coletivas, e deva-se acrescentar, as do indivíduo, que fixa para sempre as estruturas da moral e da sabedoria que adquire, ou seja, não retrograda, mas pode remover, ainda que com dificuldade, as estruturas mentais engendradas pelas imperfeições arraigadas no íntimo.
A partir daí podemos introduzir a idéia de ciclo de reprodução. A coerção da estrutura social não é capaz de prever todas as nossas ações e pensamentos, por isso, ao mesmo tempo em que limita nossa liberdade, permite-nos exercê-la. Enquanto afirmamos em certo grau as regras sociais, “repetindo-as” com nossos atos, percebemos suas deficiências e estabelecemos objetivos de mudança. Nem mesmo a repetição se dá de maneira igual, por isso chamamô-la reprodução, pois nos diferenciamos pela faculdade do livre-arbítrio.** Por isso o ciclo de reprodução jamais se repete e amplia-se porque não perde suas aquisições anteriores, temos aí o progresso social, que evidencia em termos planetários o progresso da humanidade.
Claude Lévi-Strauss descreve o Princípio da Reciprocidade como um dos principais atributos constitutivos do Homem e de seu ser social. A cultura preenche os espaços “vazios” deixados pela natureza, ou seja, a cultura determina os comportamentos indeterminados pela natureza. O Homem é o único animal que elaborou a própria defesa através de ferramentas que são extensões de suas mãos. Não possui garras, presas, vôo, velocidade ou mimetismo. Este autor avalia os limites entre natureza e cultura e enuncia em sua primeiras considerações ao comparar o Homem com os macacos antropóides:
“Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no Homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade. E que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular.”2
Este conceito é bastante compatível com a Doutrina Espírita, principalmente no que concerne às Leis Morais inscritas na consciência de cada um de nós, e, a própria alteridade(diferença) da qual trata a antropologia, através da diversidade cultural, é conseqüência destas leis, especialmente o livre-arbítrio, o progresso e a sociedade. Entretanto, isso não basta para a compreensão da descoberta de Lévi-Strauss, que foi a seguinte:
“(...)a proibição do incesto apresenta, sem o menor equívoco e indissoluvelmente reunidos, os dois caracteres nos quais reconhecemos os atributos contraditórios de duas ordens exclusivas, isto é, constituem uma regra, mas uma regra que, única entre todas as regras sociais, possui ao mesmo tempo caráter de universalidade.”3

O Tabu do Incesto é, pois, a junção entre cultura e natureza, espírito e matéria, ação e Lei Divina. É o que faz com que o homem saia de si mesmo, de seu grupo, para que haja uma troca e um benefício mútuo. O Parentesco analisado através de um enfoque horizontal, de aliança, não de descendência, genealogia. Daí o a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e façais aos outros o que gostaríeis que fizessem contigo. Pois, do Tabu do Incesto chegamos ao Princípio da Reciprocidade. Este é, desde os primórdios até os dias atuais, o que rege as relações sociais em suas mais variadas formas. Por isso que, em muitas sociedade a mulher foi e é como uma moeda de troca, por ser o casamento um grande meio de aliança. Tal concepção pode ser em parte explicada pelo que representa a mulher enquanto símbolo da sobrevivência e continuidade da espécie, sobre a qual se definem exogamia e endogamia4, e, sem continuidade ou perpetuação, nenhuma relação social faria sentido, o que, por outro lado, confirma os argumentos do evangelho em prol da reencarnação.
“O Princípio da Reciprocidade trata de um modelo cultural universal, mesmo quando não igualmente desenvolvido em toda parte.”* E refere-se não só às coisas materiais e sua importância econômica, refere-se a dons, a sentimentos e valores. Em muitos casos a troca possui a finalidade moral de produzir simpatia entre as partes.
“Os bens não são somente comodidades econômicas, mas veículos e instrumentos de realidades de outra ordem, potência, poder, simpatia, posição, emoção.”5
Em nossa sociedade isto se manifesta através dos presentes, dos convites e festas, coisas que se retribuem e colocam-nos em pleno domínio da reciprocidade. Outro exemplo interessante nos leva ao ambiente de um restaurante francês em que pessoas desconhecidas sentam-se juntas compartilhando suas mesas, recebendo idênticos jarros de vinho. Apesar disto, oferecem o vinho contido em seu jarro ao outro, recusam-se em apropriar-se do que lhes pertence individualmente.
“Cada conviva come, se é possível dizer, para si, e a observação de um dano mínimo na maneira pela qual foi servido desperta a amargura com relação aos mais favorecidos e uma ciosa queixa ao dono do restaurante. Mas com o vinho dá-se coisa inteiramente diferente. Se uma garrafa for insuficientemente cheia o possuidor dela apela com bom humor para o julgamento de um vizinho. E o dono da casa terá de enfrentar não a reivindicação de um vítima individual mas a repreensão comunitária. Isto acontece porque, com efeito, o vinho, diferentemente do ‘prato do dia’, bem pessoal, é um bem social.”6
Isso demonstra que “o ritual das trocas não está somente presente nas refeições de cerimônia. A polidez exige que se ofereça o sal, a manteiga, o pão, e que se apresente o prato ao vizinho antes da pessoa servir-se.”7
Para encerrar este tópico:
“(...) entre a proibição do incesto e o Dom recíproco só existe um único caráter comum, a repulsa individual e a reprovação social dirigidas contra o consumo unilateral de certos bens.”8
A natureza da sociedade é portanto, a mesma do homem: potencialmente boa e perfeita. Contrária ao egoísmo, possui os germes da fraternidade. A sociedade é a relação do eu com o outro, exatamente onde o homem precisa melhorar-se. Não sem antes, melhorar a relação que tem consigo mesmo e com a própria essência divina.

Expiações Coletivas:
Decorrem da vida e da imperfeição social. O convívio, como foi explicado anteriormente, produz e reproduz ordenações de valores específicos que indicam nossas tendências para agirmos de determinados modos individual e coletivamente. Daí o caráter das profecias que enxergam no futuro, os efeitos dos atos e pensamentos humanos do presente.
Há coisas que fazemos em grupo que jamais faríamos individualmente , seja para o bem, seja para o mal. No caso das expiações vigora este último no sentido de que expiar é sofrer a colheita de nossos equívocos.
Admitindo a sociedade como um núcleo comum em que estamos submetidos às mesmas influências(logo, tendências), deduzimos que a vida em sociedade pode nos proporcionar a queda conjunta em certos equívocos.
A exemplo disto temos A Guerra do Paraguai e a escravidão, que talvez sejam duas das maiores causas das dificuldades de nosso país no presente.
As catástrofes naturais que ceifam por vezes, milhares de vidas, além de re-acomodarem os elementos físicos do globo. Herculanum e Pompéia foram pulverizadas pela erupção vulcânica do Vesúvio, na Itália, no ano 70 D.C. Ambas eram dominadas pela corrupção, luxúria, vício e crueldade de seus habitantes, cujas mazelas mal se escondiam sob o verniz das aparências de polidez da riqueza.
A expiações coletivas ocorrem porque ao contrário do conceito físico, os afins(pólos iguais) se atraem, pois encontram prazer e procuram felicidade nas mesmas coisas. Os iguais se atraíram para o mesmo local no espaço e a misericórdia divina, para impedir que se endividassem ainda mais com a Lei, aproveita o ensejo de sua reunião para propiciar-lhes uma eficaz oportunidade de regeneração, em que a solidariedade proporcionada por suas semelhanças será agente facilitador de resgate no plano espiritual. A observação de que o teor de meus atos gera dor não só em mim, mas nos outros; e de que as conseqüências são funestas para todos é contundente remédio de justiça e repulsão aos sentimentos mesquinhos que até então moviam minha vontade. É este o propósito da experiência de dor coletiva, o mais rápido reconhecimento da própria culpa.
O mesmo processo se repete nos acidentes de avião, nos ataques terroristas, nos terremotos. Deus não move suas forças para punir seus filhos, utiliza-se da perfeição da própria lei, nos campos da afinidade e do livre-arbítrio, para que o bem se faça em contraposição ao mal, contribuindo para o avanço espiritual em massa. Ou seja, se a dor é por atacado, o progresso também.
Outros exemplos de expiação coletiva:
Ø Hebreus X Palestinos: hebreus- povo comprometido pelo orgulho racial e religioso e pela morte de Jesus. Palestinos- comprometidos pela dominação do Império Turco-Otomano que teve os benefícios de propagação do saber árabe mas os deméritos da violência, também credores de orgulho racial e religioso provenientes da xenofobia e do sectarismo. Na verdade, o que fazem não é apenas um resgate, é a contração de mais débitos perante a Lei Divina, enquanto torturam-se mutuamente por um passado de desavenças que se renovam no presente através do ciclo vicioso da rivalidade e da vingança.
Ø Primeira e Segunda Guerra Mundial: Penalizaram todos os envolvidos e foram o auge, o acirramento das disputas imperialistas em que cada país queria as riquezas do mundo para si, deixando no abismo moral e no caos econômico principalmente a Alemanha que levou muito longe seu nacionalismo através da antiga herança de sua descendência belicista, da suposta superioridade da raça, ideologias com as quais justificavam o genocídio.


Civilização e Progresso Social:
O progresso ou evolução não é uma linha reta inclinada do ponto de partida ao infinito. Ascensão contínua não significa intensidade contínua e uniforme do esforço em progredir nesta ou aquela área. O destino da sociedade, como o de cada um de nós, é a felicidade mas os caminhos que percorre são em alguns casos mais tortuosos que imaginamos.
O mito do progresso linear é derivado do valor dado a tecnologia pelo etnocentrismo do homem moderno. Uma civilização pode e precisa se desenvolver em muitos outros aspectos além deste. O mérito da civilização Ocidental foi o de conseguir o maior grau de acumulação(continuidade, concentração, síntese) tecnológica já alcançado pela humanidade, mas isso não faz dela superior a todas as outras, pois, sabemos o quanto somos precários em termos morais de respeito ao próximo. A Revolução Neolítica e a Revolução Industrial, são neste sentido, as maiores revoluções tecnológicas pelas quais passamos. Para desenvolver este tópico utilizamos as noções de um livro da obra de Claude Lévi-Strauss Raça e História, em que ele discute uma gama de preconceitos evolucionistas que dizem, resumidamente, que a sociedade ocidental, especialmente a européia, estaria no topo da escala evolutiva e das demais sociedades representam estágios anteriores e mais primitivos da humanidade, cujos resquícios sobreviveram ao tempo. Este é o princípio básico deste tipo de evolucionismo, o social, cujos argumentos surgiram antes da teoria darwinista, no séc.XVIII, com Spencer, Comte e Tylor e teve seu maior expoente em Morgan, no séc.XIX.
O evolucionismo biológico, no entanto, fortaleceu o evolucionismo social. Deixando de lado por enquanto, suas conseqüências funestas, devemos notar que esta doutrina contribuiu fortemente para a organização da ciência, configurando suas primeiras bases metodológicas. Ela passou a constituir um corpo definido de estudos continuados e destinados a fins específicos. Isto porque o evolucionismo forneceu um modelo, uma estrutura de superação racional dos limites do conhecimento, o que foi decisivo para a grande explosão intelectual dos séculos XVIII e XIX.
Das conseqüências funestas podemos adentrar o fato de que o evolucionismo social, transposto para o biológico, gerou teses racistas que legitimaram as disputas imperialistas pelo partilha do mundo, em que cada país envolvido considerava-se superior aos demais cultural e fisicamente. O mundo virou uma panela de pressão prestes a explodir nas duas grandes guerras que marcaram o início do século XX.
Fica a lição de que não podemos confundir diferenças biológicas que não conferem a nenhuma raça aptidões anatômicas ou fisiológicas de uma em relação às outras.
Sobre a diversidade das culturas: podemos dizer que essas diferenças se dão pelo nosso livre-arbítrio, pelos aspectos de adaptação ao meio e a inteligência humana, cuja criatividade possui inventividade capaz de vencer diversos obstáculos. O fato é que a diversidade existente é fruto de um relação dinâmica entre as cultural, não de um processo estático em que cada núcleo social isola-se ou encontra-se isolado dos demais em sistemas fechados.
“Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forças que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.”9
O afastamento geográfico, as particularidades do meio e a ignorância de outras culturas humanas são fatores incontestáveis mas não determinantes da diversidade: “As sociedades humanas nunca se encontram isoladas; quando parecem mais separadas, á ainda sob a forma de grupos ou feixes”10

“A diversidade das culturas é de fato no presente e também de direito no passado, muito maior e mais rica que tudo o que estamos destinados a dela conhecer.”11
Lévi-Strauss observa que culturas provenientes de um tronco comum não diferem da mesma forma que aquelas, que, em algum momento, mantiveram estreitos contatos. Um forte exemplo desta ocorrência pode ser encontrado nos estudos lingüísticos em que o russo, o francês e o inglês possuem a mesma origem, mas o russo apresenta-se hoje, em vários termos, mais próximo dos traços fonéticos das línguas ugro-finlandesas faladas nos territórios contíguos a Rússia.
Etnocentrismo:
Sabendo então, que as diferenças saltam aos olhos de quem vê ou estuda, precisamos, ao comparar, ter consciência dos fatores que constituem a nossa visão do Outro. O contato com a diversidade cultural é um choque que nos leva a crer que tudo que consideramos óbvio podia ser feito diferente, desde o ato de comer ao modo de pensar, observar e classificar as coisas no mundo. Este choque nos leva mais a negar a diferença do que a aceitá-la, voltando a considerar os nossos princípios por única verdade que merece ser seguida. De várias formas repudiamos maneiras de pensar que nos são estranhas chamando-as de bárbaras como os gregos antigos, ou de selvagens, como a civilização Ocidental mais tarde cunhou os índios, com o mesmo sentido. O Etnocentrismo é a recusa em admitir a diversidade cultural. É muito mais fácil negar e destruir, que compreender e conviver pacificamente. Entretanto, o etnocentrismo dos nativos americanos se deu sob outra cosmologia, que elevava animais ao patamar de humanos, que comia o inimigo para absorver suas qualidades de guerreiro e contar sua história, incorporando assim, a diferença. Mais que isso, os americanos tinham em suas previsões religiosas a vinda de deuses descritos com as características dos europeus. Ou seja, eles aceitaram e receberam os portugueses e espanhóis, mas, se quisessem, poderiam tê-los massacrado pois estavam em muito maior número, conheciam o território e eram hábeis guerreiros. Quando perceberam os intuitos exploratórios, reagiram muitas vezes, isoladamente, eclipsados já pelo grande número de colonizadores, pelas disputas entre si, pela opressão da escravidão, das armas de fogo, e, principalmente, pelo extermínio de doenças comuns aos europeus, contra as quais não tinham qualquer defesa e contribuíram enormemente para a redução drástica da população indígena até sua quase extinção nos dias atuais. Os nativos americanos acumularam em sua história o conhecimento e a domesticação das mais variadas espécies vegetais “promovendo substâncias venenosas com a mandioca ao papel de alimento base(...)levando determinadas indústrias como a tecelagem, a cerâmica e o trabalho dos metais preciosos ao mais alto grau de perfeição. Para apreciar esta obra imensa, basta medir a contribuição da América para as civilizações do Velho Mundo. Em primeiro lugar, a batata, a borracha, o tabaco e a coca9base da anestesia moderna)...o milho e o amendoim(...)o cacau, a baunilha, o tomate, o ananás, a pimenta, várias espécies de feijão(...). E, finalmente o zero, base da aritmética e, indiretamente, das matemáticas modernas, era conhecido e utilizado pelos Maias pelo menos meio milênio antes da sua descoberta pelos sábios indianos, de quem a Europa o recebeu por intermédio dos árabes”12. Admira-nos, diante desta lista incompleta, que tenham inventado teorias de ETs visitando os povos pré-colombianos tanto quanto aos egípcios.
Tais teorias fazem sentido do ponto de vista reencanatório ou quando pensamos nos exilados de Capela, porém, sem essas considerações sensatas tornam-se meras historietas para subestimar a capacidade destes povos, julgando-os incapazes e desprovidos do mérito de suas conquistas. Aos “povos primitivos” sorte, acaso, aos “desenvolvidos”, trabalho, esforço e inteligência.

Ora, até mesmo a pedra lascada demanda o saber de qual material usar, de em qual material devemos atritar, como devemos fazer isso e quais tipos de lâmina obteremos, para que servirão... Tente lascar uma pedra, ou, quem sabe, descobrir o fogo e vai ver como é facinho... A cerâmica então, nem se fala! É claro, há sempre uma certa dose de sorte, acaso, diz Lévi-Strauss, mas sem trabalho a sorte e o acaso se perdem e passam despercebidos, quando não há vontade humana para o desenvolvimento. Para nós espíritas, que não acreditamos no acaso ou na sorte, mas sim na Lei de Causa e Efeito, na misericórdia divina, sabemos que existe sempre uma interferência superior em nossos destinos fornecendo-nos oportunidades de progresso. Do mesmo modo que Sepúlveda e Las Casas discutiam se os índios tinham alma ou não, os índios matavam marinheiros portugueses, deixando-os apodrecer nas praias para ver se tinham corpo.
Toda esta digressão teve o caráter de demonstrar ao leitor o quanto elaboramos concepções errôneas do Outro em decorrência do etnocentrismo. Este fenômeno ocorre entre nós, brasileiros, entre americanos, franceses, ingleses, angolanos, guaranis, Maias, havaianos, melanésios, etc. E é justamente a universalidade desta atitude que nos identifica com aqueles que tentamos negar. “Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens ou bárbaros’ dos seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.”13.
O autor faz, para facilitar o entendimento, uma analogia desta concepção com a física: Quando estamos em um trem em movimento e vemos outro que também se move na mesma direção e mesmo sentido, temos a sensação cultural de que o outro, semelhante, caminha e/ou progride tanto quanto nós.
Quando estamos em um trem em movimento e vemos outro que também se move na mesma direção mas em sentido contrário, temos a sensação cultural de que andamos, progredimos, porém que o outro trem e seus passageiros, estão parados.
Progresso:
O fato de que desconhecemos a história de muitas sociedades, inclusive as desprovidas de escrita, não significa que elas não tenham história.
“Na verdade, não existem povos crianças, todos são adultos, mesmo aqueles que não tiveram diário de infância e de adolescência. Poderíamos, na verdade, dizer que as sociedades humanas utilizaram desigualmente um tempo passado que, para algumas, teria sido mesmo um tempo perdido; que umas metiam o pé no acelerador a fundo enquanto outras divagavam ao longo do caminho. Seríamos assim conduzidos a distinguir duas espécies de histórias: uma história progressiva, aquisitiva, que acumula os achados e as invenções para construir grandes civilizações, e uma outra história, talvez igualmente ativa e empregando outros tantos talentos, mas a que faltasse o Dom sintético, privilégio da primeira.”14

Eu diria no lugar de progressiva, progressista, pois é valor da sociedade moderna superar a si mesma. Daí extraímos nosso pensamento racionalista e as especializações do conhecimento que concentram seus esforços no aprimoramento de determinadas áreas criadas a partir desta mesma concepção de ciência pragmática. É este tipo de conhecimento concentrador que nos permite aplicar o conhecimento de modo a sintetizá-lo num artefato material ou arcabouço teórico, no alcance de nossos objetivos. Esta persistência em aprofundar cada vez mais as dimensões de um problema ou questão para depois resumi-lo em uma resposta é característica do próprio trabalho intelectual.
Contudo, não podemos enxergar esta forma de conhecer como se fosse a única. Aqueles a quem por muito tempo chamamos de primitivos possuem um intelecto desenvolvido de outra maneira e conquistaram um cabedal classificatório da biodiversidade vegetal e animal de seus ambientes que além de fazer inveja a qualquer taxionomista ocidental ainda se mostra como uma verdadeira proeza de memória dos nativos que são capazes de descrever detalhadamente em alguns casos mais de 1000 espécimes, tanto quanto remontam sua descendência em mais de 400 gerações- tudo isso, sem escrita. Tal conhecimento ultrapassa e muito a utilidade ou a necessidade de sobrevivência que possuem. Assim, não podemos enxergar o progresso humano e da humanidade com a visão restrita de nossos valores progressistas e de continuidade que possuímos. Vários ancestrais da espécie humana coexistiram, alguns deles com o próprio Homo Sapiens. A pedra lascada não desapareceu quando descobrimos a pedra polida e um machado não dá origem física a outro melhor, como um animal, no evolucionismo biológico, cujas evidências podem ser estabelecidas de forma muito mais lógica e natural.
O progresso não é como uma pessoa que sobe uma escada, regular, seriado ou escalonado no tempo. Em sua abrangência de todos os potenciais a serem desenvolvidos pelos princípios da vida(Princípio Vital, Princípio de Inteligência e Princípio Inteligente), é contínuo. A intensidade e continuidade com que desenvolvemos cada uma dessas potencialidades é que não é, pois tais fatores estão subordinados ao nosso livre-arbítrio.
“A humanidade em progresso nunca se assemelha a uma pessoa que sobe uma escada, acrescentando para cada um dos seus movimentos um novo degrau a todos aqueles já anteriormente conquistados, evoca antes o jogador cuja sorte é repartida por vários dados e que, cada vez que os lança, os vê espalharem-se no tabuleiro, formando outras tantas somas diferentes.”15
André Luíz em Evolução em Dois Mundos e Walter Oliveira Alves em Educação do Espírito confirmam esta concepção no sentido de que o desenvolvimento de nossas potencialidades se dá em maior ou menor grau de acordo com as oportunidades, necessidades e trabalho que empreendemos em nossas reencarnações, logo, o que se submete a nossa vontade pode ou não ser contínuo, pode ou não ser levado em conta, embotado, interrompido. O progresso é a síntese destes fatores enormemente variáveis em sua complexidade combinatória.
Do mesmo modo que não aceitamos o canibalismo dos Tupinambás por exemplo, os índios não entendiam como em meio a tanta fartura havia gente passando fome e necessidade em Lisboa. Somos uma sociedade não só em progresso(porque todas as sociedade estão, independente de seu ritmo) mas progressista. O problema é que somos progressistas mais em termos intelectuais que sentimentais. Se naquele setor temos que aprender com outras sociedades, imaginem em termos morais.

Nos índios poderíamos observar o respeito aos velhos e o cuidado com as crianças, a vida sem ganância; nos americanos a disciplina do tempo, nos asiáticos a preocupação transcendental, etc.
Enfim, só podem ser comparados em termos valorativos reais, absolutos de inferioridade e superioridade, aqueles que tiveram as mesmas oportunidades, a mesma quantidade de tempo, no mesmo contexto cultural, submetidos ao mesmo ambiente e qualidade de relações. Ou seja, maior ou menor progresso refere-se ao aproveitamento maior ou menor das dádivas recebidas.
Entre as diferenças culturais e os espíritos apenas iniciantes na caminhada evolutiva humana a comparação se dá de maneira relativa(em relação a ), pois àquele que possui atributos diversos do nosso, é diferente de nós no ponto de partida, ambiente, percepções mentais e tempo de aprendizado, não podemos conferir os mesmos critérios de classificação de mérito ou demérito, já que as necessidades e aquisições são outras. As sociedades são representações da realidade e a cultura é o óculos que usamos para ver o mundo. Podemos dizer e certamente chegar a conclusão de que X na sociedade americana é melhor do que X na sociedade brasileira; porém Y na sociedade brasileira é melhor que Y na sociedade americana. Para isso precisamos encontrar, por comparação, algo que seja semelhante. Entendamos este ponto fundamental:
Condições diferentes responsabilidades diferentes escolhas diferentes.

Vida de isolamento e voto de silêncio

Jesus no Lar
Lição n°11
A lição do Santo Desiludido nos traz o ensinamento de que agir na busca do bem é enfrentar o mal que reside em nós e nos outros, através do que surgirão diversas tentações e desafios, que, dentro da missão abraçada precisamos vencer. Ou seja, fazer projetos e empreendê-los é correr riscos de erro e de aprendizado, porém, imprescindíveis para dar a oração seu valor de elevação. Quem não faz não erra, mas também não acerta.
O Santo, com sua inação estéril, serviu somente a si mesmo, ao seu egoísmo, ao invés de servir a Deus. Jesus mesmo disse, que qualquer um que agasalhasse um necessitado seria a Ele que estaria agasalhando.
“Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio. A fé sem obras é uma lâmpada apagada. Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.”16
Lição n°26
A lição do Valor do Serviço demonstra que não basta ter talentos, é preciso multiplicá-los. A estagnação daquele que é justo por perceber as injustiças do mundo, mas, sem modificá-las um milímetro, fez com que permanecesse alheio aos irmãos necessitados.
Ele presumiu que tinha luz, e, quem se acha iluminado obviamente pensa que não precisa buscar esta luz com qualquer esforço no bem. Ao contrário do criminoso, que em sua humildade estava disposto a encontrá-la, aproveitando todas as oportunidades do caminho. Assim precisamos reconhecer o quanto somos pequenos e o quanto podemos ser grandes juntos. Viver no mundo sem ser do mundo, não fugir do mundo levando-o consigo.
“- A virtude é sempre grande e venerável, mas não há de cristalizar-se à maneira de jóia rara sem proveito. Se o amor cobre a multidão dos pecados, o serviço santificante que nele se inspira pode dar aos pecadores convertidos ao bem a companhia dos anjos, antes que os justos ociosos possam desfrutar o celeste convívio.”17
Estas duas parábolas demonstram claramente o que disse Jesus e o que diz a Doutrina Espírita sobre a Vida de Isolamento e o Voto de Silêncio. Fugir ao mundo para negar sua imundície é levá-la conosco para onde quer que formos. Fugir ao mundo em sacrifício dos prazeres mundanos pelo próximo, é ao contrário, por em prática a Lei de Justiça Amor e Caridade, visto que na situação anterior há sim sua negação e troca por uma vida inútil e ociosa, de exacerbada contemplação.
Sobre o Voto de Silêncio é outro exagero de reclusão que nos priva das oportunidades de fazer o bem. Muitas vezes o silêncio é necessário, é caridoso, assim como a reclusão é produtiva para certos tipos de trabalho.
“(...)Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que concedeu. Entretanto, o silêncio é útil porque, no silêncio, te concentras, e teu espírito torna-se mais livre e pode, então, entrar em comunicação conosco. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os que olham suas privações voluntárias como atos de virtude, têm uma boa intenção; mas eles se enganam, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras Leis de Deus.
O voto de silêncio absoluto, da mesma forma que o voto de isolamento, priva o homem das relações sociais que podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir a Lei de Progresso.”18
Equilíbrio.

Fobia Social

A fobia social surge de diversos fatores de desajuste com o meio em que vivemos, mas provém, em primeiro lugar, da desarmonia íntima que mantemos em nós mesmos.
O desajuste pode surgir por deformidades de nascimento ou adquiridas, pela reiterada inadequação do indivíduo aos padrões sociais ou em sentido oposto, pelo seu excessivo e irrefletido assentimento às regras. Porém, “a evolução requer da criatura a necessária dominação sobre o meio em que nasceu.”19
A frustração de expectativas quanto ao entendimento das imagens culturais construídas pode gerar depressão. O medo exagerado em não atender estas expectativas, de não agradar aos outros, pode, simplificadamente, redundar em processos de timidez.
A anulação da própria personalidade acompanhado do complexo de inferioridade pode gerar um quadro de imitação daquilo que julgamos ideal. Então, quando descobrimos que ainda assim somos desprezados(é impossível agradar a todos), temos aversão não só a nós mesmos, como também aos outros.
O complexo de superioridade configura-se como outra modalidade de fobia social: quem se julga melhor que os outros não consegue manter relações saudáveis de reciprocidade. Quer tudo para si, e acaba afastando as pessoas.
A questão das deformidades físicas vai ao encontro de uma concepção materialista de nossa sociedade, na qual prepondera o poder econômico sobre todos os outros tipos de poder, valorizando sobremaneira as aptidões físicas e mentais dos trabalhadores pertencentes a população economicamente ativa. Nesse bolo figuram como “vagabundos” donas de casa, estudantes, aposentados, deficientes físicos e mentais, velhos, loucos e presidiários. O utilitarismo econômico domina a concepção de trabalho e neste sentido, há uma constante exclusão de seres considerados incapazes de alguma maneira. Neste ponto podemos perceber um outro aspecto já abordado anteriormente. Temos uma lógica de exclusão do Outro, do diferentes, e estes marginalizados representam os preconceitos internos a nossa própria sociedade. A questão é que, mesmo este enorme contingente de pessoas possui o preconceito arraigado contra si mesma. E antes de qualquer luta ou movimento que lhes dê a dignidade merecida, é preciso superar este obstáculo: o de serem vítimas ou coitadinhos eternos. Pois, em última instância, ninguém é vítima, a não ser das próprias escolhas e vibrações.
Contudo, aversão ao convívio, ao contato, ocorre justamente pela nossa permanência neste estado de desequilíbrio em que nos revoltamos contra as provações que a vida nos oferece para o necessário aprendizado de lições imortais. Os outros nos excluem mas nós também nos excluímos ao atribuirmos a diferença que nos distingue uma relevância maior do que ela realmente possui. Quando passamos a diferença existente no plano físico para o plano da alma.
Porém, um maneta não é menos gente que o indivíduo dotado de todos os membros da espécie. E, sabemos que, como espíritos, temos, além de diversas potencialidades latentes, talentos adormecidos pela materialidade, pelos objetivos de progresso da encarnação atual, que, em suma, somos essência divina. Logo, irmãos. É difícil transferir o raciocínio e a compreensão para esta esfera porque o que nos impressiona de imediato aos sentidos é a condição material em que nos encontramos. Mas a esta realidade contrapõe-se a efemeridade da vida corporal.
O Estigma não é somente físico ou psicológico, pode ser também moral. Como os homossexuais ou as prostitutas. O Estigma é uma marca negativa da sociedade sobre o indivíduo colocando-o num status de inferioridade. Refere-se a determinados tipos de desventura social que classifica os menos felizes. Como o eram os escravos ou como são hoje os pobres. Ou seja, muita gente mesmo.
A origem do termo ESTIGMA vem dos gregos que “criaram o termo para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem o apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um criminoso ou traidor- uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos.”20
O caráter do estigma é retrospectivo e pressupõe uma identidade social virtual que pode ser bastante divergente da identidade social real que é o que a pessoa prova ser. As aparências enganam.
“NORMA, s.f. Regra; modelo; preceito; lei; escumilha(planta); (Estat.) o mesmo que moda; (Jur.) – cogente: disposição legal que não pode ser modificada pela vontade particular; - não-cogente: é o que dá liberdade à vontade particular, facultando-lhe a prática de determinado ato.”21

O estigma é conseqüência da idéia do que é normal ou aceitável. Mais uma prova de que no Estado de Natureza * ninguém se sustentaria por muito tempo. Esta hipótese configura a imprevisibilidade total das ações do outro.

Vida Social dos Desencarnados

“Imagine que você está nu, no meio de uma multidão de pessoas. Sentindo-se muito envergonhado. Porque, desde pequenino cobriram você com roupas e te ensinaram a estar vestido perante os outros. Também porque estão vendo em você todos os defeitos do seu corpo, que assim são considerados por contradizerem a estética vigente.
Agora, imagine-se desencarnado, despido do corpo carnal. Você se envergonha, neste momento, não por convenções e mazelas físicas passageiras e fúteis, mas por seus defeitos estampados e evidentes por todo seu corpo perispiritual. O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a inveja, a cupidez, a maledicência, podem obscurecer e pesar como chumbo que arrastamos com dificuldade na trilha de elevação . É com seus defeitos, seus erros, toda sua vida escrita para qualquer um que possa e queira ler. Você não pode mais se esconder através de máscaras externas, nem diante do tribunal da própria consciência. Você soube discernir, mas não soube escolher.
Considere-se então, nu. Veja-se, compreenda-se, arrependa-se, perdoe-se, estabeleça e pratique metas de acerto, pois, a ti será dado de acordo com suas obras.”
No plano espiritual como aqui, nos unimos aos grupos afins, consciente ou inconscientemente. É por isso que no umbral há vários tipos de região para os seres com determinados tipos de sofrimento e nos planos de trabalho próximos a crosta ou mais elevados, temos as cidades ou colônias espirituais que se especializam em múltiplas áreas de auxílio a encarnados e desencarnados.
André Luíz relata em suas obras importantes estruturas organizacionais do plano espiritual, especialmente no que concerne a moradia, alimentação e ocupações específicas, além de outros fenômenos alheios ao conhecimento terreno.
Os planos superiores se relacionam com os inferiores através do merecimento de alguns cuja ascendência é temporária ou permanente, pelo pensamento e pela materialização dos espíritos superiores nos planos inferiores, através da mediunidade, que, em verdade, sempre ocorre quando há intercâmbio entre um plano mais denso e outro menos grosseiro. Os desencarnados reúnem-se nas atividades que estão de acordo com o seu conhecimento e merecimento, porém, todas elas representam bênçãos na seara do bem. Em Nosso Lar há escolas, hospitais, casas, jardins de rara beleza, como nos relata André Luíz em livro de mesmo nome.
Há família de entes reunidos pela verdadeira afeição, namoro, noivado, casamento. Há reuniões de confraternização, congressos de estudos e espiritualização. No caso de Nosso Lar tivemos notícia de um governo organizado em ministérios como o da Regeneração, do Esclarecimento ou da União Divina. Também existem crianças no plano espiritual pois não é todo espírito que consegue dominar-se a si mesmo com rapidez assim que chega ao plano espiritual, readquirindo a maturidade da forma e da consciência.

Não pensem que no umbral não tem organização! Muitos espíritos equivocados utilizam a inteligência desenvolvida para tiranizar os irmãos mais fracos em tramas obsessivas que atingem a crosta e atuam com verdadeiras hordas invisíveis. Há um caso em que quase uma centena de entidades se revezavam na perturbação de uma mulher encarnada a serviço da vingança de uma só.
Dizem que as coisas que aqui temos são a versão grotesca do plano espiritual eterizado. O que existe no umbral deve ser a caricatura mais vulgar e deprimente de tudo o que temos de mais triste e cruel. Enfermidade, corrupção, bandidagem, deformidades inimagináveis, sujeira, odores fétidos, escuridão, perseguição, tortura, prisão, sensualismo, etc.
Enquanto no plano espiritual mais elevado estão todos próximos pelo ideal da felicidade, do amor, nas faixas inferiores todos torturam-se mutuamente para que possam despertar para a realidade maior.

Problemas Sociais: violência, criminalidade, menores de rua e pobreza

Como diz o Evangelho Segundo o Espiritismo, a Terra é um hospital, um subúrbio, uma penitenciária, região insalubre no espaço, destinada ao exílio dos espíritos rebeldes ás Leis de Deus. A humanidade terrestre é apenas uma parte ínfima da humanidade universal dos princípios inteligentes que habitam todos os planetas que gravitam no universo. Possuímos diversas enfermidades morais adquiridas na violação do próximo e de nós mesmos.
Esta é a explicação mais simples para dizer o porque de todos os problemas sociais. Entretanto, podemos adentrar na delicada questão do desenvolvimento individual:
Anomia* Heteronomia* Autonomia*
a: negação, nomia: regra, lei- crise de valores da atualidade. O indivíduo anômico não respeita a lei, as regras, ou qualquer tipo de autoridade. É agressivo, anti-social, desequilibrado e egoísta. A lei vem de fora, da coerção externa. O indivíduo neste estado respeita as regras ou as leis por medo das possíveis punições, mas, assim que se vê livre, não hesita em transgredi-las. É covarde, individualista e delator. Capacidade de governar a si mesmo. O indivíduo autônomo interiorizou os valores éticos e morais de forma a captar deles sua necessidade e importância. É disciplinado e na ausência de autoridade permanece o mesmo. É responsável, flexível, dotado de um discernimento que o torna consciente de suas decisões.

Estas etapas evidenciam não só uma classificação geral do estado moral mas também três momentos pelos quais passamos ao empreendermos nossa reforma-íntima. A etapa(1) de quando agimos na inconsciência e na ignorância de determinado aspecto obscuro de nossa personalidade que nos leva ao desequilíbrio recorrentemente, a etapa(2) de quando descobrimos nossa falha e estabelecemos propósito de combatê-la, a fase(3) em que nos sentimos tentados a repetir novamente o erro mas lutamos contra esta má tendência que nos faz sofrer, e, finalmente, (4) o momento em que nosso pensamento, palavra e ação estão em harmonia porque já não sentimos mais a mesma dificuldade de antes.
Espíritos aqui reencarnados em muitos casos viemos repetir a lição não superada em vidas passadas. Por isso somos expostos às situações as quais sucumbimos no passado.

Somos atraídos pelas más influências porque buscamo-las anteriormente, afinizamos com elas e a procura ou atração por coisas similares no presente serve ao propósito de que possamos reagir de maneira diferente e vencer. Mas caímos e caímos várias vezes, cometendo os mesmos ou diferentes erros. E isto significa uma caminhada mais lenta, próxima a estagnação ou uma queda maior ainda, complicando os débitos anteriores.
A necessidade vem em forma de pobreza, doença ou abandono para que aprendamos a humildade e a valorização do bem-estar(pensamento por oposição) sem avareza ou dissipação desenfreada nos prazeres carnais, sem o orgulho da posição, do prestígio e do poder. Escolhemos o crime, a violência, porque somos auto-destrutivos, não amamos a nós mesmos e queremos o ganho e o gozo fácil dos bens materiais. Porque somos anômicos.
Fazemos determinadas coisas apenas em grupo porque a solidão oprime. Porque com o outro compartilhamos a culpa caso algo dê errado e somos também mais fortes para enfrentar as adversidades. Fazemos as coisa em grupo porque nos deixamos levar pelas influências, pelas circunstâncias, porque achamos que a maioria está sempre certa e que a aprovação mútua é suficiente para legitimar o ato. Porque não temos nosso próprio posicionamento diante dos fatos e adotamos de pronto o que nos apresentam sem pensar nas conseqüências. É o “efeito boiada” ou “Maria vai com as outras”.
O problema da ação coletiva vai muito além da questão das multidões do crime ou dos grupos cooperativos como o nosso pois envolve certos modo de agir estabelecidos e implícitos na interação social. Agimos em grupo porque aderimos consciente ou inconscientemente uma proposta sabendo porque fazemos ou sem ter noção disto, e mesmo oscilando entre esses extremos de acordo com o desenrolar dos acontecimentos.
O mal da ação coletiva é quando ela atinge grandes proporções de revolta e destruição, ou quando constitui ameaça a própria sociedade. Um exemplo que podemos dar é o crime organizado, que insinua-se como um caso limite entre anomia e heteronomia porque não respeita as leis mas resguarda-se e corrompe a legalidade de modo a não ser punido.
Contudo, que tratamento dar aos criminosos, aos pobres e às crianças abandonadas? Deixar que vivam sua expiação? Digo que não. Não somos juizes autorizados por Deus. Estamos, por assim dizer, no mesmo barco. Senão, pecamos pelo bem que deixamos de fazer. Precisamos combater o crime, não os criminosos, a pobreza, não os pobres, as causas do abandono, não as crianças abandonadas; assim como os médicos combatem as doenças, não os doentes.
Fortalecer as bases da Educação moral e intelectual para todos, para prevenir, reduzindo as chances de que os problemas aconteçam no futuro.
Aos problemas existentes devemos dar bases de solução, não meros paliativos. Para os criminosos separação, de acordo com a gravidade de seus delitos e oportunidades de recuperação através do trabalho, do auxílio ao próximo e da reeducação. Para a pobreza não só o auxílio material imediato mas o aprimoramento interior que permita que cada um seja capaz de abrir os próprios caminhos. Devemos dar o peixe na urgência da fome mas preocupar-mo-nos com o “ensinar a pescar”, que é uma caridade para a dignidade do espírito. Para as crianças a bênção de uma vida familiar pela adoção, e, se não for possível, instituições que as abriguem sem regras repressoras e humilhantes que lhes provoque revolta e baixa auto-estima. Como Pestalozzi, devemos dar às crianças o afeto amigo, mantendo com elas uma relação de confiança e carinho. É importante que trabalhemos pela educação que ensine a pensar(autônoma), não pela educação que ensine a repetir(heterônoma).
Pois em todos estes casos envolve-se a educação e uma relação cordial e simples entre educador e educando. A cooperação entre ambos é imprescindível para o sucesso que resultado aprendizado. O presente é nossa chance preciosa de renovar atitudes através da ação, da vontade que domina os automatismos inferiores que nos vêm à tona.
Neste sentido educar é conduzir o processo evolutivo desenvolvendo potencialidades e aprimorando capacidades.

PASSADO PRESENTE FUTURO
Bagagem anterior Ação/Trabalho Conquistas Novas

Assimilação
ESTRUTURA AÇÃO NOVA ESTRUTURA
ANTERIOR EXPERIÊNCIAS
Acomodação


“O processo de assimilação e acomodação é constante”22
“A cada um segundo suas obras”
E porque a Educação resume a complexidade e o caráter de solução? Porque seus resultados, ainda que de longo prazo, possuem a duração da imortalidade. Porque o mal não é intrínseco ao homem, é a ausência provisória do bem. Rotular as pessoas como vítimas ou algozes é limitar seu campo de percepção aos acontecimentos que os envolve, retirando-lhes e impedindo-lhes de alcançar uma visão mais ampla de sua responsabilidade diante da vida.
É imprescindível ressaltar o caráter de elevação do sofrimento incentivando a auto-educação, não a auto-piedade que nos torna seres parasitários e inertes.

Postura do Jovem Espírita no contexto social moderno

O jovem espírita, mais do que nunca, tem a responsabilidade de ser engajado e ativo em seus compromissos sociais.
O jovem espírita busca compreender e valorizar a vida antes que a dor venha cobrar dele esta postura. Procura adquirir os Caracteres do Homem de Bem23 e seguir pelo amor a construção do futuro, correspondendo a esperança que as gerações passadas depositaram nele.
A especificidade do jovem está em sua energia, que ele deve aproveitar, canalizando-a com disciplina e paciência em direção a obras sólidas e duradouras. Muitas vezes falta ao jovem a seriedade e sobriedade necessários para assumir e enfrentar as conseqüências de seus atos e responsabilidades por achar-se em condição de gozador da vida, mas, “desperdiçar tempo é esbanjar patrimônio divino”24 e todo tempo é hora de progredir. Ao jovem espírita é dada uma visão mais ampla do presente e da vida humana, não sendo permitida a ele a percepção de que a vida é curta, precisa ser aproveitada- a frase merece ser completada no sentido em que geralmente é usada- com irresponsabilidade e dispersão de energia em atividades levianas e demasiado divertimento. Realmente, a vida é curta e precisa ser aproveitada, mas, na concepção do jovem espírita, esta frase se completa assim- com responsabilidade e gasto de energia no resgate de si mesmo e dos outros, na difícil conquista do equilíbrio entre saber e sentir.

Há uma frase que diz: Ah! Se os jovens soubessem... Ah! Se os velhos pudessem... Pedir conselhos aos mais experientes é prova de humildade e prudência. Perseverar no alcance dos objetivos propostos sem dispersar atenção e esforços em múltiplos desejos simultâneos é uma boa dica para que não se perca a nossa vontade no trabalho desorientado e mal feito.
Como fazer ou começar? Pela educação de si mesmo buscando o auto-conhecimento, identificando os problemas do ser para depois buscar soluções. Amando-se, respeitando-se, somente ao desvendar as próprias dores e mazelas poderá compreender o sofrimento dos outros. Somente participando das ações de auxílio ao próximo, disponíveis na cidade, no bairro ou no grupo religioso ao qual pertença, aprenderá a ajudar com sabedoria. Apenas prestando o socorro desinteressado em que a mão direita não sabe o que dá a esquerda, poderá perceber o verdadeiro valor da amizade e dos amigos, cuja conquista só se dá com a doação de si mesmo. Apenas buscando a consciência de seus direitos e deveres civis poderá atuar pela melhoria e implementação das leis já existentes. Da mesma forma que precisamos conhecer nossos problemas íntimos para combatê-los precisamos saber dos mais sutis problemas que atormentam a coletividade para pensarmos seriamente em soluções no âmbito da ação eficaz. Por isso o jovem espírita procura informar-se sobre o que acontece no mundo e não é de forma alguma alienado, ainda que não tenha todas as informações tem a postura de informar-se.
O jovem espírita não é mero receptor dos fatos, seleciona e pensa sobre tudo que é capaz de discernir quando vê, ouve, lê. Ele não apenas crê porque alguém diz, mas sabe porque crê, tem argumentos racionais para justificar suas opiniões, e, para isso, está sempre em busca dos elementos que lhe propiciam tais elementos de fundamentação, aprimorando seus conhecimentos.
O jovem espírita é voluntário, trabalhador, estudioso. É sensato, não ilude-se querendo fazer o mais antes de fazer o menos. Deseja aprender a servir em qualquer tempo e lugar.
Jovem espírita é todo aquele que se agita na dor de saber quem é pela satisfação do que vai ser.
O jovem espírita é como a modernidade, inacabada, imperfeita, sempre querendo superar a si mesma.

Bibliografia:

ARISTÓTELES. Política. Editora Martin Claret. 1ªEdição. São Paulo -S.P, 2002.
CAMARGO, Pedro de. O Mestre na Educação. Editora FEB. 6ªEdição. Rio de Janeiro –R.J, 1997.
ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos.
GIDDENS, Anthony. A Constituição da Sociedade. Editora Martins Fontes
GOFFMAN, Erving. Estigma- Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Editora Guanabara. 4ªEdição.
HOBBES, Thomas. O Leviatã. Coleção Os Pensadores. Nova Cultural.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Instituto de Difusão Espírita. 176ªEdição. Araras- S.P, 1994.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. Coleção Os Pensadores. Nova Cultural.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Estruturas Elementares do Parentesco. Editora Vozes. 2ªEdição.
LÚCIO, Neio- psicografia de Francisco Cândido Xavier. Jesus no Lar. Editora FEB. 28ªEdição. Rio de Janeiro -R.J, 2001.
LUÍZ, André- psicografia de Waldo Vieira. Conduta Espírita. Editora FEB.13ªEdição. Rio de Janeiro- R.J, 1987.
LUÍZ, André- psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Evolução em Dois Mundos.
LUÍZ, André- psicografia de Francisco Cândido Xavier. Nosso Lar.
OLIVEIRA ALVES, Walter. Educação do Espírito. Instituto de Difusão Espírita. 8ªEdição. Araras -S.P, 2001.
REIS, Wanderley Guilherme dos. Em Defesa do “Laissez Faire”(um argumento provisório).
SILVEIRA BUENO, Francisco da. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. FAE. 11ªEdição. Rio de Janeiro -R.J, 1992.

Anexo I

Pensar que o Tabu do Incesto existe porque o casamento consangüíneo gera deformidades é cair no determinismo biológico resultante da transposição do progresso social para o evolucionismo biológico. O Tabu do Incesto não é degenerativo da espécie, é constitutivo da sociedade. Ele existe por causa da Lei de Sociedade, não por causa do princípio da hereditariedade.
Se o Incesto como concebemos fosse realmente degenerativo e levasse-nos a extinção, seria impedido pelo instinto de conservação. Dois irmãos consangüíneos, ignorando serem filhos dos mesmos pais, repeliriam-se imediatamente, num impulso automático e jamais se envolveriam sexualmente. Mas não é bem isso que acontece. Lembra de Os Maias, de Eça de Queiroz?
Outra coisa: se a sociedade fosse essencialmente endogâmica por muito tempo, isto geraria um pico de anomalias, mas com uma subsequente fase de estabilização, com predomínio de seres normais. Ou seja, estatisticamente(e friamente), a endogamia geraria menos aberrações que a loteria exogâmica, com a desvantagem de que seria reduzida a variabilidade genética, diminuindo o ritmo do progresso.*
Aliás, esta “descoberta” teve data marcada para acontecer. O que você acha que aconteceu com as sociedades milenares que praticaram a endogamia na concepção moderna por todo esse tempo? Estão extintos? Que nada! Estão bem vivos, e, o mais importante, com saúde.
O que importa no Incesto não é o resultado, mas o ato em si, que consiste no consumo individual de um bem social, ou seja, feito para a troca, para o consumo social, não para a contenção. Logo, o Tabu do Incesto é gerador do parentesco(estrutura estruturante, como diria Pierre Bourdieu), do grupo familiar. E, independente da forma pela qual ocorra, relaciona-se com o corpo, mas não está subordinado a ele.
E a família é o núcleo principal da formação humana, é a referência de nossas relações externas com o meio dos outros seres humanos. É alteridade pura. Marca o surgimento da esfera pública, do nós, ultrapassando o eu. É fundadora do Princípio da Reciprocidade e este, por sua vez, é fundador das instituições que nos reúnem sob um núcleo comum acumulador de progresso, que nos permite construir a grandeza espiritual da humanidade sobre o substrato material de suas realizações.
O Tabu do Incesto transcende a interdependência natural, imposta pela cadeia alimentar e gera a interdependência social, construída com base em nossa capacidade co-criadora(ninguém é auto-suficiente como as plantas são autótrofas). Esta, desenvolve-se pelas relações de convivência. Já a natureza, além de nos fornecer os elementos físicos de manifestação sobre os quais organizamos criativamente a sociedade, é modificada pela cultura através das alterações fenotípicas incorporadas somente à posteriori na espécie, quando reencarnamos e trazemos impressos no perispírito a herança adquirida na vida anterior, interagindo com a herança genética dos pais atuais através dos elementos combinatórios dos cromossomos. Este o elo perdido na relação entre natureza e cultura, que é também uma relação mútua, recíproca.
Se o espírito antecede a matéria seu comportamento não pode ser determinado pelo instinto. O comportamento é de ordem moral. Vemos hoje em dia que o instinto domina em muitos aspectos, principalmente nos quesitos alimentação e sexualidade, porém, não de forma exclusivamente automática e sim porque somos apegados às sensações que ele nos proporciona, que são materiais e não estão necessariamente ligadas ao plano dos sentimentos. Mesmo as sensações do instinto, em sociedade, são experimentadas com certas limitações colocadas pela regra, pelo que julgamos normal ou aceitável. A concepção de desvio, de anomia, vem disso.
Não podemos conceber o preto sem sabermos do branco. O pensamento por oposição é mais uma característica humana. Para valorizarmos o bem, precisamos muitas vezes sofrer o mal.
Anexo II

1- Definição de Sociedade

2- O homem como ser social + Indivíduo e Sociedade + Necessidade da Vida Social:

Ø Pessoa/ Indivíduo- invenção da modernidade;
Ø Divisão do trabalho e interdependência social- Wanderley Guilherme;
Ø Metáfora aristotélica: a pedra e a casa:
“(...) Aristóteles certa vez apontou um exemplo singelo: a relação nos proporciona um modelo simples para mostrar como a junção de muitos elementos individuais forma uma unidade cuja estrutura não pode ser inferida de seus componentes isolados.”
Ø Estrutura Social e ciclo de reprodução;
Ø Tabu do Incesto e Princípio da Reciprocidade:
“Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no Homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade. E que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular.”
Exemplos: Festas, comida, presentes, Kula, Potlatch, aliança, troca, casamento.

3- Civilização e progresso social:

Ø O mito do progresso linear:
· Contínuo e linear;
· Evolucionismo social X Evolucionismo biológico.
Ø Diversidade das culturas:
“Operam simultaneamente, nas sociedades humanas, forças que atuam em direções opostas, umas tendendo para a manutenção e mesmo para a acentuação dos particularismos, outras agindo no sentido da convergência e da afinidade.”
· Problema da Igualdade- declaração universal.
Ø Etnocentrismo:
“Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens ou bárbaros’ dos seus representantes, mais não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie.”
· Analogia com a física.
Ø História acumulativa X História Estacionária:
· A posta conjunta e dom da síntese.

4- Expiações Coletivas:

Ø Por que ocorrem;
Ø Qual o mecanismo de progresso e misericórdia empregado;
Ø Alguns tipos e exemplos.
5- Fobia Social:

Ø Socialização primária deficiente;
Ø Desequilíbrios psicológicos:
· Complexos(inferioridade e superioridade);
· Inadequação;
· Adequação excessiva.
Ø Estigma: preconceitos e deformidades físicas:
· Físico, psicológico e moral;
· Natureza espiritual do estigma.
Ø O normal ou aceitável.

6- Vida Social dos Desencarnados:

Ø Meditação;
Ø Planos de afins:
· Planos elevados e inferiores: organização e práticas sociais.
Ø Mediunidade.

7- Problemas Sociais: violência, criminalidade, menores de rua e pobreza:

Ø Planeta de Provas e Expiações;
Ø Importância da experiências;
Ø Especificidade das provas reencarnatórias;
Ø “Diga- me com quem andas e eu te direi quem és”:
· Problema da ação coletiva.
Ø Tratamento aos pobres, crianças e criminosos:
· Educação do Espírito.
Ø Aprendizado:
· Autonomia/ heteronomia/autonomia;
· Vítimas e algozes;
PASSADO PRESENTE FUTURO
Bagagem anterior Ação/Trabalho Conquistas Novas

Assimilação
ESTRUTURA AÇÃO NOVA ESTRUTURA
ANTERIOR EXPERIÊNCIAS
Acomodação


8- Postura do jovem espírita no contexto social moderno:

Ø O caminho reto por opção;
Ø Caracteres do Homem de Bem- E.S.E, P.221;
Ø Especificidade do jovem;
Ø Equívocos mais comuns;
Ø Mais alguns conselhos:
· Conduta Espírita, cap.2.
Ø Senso crítico e cidadania:
· Participação e perseverança.

Fé e posicionamento religioso

COJEREME
Confraternização de jovens espíritas da região metropolitana de Belo Horizonte
CRE 10ª REGIÃO
Conselho regional espírita
Tema: O Sermão da Montanha
Painel: Fé e posicionamento
Fraternista: Fernanda Flávia Martins Ferreira
Carnaval de 2004
Folha resumo

1) Política- entendemos política em sua definição ampla, toda relação é uma relação de poder, embora tenha que ser reconhecido que a temática do poder não esgota a complexidade das relações sociais.
1.1 Poder- o poder, no dicionário de sociologia consultado, possui várias definições que não excluem umas às outras na explicação do fenômeno, ainda que baseiem-se em discordâncias entre si: definição weberiana, feminista, funcionalista e acrescentamos a definição eliasiana. A primeira é o poder em posição social que confere capacidade de controle de pessoas, recursos e/ou eventos, independente de oposição, obstáculo ou resistência –é o poder sobre, o potencial antagônico e conflituoso do poder. A Segunda é o poder de, capacidade de agir em cooperação, ou seja, não é pautado na hierarquia e na subordinação mas na capacidade de realização. A terceira, é o potencial dos sistemas sociais de organizar pessoas e recursos coordenando-os em atividades para atingir metas. A quarta, é uma definição relacional, o poder não é uma coisa possuída, depende da posição ocupada em relação aos demais atores envolvidos, como um jogo de equilíbrio em que pode haver maior ou menor concentração de poder na distribuição do mesmo ou configuração do jogo, sendo este tenso, sempre sujeito a mudanças mais ou menos profundas das posições e das classes, pessoas ou grupos dominantes. O poder é consentido e estabelecido formal (explícito em estatutos, leis, cargos) ou informalmente (de maneira implícita, em conformidade com valores compartilhados), na dinâmica social das rotinas e convivência. Há também o poder pessoal, de menor importância sociológica mas expresso no conceito de carisma (Weber), é institucionalmente frágil e pode gerar despotismo, autoritarismo. Por outro lado, pode ser também uma liderança responsável e democrática.
1.2 Ser manso- participar demanda esforço, custo de tempo e energia. Diferente do conformismo, omissão, preguiça de pensar é não estar o tempo todo em guerra com os outros, estar disposto a convencer e a ser convencido nas discussões. Admitir existência dos conflitos e procurar resolvê-los.
2) Posicionamento e equilíbrio- entre calar-se e ser inflexível em seus pontos de vista. Seja o teu falar sim sim, não não é uma recomendação que nos conduz a interpretação de que é preciso definir-se, posicionar-se, decidir-se, ainda que pela dúvida, pela inação, seguindo, opinando ou argumentando, porém, que tenhamos consciência de nossas atitudes pois deixar de fazer, de falar ou de refletir possui igualmente conseqüências para o grupo, logo, políticas. Freqüentemente, até quando não concordamos com determinada medida, aceitamos efetivá-la pela regra da maioria. Participamos da decisão e somos responsáveis tanto quanto os outros. Daí a relevância da união ou da consciência coletiva que ultrapassa concepções e desejos pessoais. Entretanto, o grupo é, simultaneamente um reflexo de nós mesmos, individualmente, constitui uma identidade. No trabalho voluntário buscamos contribuir não só com o nosso trabalho, mas com as nossas idéias, por isso precisamos de liberdade para expressá-las e ter oportunidade de concretizar algumas delas, sem o que, deixamos de fazer parte ou pela frustração ou pelo afastamento das crenças e/ou práticas que o grupo conserva. Se não nos posicionamos, não nos informamos, terminamos alienados dos processos decisórios, deixamos que os outros façam por nós o que é nosso dever pessoal perante a própria conduta no meio social, somos o famoso “maria vai com as outras”.
2.1 O que é democracia?- (démos- povo, Kratos- poder), governo do povo. Democracia não é sinônimo de voto, este é um de seus aspectos. Democracia é elegibilidade, poder de agenda, controle dos governantes pelos governados e certa dose de confiança, manutenção da participação popular no período entre eleições, representação (de interesses do povo ou não...), delegação, liberdade de expressão, de ir e vir, de gosto e ocupação, direito à vida, a propriedade, assumindo qualquer tipo de conseqüência que puder ou efetuar-se para si ou para os outros, sem prejuízo de qualquer tipo para os semelhantes. Igualdade (perante a lei, perante Deus, a sociedade?) e fraternidade –princípios tão revolucionários que não conseguimos realizar desde a Revolução Francesa. A democracia se define antes pelos seus princípios que pelos seus procedimentos, pois, para que eles resultem no que ela preconiza, é necessário que as pessoas tenham valores democráticos. Flexibilidade, respeito, apreço pelo bem comum, comunicação, esforço de entendimento, conciliação, negociação e atenção para os objetivos da ação política.
2.2 Entendemos a crítica aqui como senso, um exercício de reflexão. Na balança estão o poder e o despoder, pois nenhum dos dois é intrinsecamente benéfico ou maléfico. Em um equilíbrio ambos coexistem, localizam-se entre a legitimidade e a contestação, crer mas saber porque crê, obedecer regras, mas perguntar-se porque obedece, estar aberto a novas possibilidades, ir ao ponto de cogitá-las, aprender e desaprender. Muitas lições que aprendemos ou práticas com as quais nos acostumamos são boas, mas não eternamente ou impassíveis de melhoria. Nem sempre o que não é plausível hoje, continuará na mesma condição amanhã, as condições para que algo aconteça podem ser intencionalmente criadas, como preparação, sem isso não haveria qualquer tipo de transformação social. Os resultados nunca são certos, podemos ter apenas alguma previsibilidade e considerar os riscos de acordo com o que sabemos (o saber é limitado e sujeito a “falhas”). Para ser livre não basta não submeter-se, é preciso não submeter ninguém, por esse motivo a autoridade está irremediavelmente ligada a seus comandados ou aos que a ela estão sujeitos. . Cuidemos para que a crítica, não tome outro significado, aquele negativo, encontrado no dicionário, como a fofoca depreciativa e a acusação. Não escapamos de julgar as pessoas, contudo, é dispensável e perigoso criar rótulos ou condená-las.
3) Dádiva e reciprocidade- como vimos acima elementos supostamente opostos ou contraditórios coexistem na dinâmica social. As relações políticas são recíprocas. A dádiva é o que mais belamente nos faz perceber isso. A dádiva é uma troca que não se esgota em si mesma, impessoal como as trocas mercadológicas. Isto porque fundamentada no princípio da reciprocidade, enunciado nas três revelações, no velho testamento e por Jesus, analisado por diversos cientistas sociais, dentre os quais destacamos o francês Marcel Mauss. A dádiva pode ser tanto igualitária, concedendo-se o que o outro é capaz de retribuir, quando redundar em dominação, com o presente veneno ou a “caridade” humilhante. Oscila entre liberdade e obrigação, interesse e desinteresse, generosidade e cálculo estratégico, apostolado e marketing, promoção e reconhecimento... É o cimento de qualquer sociabilidade, bem de acordo com a preocupação de nosso antropólogo com o que faz sociedade. Amai-vos uns aos outros como eu vos amei e ninguém é tão pobre que não possa dar, nem tão rico que não possa receber, são os preceitos escolhidos como mais adequados para explicá-la em termos cristãos.

Perfeição
Dado Villa Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá


Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatos
Persephone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer da nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.

Bibliografia
Bíblia. Evangelho segundo São Mateus, por Jesus Cristo. Tradução das línguas hebraico e grego. Rio de Janeiro e Estocolmo: Alfalit do Brasil –impresso na Suécia, 2000.
BOURDIEU, Pierre. “A economia dos bens simbólicos”. Em: Razões Práticas. Capítulo 6 da transcrição de dois cursos ministrados no Collège de France, em fevereiro de 1994. Papirus.
CALLIGARIS, Rodolfo. O sermão da montanha. 13ªEd. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
DAHL, Robert. Um prefácio à teoria democrática. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
ELIAS, Norbert. “Introdução: ensaio sobre os estabelecidos e os outsiders”. Em: Os estabelecidos e os outsiders.
EMMANUEL; psicografia Francisco Cândido Xavier. Rumo certo. 6ªEd. Rio de Janeiro: FEB. Lição 27, “Lutas na equipe”, p.99-101.
FERREIRA, Fernanda Flávia Martins Ferreira. Resumo de trechos da obra de John Stuart Mill, ‘sobre a liberdade’. Baseado no texto de Elizabeth Balbachevsky –“Stuart Mill, liberdade e representação”. Em: Francisco Weffort (Org.), “Os Clássicos da Política” (v.2). Junho de 2001.
FORMIGA, Eurícledes. “Quem critica”. Psicografia de Carlos A. Baccelli, em reunião pública do Centro espírita Manoel Filipe, dia 6 de novembro de 2001 –Belo Horizonte, MG. Contribuição do médium. Em: Anuário espírita 2003. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, Ide. P.202-3.
JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
KARDEC, Allan. Evangelho segundo o espiritismo. Trad. Salvador Gentille. 176ªEd. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1994.
QUINTANEIRO, Tânia. Resumo do texto “Modelos de Jogos” de Norbert Elias. Em: Introdução à sociologia. Dezembro de 2003.
SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo: Ática, 1994.
ZALUAR, Alba. “Exclusão e políticas públicas: dilemas teóricos e alternativas políticas”. Em: Revista brasileira de ciências sociais (RBCS), v.12, n°35, outubro de 1997.

Alguns conceitos...

Minicurso ABRAPSO 2005
Relações entre a sociologia e a psicologia social
Professora: Fernanda Flávia Martins Ferreira
Conceitos para dinâmica em grupo


Sociologia –muitas origens têm sido discutidas sobre as origens da palavra “sociologia”, do latim socius (companhia) e do grego ology (estudo de), indica sua natureza como uma disciplina híbrida que nunca poderá aspirar o status de uma ciência social ou um corpo coerente de conhecimento. A disciplina por si mesma tem uma genealogia ambivalente e uma história recente controversa como a mais nova das ciências sociais que se estabeleceu no mundo de língua inglesa. Na Bretanha, por exemplo, isso não aconteceu em larga escala até os anos 1960, quando os departamentos de sociologia foram acusados de provocar a revolta estudantil. A dificuldade de definição do assunto é indicada pela maior facilidade de entrada: nomeadamente, uma referência cruzada com qualquer outra entrada no dicionário, o que inclui teorias e conceitos desde a filosofia até a economia. De todas as ciências sociais a sociologia é a que mais de perto perscruta mudança e conflito numa variedade de fenômenos sociais. A amplitude da disciplina, e a importância dos argumentos que são disputados dentro dela, continuam a torna-la a mais excitante das ciências sociais.
Historicamente, a palavra foi usada pela primeira vez por Auguste Comte, apesar do conceito sobre a natureza da sociedade ser encontrado através da história do pensamento ocidental. Entretanto, não foi até o século XIX, sob impacto da Revolução Industrial e grandes mudanças e conflitos políticos conseqüentes, processo em que vemos a sociedade emergir como objeto direto de estudo. No trabalho de Comte, sociologia é a maior aquisição da ciência, produzindo conhecimento de leis sociais equivalentes ao conhecimento das leis da natureza.Nós poderíamos então determinar, de uma vez por todas, qual tipo de mudanças sociais são possíveis e então aliviar o caos político que se seguiu à Revolução Francesa. Isto é freqüentemente interpretado como uma reação profundamente conservadora ao otimismo liberal do Iluminismo: contra noções de liberdade individual e progresso social ilimitado, a sociologia afirma a importância da comunidade, e as comparativamente limitadas possibilidades existentes para a mudança social. Similarmente, em seu livro “A tradição sociológica” (1967), Robert Nisbet argumenta que a sociologia clássica reflete uma generalizada hostilidade pelas revoluções industrial e política daquele período. Já os Marxistas consideram-na uma disciplina claramente burguesa, desenvolvida durante o século XIX como réplica e alternativa ao crescimento do materialismo histórico. Ao mesmo tempo, a sociologia tem sido freqüentemente ligada a reformas sociais: até o positivismo de Comte foi importante no crescimento dos movimentos reformista no final do século XIX. Em Talcott Parsons encontramos talvez a explicação alternativa mais clara para a história da sociologia, em “A estrutura da ação social” (1937), na qual a sociologia se livrou de seus limites ideológicos iniciais para constituir-se como ciência no final do séc.XIX e início do séc.XX, com Max Weber e Émile Durkheim. Nenhuma dessas histórias é adequada, como demonstra o recente trabalho de Anthony Giddens, apesar da maioria dos cursos de sociologia continuar apontando Weber e Durkheim (e George Herbert Mead, nos Estados Unidos) na base dos fundamentos teóricos da moderna disciplina.
Em sua forma presente, a sociologia abraça um leque de diferentes visões, todas concernentes ao que uma ciência social deve contemplar e a matéria própria à sociologia em particular. A última proporciona talvez o melhor modo de compreender a disciplina. Há três concepções gerais do objeto de estudo de interesse da sociologia –contudo, não mutuamente exclusivos. Os três definem o estudo da sociedade, mas o que significa sociedade varia em cada caso.
O primeiro estabelece que o principal objeto para a sociologia é a estrutura social no sentido de padrões relacionais cuja existência independe e está acima de indivíduos e grupos, que ocupam posições nesta estrutura em qualquer tempo específico, por exemplo: as posições da família nuclear (mãe, pai, crianças) permanecem iguais de uma geração para outra, de um lugar a outro, independentemente de quem preenche ou não aquelas posições. Há duas versões principais desta abordagem: Marxismo, que conceitualiza as estruturas como modos de produção, e o estrutural funcionalismo parsoniano, o qual identifica sistemas, sub-sistemas e estruturas de papéis1.
Uma segunda perspectiva considera objeto próprio da sociologia algo que denominamos, com Durkheim, de representações coletivas: significados e maneiras de organização cognitiva do mundo cuja existência está acima e ultrapassa os indivíduos nelas socializados.
A linguagem é um caso paradigmático: ela preexiste nosso nascimento, continua após nossa morte, e como indivíduos podemos alterar pouco ou nada de seu conteúdo. Grande parte do trabalho estruturalista e pós-moderno (em particular a análise do discurso) pode ser vista como parte desta tradição.
Finalmente, há aqueles cujo objeto próprio da atenção sociológica é a ação social significativa, no entendimento de Max Weber. Implícita ou explicitamente o pressuposto por trás desta abordagem é a inexistência da sociedade: são meramente indivíduos e grupos entrando em relações sociais uns com os outros. Existem muitos caminhos diferentes em que a interação social pode ser estudada, incluindo as elaborações weberianas com a ação racional e as relações entre crenças e ações; o interacionismo simbólico se refere à produção, manutenção e transformação de significados na interação face a face; e a etnometodologia, estudo da construção social da realidade através das práticas lingüísticas.
Um momento de reflexão confirmará, entre outras coisas, esses três candidatos possíveis para o estudo sociológico quase exauriram o campo do que é provável encontrar durante o curso das relações sociais. Não é surpresa então, que a sociologia às vezes seja vista (pelo menos para os sociólogos) como a rainha das ciências sociais, trazendo e estendendo conhecimentos e descobertas de todas as outras disciplinas (conceitualmente mais restritas). Isto talvez seja menos verdadeiro agora que no período em que ela estava se desenvolvendo rapidamente. A despeito da inevitável especialização entre seus praticantes, há ainda uma tendência totalizante na disciplina, como a leitura do trabalho de Anthony Giddens e Jeffrey Alexander estabelecerá. Ademais, Giddens argumenta que a sociologia surgiu como uma tentativa de dar sentido a profunda transformação social entre sociedades modernas e tradicionais. E o entendimento de como aquela mudança continuaria e ganharia ritmo tornou-se mais importante.
Por esta razão a sociologia é, e provavelmente continuará sendo, duplamente uma disciplina interessante e internamente dividida que atrai um considerável pacote de críticas de quem –por qualquer motivo- é mais resistente à mudança social. Ver também ação social; ordem social, integração social e sistemas de integração.
Ver também entradas individuais sobre sociologia do envelhecimento, do corpo, do consumo, da emoção, da família, sobre a comida, a saúde e a doença, do conhecimento, da lei, do lazer, da educação, da medicina, da raça, da religião, da ciência; e verbetes como desvio, militares e militarismo, teoria da organização, sociologia política, sociologia populacional, sociologia rural, sociologia urbana, bem-estar.

Oxford Dictionary of Sociology. Trad. Fernanda Flávia. New York: Oxford University Press, 1994.

Psicologia –de modo bastante simples, podemos dizer que a psicologia é a ciência da alma ou espírito, do grego psyche (alma) e logos (discurso, ciência). Sócrates (séc. VI a V a.c) preocupou-se com os fenômenos psíquicos, Platão e Aristóteles refletiram sobre o conceito de alma. Para pensadores anteriores era uma chama, força ou movimento, para Platão (séc.V a IV a.c) o conjunto de nossas idéias que desaparece ao morrermos. Já Aristóteles (séc. IV a.c) a considera apenas como princípio da vida que anima o corpo.
Contudo, a definição anterior tornou-se obsoleta, passando pela de faculdades mentais, e, posteriormente como ciência do comportamento, a corrente behaviorista, da época em que desejava se estabelecer como ciência experimental. Esta corrente leva em consideração somente os atos exteriorizáveis e, portanto, observáveis, como atos, palavras e gestos. Não sendo estes suficientes, já que a psicologia abrange comportamentos externos e internos (sentimentos e pensamentos), podemos chamá-la ciência da experiência e do comportamento, na qual experiência designa fatos da vida interior.
O objeto da psicologia compreende os fatos psíquicos afetivos, ativos e intelectivos (tripartição tradicional), divididos em: 1) funções elementares (no nível inconsciente), subdivididas em – 1.1) automatismos afetivos (emoções primárias e tendências), 1.2) automatismos motores (reflexos, instintos, hábitos simples), 1.3) automatismos intelectuais (percepção, imagem, memorização mecânica e atenção espontânea); 2) funções complexas (no nível da consciência), subdivididas em - 2.1) funções afetivas (sentimentos, paixões); 2.2) funções intelectivas (imaginação criadora, memorização lógica, atenção voluntária, pensamento, vontade); 2.3) funções motoras (hábitos complexos e atos voluntários)2.
As discussões anteriores sugerem que o objeto de estudo da psicologia também mudou ao longo do tempo, sendo a classificação acima feita para fins didáticos, pois na realidade, no todo da vida psíquica não é possível separar fatos puramente afetivos, intelectivos ou ativos. Este todo constitui a personalidade, resultado da integração e coordenação das funções e automatismos. A personalidade reflete a organização de disposições psicológicas em termos da estrutura cognitiva, avaliativa, afetiva e comportamental relativamente estável de tendências.
Cada fato psicológico é sempre uma reação global de um organismo complexo a uma situação estimuladora. É o circuito estímulo indivíduo resposta. Os estímulos podem ser internos, como uma lembrança ou externos, como uma agressão ou um grito que nos assusta.
A psicologia, saindo de especulações predominantemente filosóficas subdividiu-se no decorrer de sua história em três ramos principais: 1) psicologia racional (preocupações filosóficas); 2) psicologia experimental (de tipo científico), que se desdobra em: 2.1) psicologia animal -estuda o comportamento animal comparando-o ao comportamento humano, 2.2) psicologia evolutiva -trata do desenvolvimento comportamental humano do nascimento a idade adulta, 2.3) psicologia social -estuda a conduta humana influenciada pelo comportamento de outras pessoas ou grupos sociais, suas pesquisas se ramificam por todos os setores em que isso ocorre;


3) psicologia aplicada: 3.1) psicologia educacional, 3.2) psicologia do trabalho (orientação, seleção e readaptação profissional) incluindo a psicotécnica, 3.3) aplicação de estudos psicológicos, especialmente de psicologia social aos problemas das relações entre as pessoas.
Obs.: Esta lista não pretende esgotar as inúmeras aplicações.

MELLO CARVALHO, Irene. Introdução à psicologia das relações humanas. 9ª Ed. Sintetizado e adaptado. Rio de Janeiro: FGV, 1978.


Psicologia Social - não é possível elaborar uma definição de psicologia social que satisfaça a todos que a cultivam como disciplina, mas a maioria dos especialistas concorda que têm como centro de seus interesses a noção de interação social. O que, como ponto de partida permite-nos dizer que é o estudo do comportamento individual, estruturas psicológicas, ambos como processos de influência mútua dos indivíduos uns sobre os outros, conjugando fatos psíquicos, personalidade e relações interpessoais, o funcionamento dos grupos e outras formas coletivas ou estruturas e processos macrossociais culturalmente definidos. O objeto da psicologia social pode ser resumido da seguinte forma: 1) a análise dos diferentes pontos da conversa durante uma discussão de grupo; 2) a investigação dos fenômenos de opinião (interações entre o indivíduo e o grupo); 3) o estudo dos fatos de cooperação ou de rivalidade entre dois ou vários grupos (interações entre grupos).
O interesse central da psicologia social se parece bastante com a abordagem da sociologia compreensiva de Max Weber, que se preocupa com as intenções dos agentes e entende a sociedade como um conjunto de relações sociais entre indivíduos. Para Weber intenções diferentes podem resultar na mesma ação e intenções iguais podem resultar em ações diferentes.
Existem muitas variações teóricas e metodológicas de acordo com a tradição acadêmica a qual pertence um psicólogo social. Como a psicologia social contemporânea possui ligações tanto com a sociologia quanto com a psicologia podemos delinear o campo em duas abordagens: 1) psicologia social psicológica - diferenciam entre o comportamento individual, as estruturas psicológicas e os processos interpessoais. Seus métodos consistem em experimentos de laboratório, campo e análise de dados amostrais com técnicas quantitativas. A preocupação central desta abordagem é identificar as influências de eventos e situações sociais nos aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais dos indivíduos. 2) Psicologia social sociológica – as distinções nesta abordagem variam de acordo com a ênfase dada nas regularidades do comportamento humano em oposição à criatividade e a aspectos emergentes do comportamento, porém, suas principais subdivisões são: interacionismo simbólico, estudos da personalidade e da estrutura social. Seus métodos giram em torno da pesquisa social através de surveys, entrevistas não-estruturadas, técnicas de observação, pesquisa documental, sendo também usados estudos de campo e laboratório, dependendo do objeto e das circunstâncias do trabalho. O foco central dos psicólogos sociais sociológicos é a causalidade recíproca entre as estruturas psicológicas individuais e as estruturas macrossociais, seus processos, bem como sistemas interpessoais.
A maior parte, senão a totalidade dos construtos sociológicos, depende da compreensão das respostas psicológicas, entretanto, tendem a abstrair, omitir ou ignorar pressupostos desta natureza, sem os quais duas explicações não podem ser generalizadas.

KAPLAN, Howard B. Encyclopedia of Sociology –Social Psychology. 2nd Edition. New York: Macmillan, 2000.

VICTOROFF, David. Dicionário de Psicologia –A Psicologia Social. Trad. Cassiano Reimão, Virgílio Madureira, Maria Luísa Munõz. Lisboa/ São Paulo: Verbo, 1978.